Dedicou-se aos negócios da família e tornou-se um agropecuarista elogiado. Além do basquete, os cavalos sempre estiveram na lista de seus interesses pessoais, graças à influência do avô que era um exímio cavaleiro. Maurício integra o seleto grupo de criadores da raça Mangalarga Marchador. A cidade de Campos é destaque nacional entre os produtores. Em março, Campos sedia mais uma edição do Encontro Nacional do Mangalarga Marchador do Estado do Rio de Janeiro (ENMMERJ), que movimenta a economia de Campos durante uma semana.
Você faz parte de um grupo de criadores de Mangalarga Marchador de Campos. Como surgiu e quando começou essa associação?
O Núcleo dos Criadores de Cavalos Mangalarga Marchador de Campos foi criado há 29 anos. A cidade de Campos tem muita tradição em criação de cavalos, além de bons cavaleiros. E um destaque é a raça Mangalarga Marchador. É o segundo núcleo de criadores de Mangalarga mais antigo do Brasil.
Quantos criadores de Mangalarga existem na cidade, região e no estado do Rio? O Rio tem mais criadores que Minas Gerais?
Minas Gerais é o berço da raça do Mangalarga Marchador, na região de Caxambu e Cruzilha. Em Campos, atualmente, contamos com o número em torno de 50 criadores que fazem parte de nossa Associação. Em todo o Estado do Rio, há por volta de 1500 criadores de cavalos desta raça específica.
Fale um pouco da raça do Mangalarga Marchador, suas características e funções.
O Mangalarga Marchador tem o maior plantel das raças na América do Sul. A Associação conta com mais de 150 mil cavalos registrados e controlados. Isto realmente é um número impressionante. Uma das principais características do Mangalarga Marchador além de sua beleza, do seu porte médio, é a docilidade. É um animal muito tranquilo, incapaz de disparar, de empinar, de fazer alguma coisa que cause dano à integridade física do cavaleiro. A função principal do Mangalarga Marchador é como o próprio nome já diz: a marcha. Há outras funções também como trabalhos em fazendas, na parte do lazer, serve para cavalgada, e também para provas esportivas; enduros, onde têm se destacado muito.
Em Campos, de 7 a 10 de março, haverá um evento nacional importante reunindo cavalos e criadores. Fale sobre esse evento e sua importância no setor.
De 7 a 10 de março, acontece a 21ª ENMMERJ, uma exposição especializada. É uma exposição nacional com criadores de vários estados, inclusive do Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia. Tornou-se muito conhecida, e é uma das três exposições de Mangalarga Marchador mais importantes do país. É um orgulho para nós de Campos termos um evento desses. E é muito relevante para a cidade porque tem uma boa ocupação dos hotéis, os criadores têm um poder aquisitivo e consomem em restaurantes, movimentando um pouco mais a economia do município. Todos os anos prestamos alguma homenagem aos participantes e envolvidos no setor. Este ano homenagearemos o médico veterinário Rubens Caldas Pessanha que faz 40 anos como técnico de registro da Associação Brasileira dos Criadores de Mangalarga Marchador.
Criar cavalos é coisa só para gente rica?
Criar Mangalarga Marchador não é para rico, é para quem tem amor ao cavalo e quem gosta de montar. Logicamente que há os cavalos mais valiosos. Houve recentemente num leilão em janeiro deste ano em Búzios, uma matriz que foi arrematada no valor de R$3,6 milhões. Então, tem animais desse valor que são muito bons na reprodução, e suas crias são muito valorizadas. Mas há também cavalos para usuários, animais castrados para passeio, esporte e lazer avaliados entre R$5 mil e R$10 mil.
O que faz um cavalo valer tanto?
O que faz um Mangalarga Marchador valer muito é o seu desempenho em pista, os campeonatos que conquista. Um cavalo e uma égua quando se tornam campeões nacionais, logicamente, o seu valor multiplica. E esse animal se credencia muito para a reprodução. Então, as matrizes fazem a transferência de embriões. Uma égua de boa qualidade pode gerar até seis filhos por ano. Isso gera uma receita grande, e faz com que esse animal tenha um valor bem considerável.
O que o público pode esperar do ENMMERJ? O acesso é livre e gratuito?
O ENNMERJ, ao contrário da exposição de julho organizada pela Fundação Rural de Campos, (onde nós também participamos) é um exposição especializada com entrada gratuita. O ambiente é bem tranquilo, as pessoas podem estacionar os carros confortavelmente porque tem muito espaço. Contamos também com restaurantes, bar, stands com butiques, tudo voltado para o comércio de equinos.
