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Tradição de São Cosme e São Damião é mantida em Campos

Crianças e adultos fizeram a festa no Parque Imperial para comemorar o dia dos santos gêmeos

Geral
Por Redação
27 de setembro de 2022 - 9h21
(Fotos: Silvana Rust)

Há 31 anos o dia 27 de setembro é comemorado da mesma forma na casa de Seu Juca: Centenas de saquinhos de doces, que ficam espalhados pela casa toda, muito refrigerante e bolo são distribuídos para comemorar o dia de São Cosme e São Damião, os santos gêmeos.

Reverenciados tanto no catolicismo como na Umbanda e no Candomblé, o dia de Cosme e Damião é um dia festivo para os fiéis e para as crianças, porque nessa data a tradição é a distribuição dos saquinhos de doces. Muitos fazem promessas para doar os doces, pedindo a obtenção de alguma graça, mas há também aqueles que o fazem para manter a tradição. No Parque imperial, há 31 anos a casa de Seu Juca é parada obrigatória de crianças e adultos que fazem questão de manter o hábito de pegar os doces. “Aqui nós damos doces para as crianças de zero a cem anos”, brinca o aposentado, que não faz distinção de idade na distribuição.

Quando Seu Juca começou a distribuição de doces era muito comum ver centenas de crianças nas ruas, com mochilas nas costas a procura das casas onde estavam sendo distribuídos doces, hoje não é tão comum, mas há aquelas pessoas que se esforçam para manter essa tradição, muito difundida no Estado do Rio.

O aposentado conta que quando começou ele arcava sozinho com todo o custo dos doces, ele sempre gostou de distribuir pelo menos mil saquinho. Hoje, ele distribuiu 2.150 saquinhos de doces e conta com a colaboração de muitas pessoas que admiram sua dedicação. “Tenho uma prima que mora fora e há 30 anos custeia os refrigerantes”, conta.

A festa começa às 9h e vai até as 17h, sempre com muita animação e um sorriso no rosto para receber crianças e adultos.

João Paulo, morador do bairro, começou a pegar os doces quando tinha 12 anos e hoje, aos 36 é um dos colaboradores para a farta doação oferecida por Seu Juca. “Eu comecei a vir pegar doce com a minha avó, ela me trazia pra fila, com o passar dos anos eu vinha sozinho e hoje a gente faz questão de ajudar, essa festa pelo seu Juca marcou minha infância e eu acho muito importante manter essa tradição”, disse João.

Gracione Oliveira tem 70 anos, ele faz questão de ir para a fila pegar os doces para as netas, mas também não sai sem comer bolo e levar o próprio saquinho de balas e guloseimas. “Há 30 anos que a gente freqüenta essa festa linda, tradicional aqui no bairro, é uma festa da família, hoje eu fiz questão de vir pegar pras minhas netas, mas também levo o meu pra lembrar a infância”, diz o aposentado.

Seu Juca se emociona ao falar da sua tradicional festa e diz que independente da sua religião, os doces são uma forma de alegrar as pessoas de todas as idades.

Imagem de Cosme e Damião (Foto: Divulgação)

Como começou a tradição de distribuir doces nesta data?
O professor Agnaldo Cuoco Portugal, do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília (UnB), explicou que, na religião católica, Cosme e Damião eram dois irmãos gêmeos, considerados curandeiros (médicos) na comunidade onde viviam.

Para o catolicismo, não havia nenhuma ligação entre os irmãos e as crianças ou a distribuição de doces. Essa prática veio da associação que os escravos fizeram de Cosme e Damião a orixás da umbanda e do candomblé: os Ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã.

O professor explicou que, como havia muita repressão na época da escravidão no Brasil aos cultos africanos, os negros precisavam adorar suas divindades sempre associando a algum santo católico. E foi isso que aconteceu com são Cosme e são Damião.

“Naquela época, os escravos africanos não tinham a possibilidade de cultuar os seus orixás, as suas divindades livremente. Eles tinham que fazer essa associação com alguns santos católicos, pra não serem perseguidos. A tradição de dar doces tem a ver com esses dois orixás crianças que foram associados a Cosme e Damião”, explica o professor.