O escritor e professor Fabio R. Penna recebeu em abril o Prêmio Antônio Candido, concedido pela Seção Brasil da Latin American Studies Association. Sua tese de doutorado foi escolhida como a melhor do ano de 2021. A pesquisa “O pensamento espiral em romances turbilhonares: escritas do grito, identidade encruzilhada e paisagens afrocircinadas” foi destacada entre trabalhos de vários países latino-americanos. Penna tem dois livros publicados. Ele é docente no Instituto Federal Fluminense (IFF), onde ensina e pesquisa Literaturas de Língua Portuguesa e Relações Etnicorraciais.
O prêmio de melhor tese em Ciências Humanas é motivo para comemorar. A solenidade de entrega seria em São Francisco, Estados Unidos, mas, devido à pandemia, foi de forma remota. A Latin American Studies Association (LASA) promove o debate intelectual, a pesquisa e o ensino sobre a América Latina e Caribe e seus povos. Na Seção Brasil, são promovidos estudos de forma interdisciplinar com perspectiva multinacional. Acadêmicos e outros interessados no Brasil compartilham conhecimentos e experiências.
“Além de ser importante para a retomada das memórias longas brasileiras, para instituições de ensino e para minha trajetória acadêmica, a premiação representa uma forma de reconhecimento e valorização da Educação, da Pesquisa e das Artes na luta contra o contínuo projeto de silenciamento, ataque e desmantelamento da Cultura”, diz Fabio R. Penna.
O autor se debruçou sobre a leitura e análise dos romances “Les Fantôme Du Brésil”, de Florent Couao-Zotti, “Pelourinho”, de Tierno Monénembo, e “ Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves. A tese discute o pensamento espiral como proposta de alinhavamento dos rastros da memória longa. Na obra, constam a trajetória da circinação (enrolado em espiral) entre mundos, paisagens afrodiaspóricas e o imaginário da ancestralidade.
“Há uma síntese teórica do fluxo e refluxo pelo comércio escravagista, tráfico negreiro, escravidão, Revolta dos Malês, processos de retorno dos agudás. Possibilita a audição imagética das versões apagadas durante as circulações dos mundos e o entendimento das consequências da escravidão no presente da sociedade brasileira”, explica.
Desde 2016, Fabio R. Penna leciona no IFF em Campos e em Santo Antônio de Pádua. Em 2013, publicou o romance “Confissões descontínuas de uma mente confusa”. Em 2021, lançou “Viagem em transe mítico: mestiçagens, imaginários e reencantamento do mundo”.
“O que mais me atrai na literatura é o seu encantamento em proporcionar múltiplos olhares a mundos constituídos por diversos panoramas. É a sua capacidade de humanizar, apaziguar as angústias e intensificar o sentido da vida”, diz.
Letras, África e Brasil
Fabio R. Penna admira os escritores moçambicanos Mia Couto e Paulina Chiziane; ao angolanos Jose Eduardo Agualusa, Pepetela e Ana Paula Tavares; os nigerianos Chimamanda Ngozi Adichie e Wole Soyinka; o maliano Hampâté Bâ. Destaca ainda autores negros do Brasil.
“É importante que os leitores conheçam e leiam as obras de escritores negros e indígenas brasileiros, como Conceição Evaristo, Nei Lopes, Carolina Maria de Jesus, Ana Maria Gonçalves, Elisa Lucinda, Joel Rufino dos Santos, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara, Ailton Krenak, entre tantos outros. As agendas temáticas de suas obras são fundamentais para o entendimento da contínua construção da identidade brasileira”, afirma.
Para Fabio R. Penna, a produção literária brasileira atual merece ser observada. “A produção literária contemporânea mantém-se profícua e fiel a uma de suas funções: tornar os leitores especialistas em humanidades. Ela continua proporcionando sensações que tornam o mundo real mais aprazível; pleno de sentido, de beleza, de lutas, de reparações, de inclusões, de caminhos de falas e lugares de escutas. Como disse o imortal Gilberto Gil em sua posse na ABL: a aposta da Literatura precisa ser na vida e na alegria”, conclui.