Por Mariane Pessanha e Ocinei Trindade
No dia 16 de julho de 1981, foi inaugurada, em Campos dos Goytacazes, a primeira emissora de televisão do interior do Rio de Janeiro, a TV Norte Fluminense, afiliada à Rede Globo. Em uma transmissão ao vivo, participaram da solenidade o fundador da empresa local, o empresário e deputado Alair Ferreira, o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, o presidente da República, João Figueiredo, entre outras autoridades. Da primeira emissora até a mais recente 3ª VIA TV, muita coisa aconteceu em quatro décadas nas comunicações.
O Jornal Terceira Via ouviu alguns dos profissionais que fizeram e fazem televisão na cidade. As entrevistas na íntegra serão publicadas ao longo do mês, como forma de memorial da televisão em Campos. Um dos entrevistados é o jornalista Giannino Sossai, de 76 anos. Ele foi o primeiro diretor de jornalismo da TV Norte Fluminense.
Dois meses e meio antes da inauguração, Giannino foi contratado por Alair Ferreira. “Nunca tinha visto uma emissora de tevê por dentro. Não sabia que assumiria a direção”, recorda. Ele foi a primeira voz a ser transmitida pela TV Norte Fluminense. Narrou ao vivo a solenidade de inauguração.
“Na véspera, procurei saber todos os dados técnicos da emissora. Combinei com o pessoal que faria a narração ao vivo. Não tínhamos contratado nenhum apresentador. Me senti num voo cego. Isto ocorre com qualquer apresentador nos minutos iniciais quando entra no ar. A ficha só caiu depois de terminada a narração. No início, tínhamos um pequeno espaço na programação, por volta das 22h. O primeiro apresentador foi o saudoso José Luís Sodré. O único repórter até então era Luís Claudio Perrout. Acho que tudo valeu a pena nesses 40 anos”, conta.
Escola de repórteres
Durante 40 anos, diversos profissionais apareceram nas telinhas de Campos. A repórter Sueli Freitas foi contratada em 1986. “Foram quase oito anos de trabalho. A primeira função foi no arquivo. Cataloguei toda a história da emissora desde a inauguração. Fui repórter dos principais jornais. A tevê abriu caminhos para novos talentos e profissionais de comunicação. Movimentou a economia e colocou a região em destaque” diz.
O jornalista Aurênio Nascimento também foi destaque por muitos anos. “Eu tenho orgulho de lembrar que participei de um período áureo da televisão em Campos. Nós tínhamos, na década de 1990, sete equipes de jornalismo e seis telejornais. Eram três diários e programas como NF Rural, TV Comunidade. Era muita gente trabalhando junto. Havia dificuldades como os equipamentos pesados que os cinegrafistas carregavam”, diz.
Ricardo André Vasconcelos atuou na TV Norte de 1987 a 1990. “Foi a chamada era de ouro. Ainda não existiam emissoras por assinatura, Internet e parabólicas estavam chegando. A audiência era quase total. O NF TV 2ª Edição ia ao ar depois da novela das 19h e antes do Jornal Nacional. Quando a gente chegava nas cidades, éramos muito bem recebidos. Muitas vezes dávamos autógrafos”, brinca.
A atual gerente de jornalismo da Record TV, Cláudia Eleonora, começou na TVNF, nos anos 1990. “A minha primeira reportagem foi sobre uma instituição que fazia um trabalho incrível para inserir pessoas viciadas em drogas ao mercado de trabalho, uma ação de resgate à dignidade e à cidadania. Sou grata ao apoio que recebi de colegas da redação, cinegrafistas, editores e especialmente da família para o meu crescimento profissional”.
O jornalista Wallace Andrade recorda algumas reportagens que parecem coisas banais atualmente. “Escrevemos lindas páginas nesses 40 anos. Cito a construção da ciclovia da Avenida 28 de Março, o primeiro semáforo em frente ao Campos Shopping, a demorada obra da Universidade Estadual do Norte Fluminense, além de tantas enchentes. Acompanhei a evolução de nossas emissoras. A TV Norte Fluminense, TV Planície e a TV Campos foram nossa faculdade de vida”, considera.
