×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Especialistas analisam o porquê de 109.516 pessoas não terem comparecido às urnas no segundo turno

Número representa quase um terço dos eleitores campistas, maior colégio do interior do estado do Rio

Eleições 2020
Por Thiago Gomes
5 de dezembro de 2020 - 13h37

Cabine de votação ficou vazia por muito tempo durante o pleito (Foto: Carlos Grevi)

A pandemia do novo coronavírus não foi o único “ponto fora da curva” nas eleições municipais de 2020. O pleito, que ocorreu após o calendário habitual, justamente por causa da Covid-19, também ficará marcado pelo índice de abstenção acima da média, principalmente, no segundo turno. O país registrou 29,5% de abstenções no dia 29 de novembro, o maior desde 1996, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em Campos, 109.516 eleitores (30,37%) optaram por não comparecer às suas respectivas seções eleitorais, apesar de o voto ser obrigatório no Brasil. Pandemia, facilidade para justificar o voto não dado e até falta de afinidade com os candidatos que disputam o segundo turno, de acordo com especialistas, podem explicar a ausência de quase um terço do eleitorado campista.

Para o cientista político Hamilton Garcia de Lima, entre várias hipóteses que explicam o número expressivo de abstenção, pode ter faltado estímulo para o campista ir às urnas. “No segundo turno, ficamos entre a disputa de duas famílias, dois grupos oligárquicos fortes na cidade e isso pode ter provocado o afastamento dos eleitores cansados ou contrários às práticas políticas dessas oligarquias. O eleitorado, que buscou em outras eleições alternativas radicais, certamente, nessa eleição do segundo turno teve como único estímulo escolher a oligarquia que, eventualmente, na sua opinião, seria a menos pior”, pontuou o cientista político.

Luciane Silva é professora e pesquisadora da Uenf (Foto: Terceira Via)

Já segundo a socióloga Luciane Silva, na busca de explicação para as prováveis causas do índice de abstenção, não cabe falar em desinteresse dos eleitores campistas. A socióloga lembra que, se comparado ao número de faltosos no Brasil, o indicador em Campos não está tão distante. No dia 29 de novembro, houve 29,5% de faltosos no país contra 30,37% no município.

“Apesar da pandemia, os brasileiros foram votar. Inclusive, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, chegou a cogitar 50% de abstenção no país. Então, a ausência do eleitor não pode ser explicada por desinteresse. Trata-se da compreensão de que nenhum dos dois candidatos representava esses eleitores que preferiram a abstenção. Mas isso não é uma alienação política, é uma decisão absolutamente legítima”, pontuou.

Logo no final da votação do segundo turno, o presidente do TSE avaliou o pleito: “Foi um número maior que o desejável. Mas precisamos ter em conta que fizemos as eleições em meio a uma pandemia que consumiu 170 mil vidas, e pessoas com temor deixaram de votar, muitas por medo, outras por estarem com a doença e muitas por estarem com os sintomas”, comentou o ministro Luís Roberto Barroso.

Tiveram ainda aqueles que foram às urnas, mas não escolheram nenhum dos candidatos: 5.419 votaram em branco (2,16%) e outros 14.423, nulo (5,74%).

Hamilton Garcia leciona na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Foto: Reprodução)

Outras questões

Luciane Silva destaca que se comparar o resultado do primeiro turno com o do segundo em Campos, não houve surpresa. “A cidade não teve aquele movimento de ‘virar voto’, que mobiliza muito os eleitores. O que aconteceu foi o anúncio de um resultado já esperado. Acho que a abstenção pode ser explicada, sim, pela pandemia do novo coronavírus e, no caso específico de Campos, passa pela percepção de que se realizaria exatamente aquilo que já era esperado, ou seja, a confirmação do resultado do primeiro turno também no segundo, ponderou.

Hamilton Garcia acrescenta que é irrisório o custo da abstenção. A multa para quem não votou e não justificou está fixada em R$ 3,51. Na análise do cientista político, isso pode ter pesado na hora de decidir votar ou não.

“No caso da justificativa, inclusive, ela ficou bastante facilitada nessa eleição por conta do aplicativo disponibilizado pelo TSE. Um outro fenômeno que pode ajudar a explicar a abstenção é específico dos segundos turnos, devido às opções dos eleitores estarem restritas a apenas dois candidatos: quando não há uma disputa verdadeira, profunda de pontos de vista, isso pode desmobilizar os eleitores”, disse Hamilton.