Residências Terapêuticas integram Programa de Saúde Mental (Fotos: Carlos Grevi)
Pacientes com problemas psíquicos que passaram por um longo período de internação ou tratamento hospitalar, nem sem sempre recebem apoio das famílias. Muitos deles são abandonados após a alta médica e não têm para onde ir. Nos últimos anos, o Ministério da Saúde e o Sistema Único de Saúde se alinham à Reforma Psiquiátrica Brasileira e executam a Política Nacional de Saúde Mental por meio da “Desinstitucionalização da Rede de Atenção Psicossocial”. Uma das medidas é a criação de casas para abrigar esses pacientes. Em Campos, há três casas terapêuticas mantidas pela prefeitura. Uma delas será inaugurada no dia 18.
Elisa Mayerhoffer coordena o programa municipal de Saúde Mental em Campos
De acordo com a coordenadora do programa municipal de Saúde Mental, Elisa Mayerhoffer, o trabalho chamado de “desinstitucionalização” não é apenas “desospitalizar”. Consiste em estratégias para ofertar assistência integral e ampla, que vai da medicação à preservar a liberdade das pessoas. As residências terapêuticas atendem a esta política nacional.
“É uma grande vitória para o nosso município e avanço desta gestão ter reduzido o número de leitos psiquiátricos pela metade, e investir maciçamente nos serviços extra-hospitalares. Ao todo, serão aproximadamente 39 pessoas morando em Residências Terapêuticas este ano. A abertura de mais uma Residência Terapêutica e a possibilidade de tiramos mais pessoas da condição mortificadora de morar num hospital é resultado de todo esse trabalho e investimento numa direção antimanicomial. Reduzimos em cerca de 80% as internações psiquiátricas e, hoje, usamos cerca de 10% dos leitos contratualizados. Além das pessoas que saíram do hospital para essas casas, temos registros de pessoas que retornaram para a convivência familiar após longos anos de internação psiquiátrica”, explica Elisa.
As residências terapêuticas contam com profissionais que acompanham os moradores
Historicamente, Campos dos Goytacazes é um município manicomial. Até bem pouco tempo, dispunha de 240 leitos psiquiátricos conveniados ao SUS, divididos em dois grandes hospitais psiquiátricos. Em 2017, o município tinha mais de 40 pessoas em internações de longa permanência. A proposta de “desinstitucionalização hospitalar” é romper com o modelo manicomial que produz isolamento, violência contra os usuários, falta de direitos civis básicos como a liberdade e o exercício da cidadania. Especialistas admitem que a maioria das pessoas internadas perde sua identidade, seus laços familiares, seu território e até mesmo os seus documentos civis.
As residências terapêuticas coordenadas pelo Caps estão sob a responsabilidade da psicóloga Valeska Prates. “Elas funcionam na Rua Saldanha Marinho, na Rua Jose do Patrocínio, na área central da cidade. A partir do dia 18, teremos uma nova casa na Rua João Alberto, Parque Jardim Carioca, em Guarus. Uma equipe de funcionários acompanha os pacientes residentes. Por lei, as residências terapêuticas podem receber no máximo 10 pessoas”, explica.
Psicóloga Carla Moreira atua no setor
Uma história com final feliz
A psicóloga Carla Moreira integra a equipe de “desinstitucionalização” do Programa de Saúde Mental. Além de acompanhar os pacientes liberados dos hospitais psiquiátricos, ela visita as pessoas nas residências terapêuticas, e busca apoiá-las da melhor maneira possível. Uma forma de ajudar é tentar fazer com que as famílias desses pacientes sejam identificadas, pois muitos perdem o vínculo familiar. Recentemente, ela auxiliou a localização da família de Jubiraci Otacílio dos Santos, na Bahia. Ele ficou perdido em Campos por quase uma década.
“Em 2010, ele foi encontrado em péssimas condições de higiene, sem documentação e sem condições de falar sobre si mesmo. Disse que se chamava Marcos dos Santos. Foi encaminhado para emergência psiquiátrica do município, e depois para o Hospital João Viana. Ele repetia com frequência: “Me leva para casa. Eu moro em Salvador, Bahia. Eu peguei o ônibus errado” conta Carla.
Jubiraci reencontrou a irmã com ajuda da psicóloga Valéria Ramos e de Carla
Em 2018, a psicóloga Valéria Ramos espalhou fotos do rapaz no Facebook para pessoas de Salvador à procura de familiares e amigos. Uma pessoa o reconheceu pela foto e disse que ele estava desaparecido há anos, mas seu nome verdadeiro era Jubiraci Otacilio dos Santos. No dia 30 de agosto, Jubiraci voltou para a casa e reencontrou uma das irmãs. “A mãe dele tinha falecido em 2012. Por anos ela procurou pelo filho, mas não conseguiu. Apesar disso, a família comemorou por Jubiraci estar vivo, pois achavam que ele tinha morrido”, conclui.