O que é preciso para popularizar a criação de cavalos?
O Núcleo de Campos tem como função principal popularizar, difundir e fomentar a raça do Mangalarga Marchador. Realizamos vários cursos em todo o município e cidades vizinhas. As cavalgadas e dias de campo são eventos para unir as pessoas, e para que estas conheçam as qualidades do cavalo. Nós damos muita atenção aos novos criadores e interessados na raça para que eles façam um investimento consciente.
Como avalia essa prática na região?
O cavalo é uma paixão no mundo todo. No Estados Unidos, em locais como Kentucky e até na Flórida, há criações fantásticas de cavalos. Na Argentina há uma grande paixão pelo cavalo crioulo, de corrida ou de salto. No Chile é a mesma coisa. No Oriente Médio temos os cavalos árabes que vivem nos desertos. No Brasil e aqui em Campos os cavalos fascinam. Em cada país e em cada região têm a raça de preferência adaptada ao meio. No Brasil, o Mangalarga foi a raça que melhor se adaptou, e que conseguiu mais aficionados. Tanto em Minas Gerais, onde há região de montanhas, ou no planalto paulista, existem bons resultados e sucesso da raça.
Criar cavalos é um bom negócio?
Como todo negócio, o investimento no Mangalarga Marchador tem que ser muito consciente e bem planejado. É bom ter uma área de fazenda com bom pasto e bastante água para baratear o custo da criação. Se você criar um animal estabulado, preso, criado artificialmente, isso vai elevar o custo. Tendo um número adequado de animais na propriedade, bons capins, isso fará que o custo da criação seja bem baixo. É um bom negócio. Primeiro, porque tem os ganhos indiretos. Quando você cria cavalos, você convive com outros criadores. Normalmente são empresários e profissionais liberais que se aproximam e fazem negócios. Comprando bem, não arriscando quantias vultosas, e fazendo bons cruzamentos se obtém ótimos resultados.
Você tem uma história ligada aos esportes, não é? Conte um pouco sua trajetória esportiva, vida social e como se tornou um apreciador de cavalos.
Eu sempre gostei de andar a cavalo na fazenda de meu avô. Sempre tive uma paixão pelo cavalo, mas eu também tenho outra paixão que é o basquete. Eu comecei a jogar com 12 anos no Automóvel Clube. Aí, depois, quando eu fui estudar no Rio de Janeiro, fui jogar no Botafogo. Cheguei a ser da Seleção Carioca. Fui cogitado para sonhos maiores, mas eu fiquei bastante tempo no Botafogo, sou botafoguense de coração. Isso é mérito ser do Botafogo. Eu acho o esporte uma coisa boa não só para a saúde, é um ambiente muito bom. Ate hoje eu acompanho o basquete que é espetacular. Quanto aos cavalos, fui muito influenciado por meu avô que era um grande cavaleiro. Quando tive condições, comecei a criar Mangalarga. Eu tenho uma vida social muito tranquila, não sou de badalar muito. Tenho um gosto simples. Gosto muito de ficar em casa e de ir para a fazenda. Gosto de fazer esporte, caminhada, uma corridinha.
Acha que o universo equestre nos negócios, nos esportes em Campos e na região está bem representado, ou ainda há muito o que investir?
O potencial da nossa região é muito grande. As pessoas têm um certo receio de investir em cavalos porque não têm muita noção do negócio. Tem muito vendedor inescrupuloso. Tem pessoas que são enganadas, daí desistem. Temos uma região muito bonita para cavalgadas, como o Imbé, e em vários locais do município. O interesse em ter um cavalo, adquirir equipamentos, tudo isso gera divisas. A indústria em torno do cavalo no Brasil emprega mais gente que a indústria automobilística. Daí se vê a importância do negócio-cavalo no Brasil.
Que dica daria para alguém que quer começar a criar cavalos como atividade de lazer ou esportiva?
Quem quer comprar um animal para lazer ou esporte deve visitar os haras, as exposições, e deve conversar com um técnico da associação que é um profissional experiente e capacitado para orientar.
Para finalizar, o que os humanos podem aprender com os cavalos, e o que esses animais têm de mais fascinante?
Uma coisa que olho muito é como o equino é social. Os cavalos gostam de conviver em grupo, se ajudam, se protegem. Eles são companheiros. Eu vejo a humanidade tão beligerante, com tanto conflito, tanta violência. Quando vejo uma égua com seu potrinho pastando, vejo que as coisas simples da vida dão mais prazer. O que mais admiro no equino e no Mangalarga Marchador é o companheirismo. Os humanos têm sido egoístas, precisam valorizar a tranquilidade no dia a dia.