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Entrevista com Renato Abreu: muito além de uma fortuna

Ele saiu da cidade de São Fidélis, formou-se em engenharia civil e criou um dos maiores grupos empresariais do país

Campos
Por Redação
23 de abril de 2018 - 0h01

Photo Debora 70

Ele saiu de sua eterna São Fidélis para cursar engenharia civil na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Formado, foi trabalhar na multinacional GE onde conheceu sua alma gêmea no universo empresarial, o saudoso também engenheiro Mário Aurélio Cunha Pinto. Juntos criaram o Grupo MPE Engenharia e Soluções, sempre pontuado como um dos maiores grupos empresariais do país. Certa vez, saindo da sede do Grupo, no Rio e retornando para sua casa, pegou um táxi. Na conversa com o taxista, descobriu que o rapaz se desdobrava para pagar o curso de medicina que fazia. Renato mandou desligar o taxímetro e disse que a corrida do futuro do rapaz seria por sua conta e pagou todo o curso. Fez isso com muitos outros. É o empresário fluminense que mais investe em cultura, desde música até literatura. Falar do seu sucesso empresarial é como andar em círculos, em ciclos e em linha reta. Seu Grupo está completando 30 anos e hoje, além da engenharia e soluções, investe em agronegócio, como por exemplo, a usina Sapucaia em Campos em parceria com a Coagro. Homem de um único casamento – trocou aliança com dona Lurdinha há mil luas- Renato é cartesiano, um fidelense cascudo como se diz na gíria. Mas por trás desta casca, existe um homem de grande sensibilidade e de uma sabedoria invejável.

O Grupo MPE do qual o senhor foi fundador, presidente e hoje preside o Conselho, está completando 30 anos com a máxima de “Uma história do Brasil e do Grupo”. É possível resumir a história de três décadas do Grupo MPE?

Nós temos uma história muito rica, com a participação de pessoas importantes ao longo desses 30 anos. No fim de 1987 depois de dois Planos Cruzados do governo Sarney, tínhamos uma inflação na casa de 1.000 % ao ano e, mesmo assim, tomamos o risco de negociarmos a compra do departamento de serviços da GE Brasil. Foi uma operação conhecida como “ Manager By Out”. E assumimos a operação em janeiro de 1988. Tínhamos mais de 100 engenheiros, 1.500 funcionários e recebemos todos os ativos e passivos.

Cruzamos grandes momentos econômicos numa história que se confunde com o Brasil. Planos Bresser, Verão, Collor 1 e 2   finalmente chegamos ao Plano Real. Isso me faz lembrar uma máxima do Tom Jobim quando disse que o Brasil não era para amadores. Diversificamos e Investimos não só no crescimento da engenharia, mas também no agronegócio. Graças ao esforço de uma equipe forte crescemos e nos colocamos como um dos maiores grupos de engenharia do Brasil. E aqui, me permita um parêntese, para prestar uma homenagem especial a um querido amigo que perdemos em 2010, o nosso Mário Aurélio da Cunha Pinto, que teve uma grande importância para o sucesso de obtivemos.

O importante para o nosso grupo não é só contar os momentos de vitórias e de crescimento, mas também levar em consideração as vezes que perdemos. Perdemos, mas aprendemos com as derrotas, felizmente foram poucas, mas que nos fizeram refletir e sermos mais fortes. Hoje o país passa por uma nova tormenta, saindo dela, esperamos. Precisamos retomar o crescimento, investir em nossa infraestrutura para conseguirmos ser sustentáveis. Fazer um país para os nossos filhos e netos, com segurança e prosperidade.

Salve engano o Grupo antes se apresentava como “Engenharia e Soluções”, e agora incluiu fortemente o agronegócio em seu portfólio de negócios. O agronegócio está neste momento realmente salvando a economia brasileira?