Por vários anos, Viviane de Aquino apresentou telejornais. “Fui âncora do programa NF Comunidade, Bom Dia NF, NF 1ª edição, e de programas de comportamento. O jornalismo sempre exigirá do profissional muito estudo, dedicação, ética, respeito e, sobretudo, trabalho em equipe”, afirma.
Julio Cesar Tinoco foi um dos destaques da emissora que foi vendida para a TV Record. “Foi Luiz Maurício, em 1996, que me tornou repórter. Meses depois, passei a apresentar, ao lado meu amigo e mentor Manoel Peçanha, o Comunidade em Foco. Foi um grande desafio que só se tornou viável graças a ele”, diz.
Cinegrafistas, editores e diretores
O cinegrafista ou repórter cinematográfico André Castheloge é um dos principais nomes da televisão em Campos, ao lado do colega, Osiel Azevedo. Graças a eles e a tantos profissionais da imagem é possível fazer a televisão acontecer.
“Em 1 de Novembro de 1987 comecei na TVNF. Minha saudosa mãe já era funcionária e me incentivou. Continuo na minha missão de captar as melhores imagens. Já são 34 anos de profissão. Passei pela Band e há 24 anos estou na Record TV”.
Atualmente na Intertv Planície, o cinegrafista Osiel Azevedo tem 39 anos de profissão. “Comecei um ano depois da inauguração da TVNF como operador. São milhares de matérias. Uma em Lagoa de Cima, no início da profissão, nunca esqueço. Tivemos que atravessar vários locais com lama e água, carregando equipamentos pesados”, recorda.
Em 1993, Mauricio Nani assumiu a direção de jornalismo e programação da TV Norte. “Uma enorme experiência. Com muita ousadia, mudamos muita coisa para melhor, o que acabou contagiando toda equipe. Renovamos os telejornais dando uma nova dinâmica, formatos, conteúdos. Criamos novos programas”, destaca.
O jornalista Celso Cordeiro Filho também foi um dos editores da extinta emissora. “Formamos novos profissionais ao longo dos anos. A maioria dos jornalistas e radialistas que atuavam em Campos passou pelo Sistema de Comunicação Alair Ferreira”, cita.
Passado e futuro
Parte da história da televisão em Campos foi reunida em livro pelo jornalista Antônio Filho. Em 2015, ele publicou uma obra. Este ano, lança “Telejornalismo Campista – 40 anos de História da TV Aberta, em Campos dos Goytacazes”, pela editora Autografia. “Tive a honra de retratar alguns pontos dessa bonita história. 16 de julho de 1981 foi um marco”, diz.
A história de Campos também passa pela 3ª VIA TV desde que foi inaugurada em 7 de março de 2013. Para jornalista Letícia Nunes, um dos grandes momentos foi a transmissão histórica na apuração das eleições municipais de 2020. “Eu e o jornalista Ocinei Trindade ficamos mais de seis horas numa transmissão ao vivo. Na mesma semana, colocamos no ar o único debate presencial com os candidatos a Prefeitura de Campos. Temos inovado a tevê”, comenta.
Para o diretor-presidente do Grupo IMNE e do Sistema de Comunicação 3ª Via, Herbert Sidney Neves, a televisão mudou nesses 40 anos. “Entendemos que a tecnologia e a Internet trouxeram mais agilidade em transmissão televisiva. Nosso sinal está em 60 cidades, mas também pela web para o mundo todo. Televisão é feita com gente. Servir às pessoas com conteúdo, qualidade e verdade é o que importa”, conclui.
Figura emblemática do Jornalismo de Campos há 40 anos, Aloysio Balbi acabou de estrear na 3ª Via TV, no comando do “Programa do Balbi”. “Perdi a conta das entrevistas que já fiz, porém, entrevistar para a TV é uma novidade tão desafiadora, que recebi isso como um presente que eu achava que faltava no meu currículo.”