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Entrevista com Emilio Martins: o GRV resgatando a solidariedade

Mais um que partiu para uma terceira via criando uma unidade de suporte avançado para prestar socorro

Campos
Por Coluna do Balbi
13 de novembro de 2017 - 0h01

emilio-resgate-entrevistaHumanista, de coração meio campista, meio paulista. Presidente do Grupo de Resgate Voluntário (GRV) por três mandatos, coordenador geral, apaixonado pelo atendimento pré-hospitalar, Emilio Martins é enfermeiro e acredita no serviço voluntário de qualidade. Salvando vidas por onde passa, Emilio afirma nessa entrevista que não existe fronteira para fazer o bem e que já atuou até no estado do Espírito Santo, durante uma enchente catastrófica e se emocionou ao falar de resgate envolvendo crianças. Emilio atua há 20 anos no trabalho voluntário de enfermagem, dez deles no município de Campos dos Goytacazes. Em paralelo ao GRV, ele faz consultoria para empresas na área de enfermagem. Para Emilio, o principal desafio no Grupo de Resgate Voluntário é criar um ambulatório para promover os cuidados da enfermagem, também de forma voluntária e gratuita para os usuários.

Como surgiu a ideia de montar o GRV?
O GRV (Grupo de Resgate Voluntário) foi idealizado em 2011, em vivência aos acidentes da BR-356, região de São João da Barra. Trabalhávamos no porto do Açu e rotineiramente nos deparávamos com acidentes e chegamos à conclusão da necessidade de aumento da força de resgate. Bombeiros e 192 têm recursos ilimitados e operam sempre sobrecarregados. Idealizamos, assim, o projeto da ONG. Atualmente operamos com uma Ambulância Intermediária / Avançada e 35 Profissionais revezando nos plantões na ambulância.

Obviamente vocês formam uma equipe multidisciplinar. Dá para relatar por área?
Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem , Condutores de Veículos de Emergência, Fisioterapeutas, Bombeiros Civis e Psicólogo, Radio Amadores.Essa multidisciplinaridade é importante, pois possibilita de maneira única um atendimento muito mais uniforme, com foco sempre no paciente/vítima.Não medimos esforços para o atendimento ser uma experiência mais positiva, inclusiva e humanizada.

Em quais estradas vocês atuam?
Quando acionados e solicitados, atuamos na BR-101, BR-356, RJ-216 e toda a cidade de Campos dos Goytacazes.Independente de fronteiras, atuamos em 2013 nas cheias do Espírito Santo, com equipe de três profissionais que se uniram a uma força-tarefa e ficamos 15 dias atuando nos resgates e auxílio humanitário. A atuação do GRV se faz presente aonde seja necessária a presença de nossos serviços.

Tem uma ideia de quantas vidas vocês salvaram neste período de existência?
Somente no ano de 2017, de Janeiro a Outubro foram mais de 480 Atendimentos !!! Contabilizando a atuação do GRV desde o início, já ultrapassamos mais de 1000 atendimentos. Os atendimentos variam, entre atendimentos Clínicos, Traumas, Afogamentos, Pacientes com transtornos Mentais, atendimento em eventos beneficentes com serviços de saúde (Teste de Glicemia, Aferição de Pressão Arterial e Informações de Saúde – DST – Hepatite), além de curativos.) Há também dentro da ONG um atendimento dentro dos hospitais , principalmente pediatrias com os Palhaços, nos moldes dos Doutores da Alegria.

Para um trabalho ainda melhor, o que está faltando em termos de infraestrutura?
Falta muito, nos falta um espaço melhor (uma sede), equipamentos de monitorização específicos: Monitor Multiparamétrico Bomba de Infusão, Oxímetro de Pulso, Capacetes de Resgate, Insumos Hospitalares, Fardamento, Coturnos de Resgate, apoio na manutenção da Ambulância, pneus. Não medimos esforços para atuar e ajudar, não recebemos qualquer verba pública, apenas como cooperação técnica, a prefeitura nos ajuda com combustível e alguns insumos.Há projeto de implantar um veículo de intervenção rápido, um carro menor, em que enfermeiro, médico e socorrista , possam chegar antes da ambulância e prover o atendimento, pelo deslocamento mais fácil e com menor custo , conseguiríamos ampliar mais o atendimento, mas nos falta esse apoio, aliás falta muito apoio, hoje fazemos por amor, por acreditar que podemos fazer a diferença.