Por si só a engenharia tem soluções. São motes motivacionais que usamos para que as pessoas entendam com maior facilidade o que objetivamos. É, na verdade, uma herança que trouxemos da GE, que foi uma escola para muitos de nós que compomos a direção do grupo. A participação do grupo com o agronegócio é um encontro da minha formação em São Fidélis com as oportunidades que tivemos e aproveitamos. Começamos no Mato Grosso, fomos para a Bahia e no Rio de Janeiro, onde me reencontrei com a minha história. O agronegócio é muito vivo dentro do grupo. E, como você disse, vem mantendo uma forte participação na economia brasileira.

O Grupo já criou suínos no Centro-Norte, tem fazendas marinhas na Bahia, investe em bovinos e agora mergulha fundo na soja. Como é isso?

Bem, como eu disse nós procuramos aproveitar as oportunidades. Nós implantamos a maior e mais moderna suinocultura da Amé- rica Latina no Mato Grosso, também porque produzíamos milho em grandes quantidades por lá. A ideia era transformar proteína vegetal em proteína animal. E foi uma grande experiência. Depois vendemos a nossa participação para a maior produtora de carne de suínos do mundo, que queria entrar no mercado brasileiro.

Ainda somos grandes produtores de camarão. São quatro grandes fazendas no sul da Bahia com grande produção. Estamos nos modernizando trazendo novas técnicas e até consorciando a criação de camarão com a Tilápias. Também temos uma fazenda de criação de Tilápias em Paulo Afonso e estamos fazendo a engorda também em Valença, onde ficam as fazendas de camarão. Posso dizer que é uma experiência pioneira e vitoriosa.

Quanto a soja, na crise de 2008 decidimos fazer uma outra estratégia. Decidimos arrendar as fazendas para terceiros produzir soja, milho e algodão, como fazíamos. Decidimos nos concentrar no Mato Grosso na criação de gado. Temos o Nelore e o Red Angus. Carnes de alta qualidade.

Falando em agronegócios não se pode esquecer o investimento do Grupo MPE em parceria com a COAGRO, que foi colocar a usina Sapucaia para moer. Foi um bom negócio?

Investir na agricultura é uma tradição nossa. E aproveitamos as oportunidades que batem a nossa porta. O norte fluminense tem uma  história com a cana de açúcar e não queríamos deixar que isso morresse de vez. Foi isso que nos motivou a comprar a Usina Sapucaia em 2013. Temos mais de 11 mil hectares para cultivo. Fizemos uma parceria com a COAGRO. Quanto ao plantio de cana, já investimos juntos algo em torno de R$ 50 milhões. Nosso objetivo e gerar empregos com responsabilidade e renda, respeitando o meio ambiente.

O MPE sempre foi muito bem ranqueado como grupo empresarial obtendo posições fantásticas no universo na economia brasileira. Hoje se houve um ranking do agronegócio ele apareceria com destaque?

O ranking é fruto da nossa própria economia. Depende dela. Há pelo menos cinco anos o setor de engenharia no Brasil vem passando por uma repaginada completa. As empresas estão se adaptando a uma realidade sem grandes obras. Muitas quebraram, outras estão em recuperação judicial. Muitas demitiram. Este é mais um momento de transição. Continuamos, com certeza, bem ranqueados entre as maiores. Apesar de muito sofrimento, estamos vencendo gradativamente as crises. É só lembrar o Tom Jobim mais uma vez: “o Brasil não é para Amadores.”

Me diga sem pensar muito três obras de engenharia que orgulham o Grupo MPE?

Já tivemos obras de grande importância para infraestrutura do nosso país. Seja na área elétrica, nuclear, hidrelétrica, petróleo e gás, implantação de projetos do agronegócio. É como se eu tivesse que escolher qual o neto mais bonito. Como fazer? Cada um tem sua característica. Bem, vá lá. Vou citar algumas: As Usinas Nucleares Angra 1 e Angra 2; o Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio; a Usina Termelétrica de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul e a Unidade de Recuperação de Enxofre, em Paulínia.

