Em outubro, quando uma alternativa às pré-candidaturas de Jair Bolsonaro e Lula da Silva, com vistas à sucessão presidencial, ganhava força, esta página do Terceira Via (fac-simile) advertiu para o contrário, que ‘havia passado do ponto e, depois do fim do ano e do carnaval, o tempo seria curto’.
A política não é uma ciência exata e não raro muda de curso sem aviso-prévio e num piscar de olhos. Contudo, segue uma lógica histórica, cuja observação atenta, após longos anos, permite relativa inferição.
Em outubro do ano passado o tabuleiro político estava frenético. Inúmeros movimentos apontavam que a terceira via com vistas ao pleito presidencial estava garantida e com o pé no 2º turno.
Numa visão contrária à euforia de então, esta página ponderou em direção oposta, observando que a presença de Bolsonaro e Lula no 2º turno era quase irreversível; que o cenário de mera aparência caminhava para não se consolidar e que após o carnaval não haveria mais tempo. Lembrou, também, o óbvio: que naquele momento – um ano antes – as pesquisas de opinião que davam amplo favoritismo ao ex-presidente Lula não determinavam nada. Tanto poderiam se confirmar, como mudar radicalmente. Simples: percentuais de intenção de votos se alteram com 72 horas, o que dizer 12 meses.
Na semana que passou, conforme mostram as reproduções de manchetes da mídia nacional publicadas ao lado, não só a terceira via passou a ter status de inviável, como o favoritismo de Lula em relação a Bolsonaro caiu em levantamentos recentes.
Vale lembrar, tudo é movediço. Até mesmo enquanto este texto está sendo escrito mudanças podem ocorrer. Mas, não é o provável.
Seja como for, o Terceira Via acredita estar cumprindo o que é de sua prerrogativa e consolidando sua condição de verdadeiro órgão da imprensa, cujo propósito é o de prestar o melhor serviço ao público-leitor.
Daí o destaque dado aos temas locais, aos nacionais (como o recente resumo dos dois anos do 1º caso de Covid no Brasil) e internacionais, a exemplo da matéria de página inteira publicada semana passada, repercutindo o assunto mais noticiado e analisado no mundo inteiro dos últimos 15 dias, que foi a invasão da Rússia ao território ucraniano.
A força do pêndulo (I)
A História nos mostra exemplos de movimentos quase cíclicos: quando tende
para um lado com muita intensidade, a “volta” costuma ser proporcional
A guerra deflagrada pela Rússia contra a Ucrânia vai se aproximando de completar três semanas e há que se observar que tanto as veementes sanções econômicas impostas por outros países como os enfáticos protestos de organizações mundiais afligem, mas não encurralam, o presidente Vladimir Putin.
O líder russo de forte inclinação tirânica sabe que ao fim e ao cabo o que importa [para seu país] é ocupar o território vizinho e retomar o status geográfico e econômico vigente nos áureos tempos da União Soviética.
Putin está enfrentando resistência que não contava e dificuldades que não calculava. Possivelmente imaginou que ‘tomaria’ a Ucrânia em poucos dias e não esperava posição tão acirradamente contrária do ocidente.
Mas, por outro lado, sabe que Joe Biden – que sem dó nem piedade tirou as tropas americanas do Afeganistão e deixou o povo nas mãos do Talibã – não vai além das sanções e há de pensar lá com seus botões: o que vão representar as ‘sanções’ daqui a alguns meses, com o território anexado e Moscou mais forte?
O sacrifício que compensa
Por ora, o pior para Vladimir Putin é o preço que o próprio povo russo está pagando pela ambição expansionista. Contudo, pedras no caminho à parte, o presidente russo sabia o que estava fazendo e escolheu o melhor momento, a saber:
1)Europa fragilizada pela pandemia; 2) A aposta que um conflito a nível nuclear estaria (como está) fora de cogitação porque todos perderiam; 3) Deflagrou a guerra quando as reservas do Banco Central russo atingiram mais de US$ 640 bilhões – recorde para o país. 4) E, acima de tudo, o que confirma sua estratégia e merece ser sublinhado: segundo o independente Levada Center, a popularidade de Putin subiu de 61% anteriores, para 69% pós-invasão.
Logo, a quanto não chegará se a ofensiva russa for bem sucedida – como possivelmente será – quando o povo tradicionalmente ‘conquistador’ festejar o fortalecimento da “mãe-Rússia”?
(*) Ao se estender no aspecto da invasão, a matéria não focou, exatamente, no que seria seu alvo: a questão do pêndulo, uma ilustração do lamentável recrudescimento em várias regiões do mundo, a partir de um “politicamente correto” desvirtuado, de patrulhamento e, por isso mesmo, distante de seu conceito. E pior: ele próprio disseminador de intolerância. O assunto-chave será retomado na próxima edição.