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Com crise sanitária fora de controle e recessão à porta, presidente se irrita com o povo

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
8 de março de 2021 - 15h21

Bolsonaro diz que “chega de mimimi” e Guedes cita Venezuela

É cansativo, repetitivo e exaustivo falar sobre Covid, Covid e Covid. Mas será que o é para quem está com o pai, ou a mãe, ou o marido, ou o irmão ou o filho numa UTI entre a vida e a morte? Será um assunto esgotado para as mais de 260 mil famílias que em menos de um ano perderam parentes queridos – pessoas que amavam?  

Evidente que não. Da mesma forma que salta com clareza solar – ir-re-fu-tá-vel – que algo de muito errado, mas muito errado mesmo, acontece com o Brasil no que diz respeito ao combate ao novo coronavírus. Ou, talvez ‘caísse’ melhor dizer ‘falta de combate’.  

Das atitudes, do comportamento e das falas desastrosas de Bolsonaro ao longo da pandemia, não há quem não saiba. Bater na mesma tecla de que o presidente negou a gravidade da doença, chamando-a de “gripezinha”; se opôs às medidas restritivas; foi contra o isolamento; promoveu, ele próprio, aglomerações; e soltou um “E daí?” – insensível e desastroso – diante do número assustador de óbitos… enfim, recordar toda esse passado recente de descaso, não leva a lugar algum, exceto erguer um monumento à inutilidade. 

Por outro lado, pergunta-se: cabe o silêncio? É normal que se dê naturalidade a uma série interminável de erros que cobra em vidas não só os desatinos do Palácio do Planalto, como de governadores que tiram proveito político com a doença? Que se aproveitam do momento de provação para superfaturar contratos, como fez o Rio? E que não buscam obstinadamente encontrar soluções para minorar a transmissão do vírus em seus estados? 

País parece conformar-se com absurdos  que lhe dão traços de republiqueta 

Não é justo colocar toda a catástrofe que tem sido o enfrentamento da crise sanitária brasileira sobre os ombros de Jair Bolsonaro. Mas, convenhamos, o presidente da República é o presidente da República. É o mandatário número 1. Logo, não há como excluí-lo ou diminuir sua responsabilidade nas ações desastrosas ante a pandemia. 

Mas, deixando para trás praticamente todo o arsenal de erros, trapalhadas, populismo e omissões ao longo de 2020, é impossível não enxergar que em meados de dezembro, quando a transmissão do vírus acelerava desabaladamente, projetando os números estarrecedores que estavam por vir – como, de fato, vieram – Bolsonaro disse num pronunciamento no Paraná que “(…) agora que a pandemia está no finalzinho…”.  

Indaga-se: isso é aceitável? Não gera indignação que o presidente diga em público algo totalmente contrário à realidade? O presidente da República dizer a verdade, ou mentir, passou a ser a mesma coisa?  

Episódios como esses são tolerados, com grande desagrado, numa república de bananas. Mas num País da importância do Brasil? 

Recordes de mortes e novas falas assombrosas 

“Chega de frescura,  

de mimimi.  

Vão ficar chorando  

até quando?” 

“Tem idiota [dizendo]  

‘vai comprar vacina’.  

Só se for na  

casa da tua mãe.” 

(JAIR BOLSONARO)

Na última semana de fevereiro (dia 25) o Brasil bateu recorde de mortes em um único dia desde o início da pandemia: 1.541. Mas na semana passada, em dois dias de março, o registro de número de vidas perdidas foi ainda maior: 1.840 no dia 03 e 1.786 dia 04.  

Ora, trata-se de uma tragédia; situação que ultrapassa qualquer limite do que possa ser atribuído como suportável. E o que fez o presidente? Disse,  irritado: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?” 

Em vídeo divulgado por O Globo, Bolsonaro fala em conversa com apoiadores: “Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [dizendo] ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe.”

Penelaços – Semana passada, após o anúncio de novos recordes de mortes, houve panelaços em várias capitais do Brasil e cidades de porte médio em protesto à atuação pífia do Palácio do Planalto no combate ao vírus.  

Com a crise sanitária saindo do controle, a rejeição a Bolsonaro subiu para 40% e a aprovação caiu para 31%. Contudo, é o terço que o presidente necessita para barrar quaisquer pedidos de impeachment. Com 30% de apoiadores ruidosos dispostos a ir às ruas, não há que se falar em afastamento. 

De mais a mais, não é hora de pensar em impeachment. Nem o Brasil suportaria parar novamente. Mas, do jeito que está, com a OMS chegando a dizer que “O Brasil vai seguir afetando outros países se não levar a Covid a sério”, não é possível continuar.  

É inaceitável que tantas coisas juntas, que fogem ao menor sentido de normalidade e coerência, sigam sem que nada seja feito. 

No outro lado da moeda – que a página se limita a citar – o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Brasil pode virar Argentina em 6 meses e Venezuela em 1 ano e meio.  

Convenhamos, Paulo Guedes precisa fazer algo diferente do que dar notícia ruim. Como está, com o Brasil batendo na porta da recessão, é melhor que procure outra coisa pra fazer ou volte para Chicago.