Pela experiência do senhor como empresário, o Brasil está patinando, está saindo ou ainda vai sair da crise? E quando isso deve começar?

Acredito que as bases estão sendo colocadas, mas o setor político tem muita importância nesta retomada. Acredito que o próximo presidente da república terá melhores condições se fizer a reforma da previdência e até mesmo estruturar uma reforma tributária, unificada e mais justa. Precisamos melhorar a nossa infraestrutura.

A empresa brasileira precisa de ter condições iguais as empresas estrangeiras para que o mercado seja realmente competitivo. Precisamos de menos burocracia e mais eficiência.

O senhor tem um grande terceiro setor no seu Grupo que investe cultura aos extremos e também em projetos sociais e um dos exemplos maiores é o que faz em São Fidélis, sua terra natal. Pode falar um pouco disso?

Essa é uma outra tradição do nosso grupo. Gostamos de investir na cultura do nosso país. Temos grande experiência nisso. Já Investimos em teatro, cinema, música, shows, discos, livros infantis, livros históricos, recuperação do patrimônio público, nas artes. E mais de 95 % desse investimento do próprio grupo, sem recorrer as leis de incentivo, como a Lei Rouanet. É o que estamos fazendo agora com o IRLA, o Instituto Renan&Lídia Abreu, em homenagem aos meus pais. Estamos atendendo a mais de 300 crianças nas escolinhas de futebol que implantamos em dois centros esportivos em São Fidélis.  São estruturas profissionais, com médicos, fisioterapia, academia de ginástica, preparação física, incentivo ao estudo. Centros de treinamentos profissionais, centros médicos para atendimento gratuito a população, centro odontológico gratuito, ambulância a disposição permanentemente. Esse é o nosso perfil.

Voltando a falar de crise, a economia fluminense vai ser a última a sair dele? Ou pode sair antes?

Difícil dizer assim. A economia fluminense passa por momentos terríveis. E ela está muito atrelada aos negócios do petróleo. No momento em que a Petrobrás destravar suas obras, certamente os níveis de emprego e renda vão melhorar. A questão tributária, a decisão do Repetro pela Assembleia Legislativa. Tudo isso faz diferença. São muitos fatores a serem considerados. A questão da segurança também está atrelada ao desenvolvimento. Restaurantes vazios, a cidade não pulsa mais a noite. Tudo isso influi. Precisamos recuperar o antigo astral do Rio.

O Grupo MPE sempre primou pela chamada Qualidade Total. O mesmo conceito da engenharia de qualidade total está sendo aplicado nos demais segmentos do grupo?

Nunca abandonamos essa preocupação desde a nossa criação, há 30 anos. Trouxemos isso da GE. O cliente sempre em primeiro lugar. Ele precisa ficar satisfeito. A satisfação dele é a nossa. Constantemente investimos em cursos de aperfeiçoamento de nosso pessoal. Uma empresa de engenharia precisa estar certificada não só pela qualidade, mas pelo respeito à saúde, o meio ambiente, e a responsabilidade social.

Especificamente sobre Campos que o senhor conhece bem. Quando a cidade deslancha de vez?

Campos é uma boa cidade e tem muita potencialidade. Acredito que se direcionar os royalties do Petróleo para o desenvolvimento de sua infraestrutura, poderá ser uma cidade ainda melhor. Há muito o que ser feito. Mas precisamos ficar atentos porque,  como dizia o ex-senador Roberto Campos, o Brasil não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade.

Existe alguma expectativa do grupo em torno do Porto do Açu, em São João da Barra?

Acredito que já seja um projeto consagrado. Até onde tenho conhecimento é um projeto muito bem estruturado e já é uma realidade que já atraiu empresas brasileiras e estrangeiras. Até o presente momento ainda tínhamos dirigido nossas prioridades para este projeto. Recentemente temos sido abordados por outras empresas e já estamos estudando uma participação.