Outras cidades se inspiraram em vocês?
Sim, os amigos de Barcarena- Pará – GSV – Socorristas Voluntários, temos também grupos de São Paulo, Santa Catarina, todos com grande troca de informações e ações pelas histórias e lutas do GRV.E nós também acabamos nos inspirando em equipes de outras cidade, tal como o GRAU_SP, Corpo de Bombeiros RJ, Corpo de Bombeiros SP, Anjos do Asfalto, Bombeiros Voluntários de Schroeder – SC.

Como é a relação com os grupos similares, como Bombeiros, Resgate da Polícia Rodoviária Federal e outros?
O GRV atua na cidade de Campos e atuou junto a Cidade de São João da Barra, mediante um Termo de Cooperação Técnica, o qual a Secretaria de Saúde nos autoriza a promover em conjunto com as unidades de emergência 192 o trabalho de atendimento pré-hospitalar. A relação com os amigos do 5o GBM, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal, são de cooperação total. Todos temos a mesma meta, SALVAR VIDAS! O GRV, inclusive, faz parte do sistema 192 de Campos, o qual temos a grande honra de participar e partilhar com a equipe do 192 composta de grandes profissionais a nossa luta pela vida.

Neste período qual foi o caso que mais tem emocionou?
É inegável que casos com crianças são realmente os que nos tocam de maneira especial, lembramos que fomos acionados para apoio aos guerreiros do 5oGBM em uma colisão Automóvel x Poste, dia 19/06/2017, quase em frente ao HGG. Havia neste automóvel 3 crianças , o Socorro do 5oGBM a caminho e pela nossa proximidade, fomos a primeira equipe a chegar. No momento em que chegamos a porta da viatura foi aberta e imediatamente populares nos entregaram as 3 crianças feridas. Enquanto aguardávamos as viaturas do 5o GBM, imediatamente começamos os procedimentos de imobilização, triagem e cuidados, em poucos minutos com apoio das outras guarnições, dividimos as crianças , uma em cada ambulância, e ficamos com a menor, de aproximadamente 4 anos. Assustada, com importantes ferimentos, foi acolhida, cuidada e transportada para o HFM. Dias depois, a mãe a trouxe para retirar cópia da ocorrência e dar um abraço na equipe.

A chegada do verão, logicamente, preocupa. O que pesa mais: a imprudência, o excesso de velocidade ou o uso de álcool?
O que mais pesa, evidentemente é a FALTA DE EDUCAÇÃO ! Quando se tem consciência da responsabilidade dos atos para consigo mesmo e para os outros, tudo se torna mais claro e menos acidentes ocorreriam. Se a rodovia diz que pode andar a 110KM, não significa que você vai andar a esta velocidade, afinal , como estão seus pneus? Os faróis? Os freios? O motor? Bebida e direção então são completamente divergentes, não combinam e não toleram viver juntos. Use o Taxi, Uber, Motorista Amigo, mas beber e dirigir é realmente um crime.Nos preocupa imensamente a junção desta tríade, FALTA DE EDUCAÇÃO + EXCESSO DE VELOCIDADE + USO DE ALCOOL .

Hoje com algumas estradas ficando piores e os carros mais velozes a tendência é um aumento de acidentes?
Em números de 2015 os Estados Unidos tiveram no país todo um total de 40 mil mortes. Já no mesmo ano, em 2015 o Brasil teve segundo o DATASUS um total de 37.306 mortes. É um número menor que os Estados Unidos, e dentro do patamar de 2007 que teve um total de mortos em 37.407, mas em número de feridos o alarmante número de 204.000 feridos hospitalizados em 2015 e o Seguro DPVAT em 2015, 42.500 indenizações por morte e 515.750 por invalidez. Houve então uma redução do número de acidentes fatais, mas disparando o número de internações de feridos pelos acidentes. É uma situação grave, pois além das indenizações pelo DPVAT, onera de forma absurda o sistema de saúde nacional. É preciso investir muito na EDUCAÇÃO , só desta maneira conseguiremos reverter este cenário tão preocupante e reduzir acidentes, situação da via ruim representa menos de 10% deste universo.