

As mortes de duas mulheres no início de dezembro escancararam uma realidade dolorosa em Campos: a violência contra a mulher segue avançando, deixando marcas e, em muitos casos, irreversíveis. Em menos de uma semana, três histórias interrompidas pela brutalidade chamaram a atenção da cidade. dados do Dossiê Mulher, divulgado recentemente pelo Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ) mostram que o município registrou 4.367 casos de violência contra mulheres, a maioria deles ocorridos dentro de casa.
No dia 7, Júlia Silva de Souza, de 24 anos, foi espancada pelo então companheiro, na localidade de Abadia, em Guarus. Ela ficou seis dias internada, mas não resistiu. Policiais militares chegaram a impedir que o agressor a jogasse no Rio Paraíba do Sul. Júlia estava inconsciente no chão quando a equipe chegou ao local. O homem foi preso em flagrante.


Um dia depois, em 8 de dezembro, Amanda dos Santos Souza, de 28 anos, foi assassinada a pedradas no bairro da Penha. O ex-companheiro confessou o crime após ser preso em Grussaí, em São João da Barra, segundo a polícia. Segundo a delegada Carla Tavares, ele já tinha registros de violência contra a vítima desde 2018. A última denúncia havia sido retirada por Amanda meses antes do crime.
Casos ajudam a entender os números
Dados do Dossiê Mulher mostram que, apenas em 2024, Campos registrou 4.367 mulheres vítimas de violência. É o maior número da série histórica entre 2014 e 2024, período em que o município soma cerca de 27,6 mil vítimas.
A maioria das ocorrências envolve mulheres entre 30 e 59 anos. Em grande parte dos casos, o agressor é o companheiro ou ex-companheiro, e o crime acontece dentro da própria residência.
Em 2024, Campos registrou 1.050 casos de violência física, 1.089 de violência moral, 351 patrimoniais, 1.701 psicológicas e 176 sexuais. Números semelhantes aos de cidades com população próxima, como Niterói, e inferiores apenas a municípios maiores, como Duque de Caxias e Nova Iguaçu. No Dossiê Mulher não estão incluídos os casos de 2025.


Para a delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Juliana Oliveira, a violência raramente começa de forma extrema. “Existe uma escalada. Muitas vezes começa com violência moral ou psicológica, que não deixa marcas físicas. A maior parte dos agressores são pessoas com quem a vítima tem alguma relação íntima de afeto, seja namorados, companheiros, maridos ou ex-companheiros. Essa proximidade acaba facilitando, entre aspas, para que ocorra esse tipo de violência, porque dentro de casa muitas vezes não é percebido por outras pessoas”, explica.
Ela alerta para sinais que não devem ser ignorados. “Essa mulher não pode encontrar com amigos, familiares, são criticadas com relação à forma de vestir, à forma de se portar. Tudo isso é sinal de alerta. Normalmente essa violência não para por aí, ela vai continuar escalando para violências mais graves”, destaca.
Violência contra mulheres em Campos
De 2014 a 2024
27,6 mil vítimas
Feminicídio — 45 casos
Só em 20244.367 mil vítimas
Violência Física — 1.050 casos
Violência Moral — 1.089 casos
Violência Patrimonial — 351 casos
Violência Psicológica — 1.701 casos
Violência Sexual — 176 casos
Dados do Dossiê Mulher e IPS