×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

SOS Atafona avança na luta para conter o mar

Entidade mobiliza ciência, política e comunidade para salvar um dos símbolos globais da erosão costeira

Região
Por Aloysio Balbi
28 de setembro de 2025 - 0h08
Problema grave|Oceano engoliu quatro quarteirões do lugar que é conhecido no mundo por isso (Foto: Reprodução)

O balneário de Atafona, em São João da Barra, tornou-se símbolo de um fenômeno que desafia moradores, autoridades e a própria ciência: o avanço implacável do mar. Em cinquenta anos, as águas já engoliram quatro quarteirões da praia, destruindo cerca de 400 casas e até mesmo um edifício. O que poderia ser apenas uma tragédia local ganhou dimensão global: Atafona passou a ser estudada por universidades, reportada por canais de televisão do Brasil e do exterior, inclusive pela Al Jazeera, do Oriente Médio, tornando-se referência mundial na discussão sobre erosão costeira e mudanças ambientais, sendo citada inclusiva em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas.

Nesse cenário de perdas e de resistência nasceu o SOS Atafona, uma entidade não-governamental formada por moradores e veranistas que não se conformam com o abandono e lutam pela sobrevivência do balneário. A missão é pressionar governos e mobilizar a sociedade para que sejam implementadas ações técnicas capazes de estancar ou ao menos atenuar o avanço do mar. O trabalho do SOS se apoia em ciência, diálogo institucional e mobilização social, e já conquistou passos importantes nessa caminhada.

Recentemente, a diretora de relações institucionais da entidade, Camila Hissa, esteve em Brasília reunida com o secretário da Presidência da República, André Ceciliano, levando pessoalmente as demandas urgentes de Atafona. Essa agenda é resultado do esforço coletivo das diretoras Sônia Ferreira e Maria Lúcia Freire, que com dedicação e persistência têm ampliado a visibilidade do tema. O engajamento político também encontra apoio de figuras importantes, como a ex-prefeita de São João da Barra e hoje deputada estadual, Carla Machado, que abraçou a causa e vem reforçando a necessidade de soluções definitivas.

Uma conquista significativa do SOS foi garantir a elaboração do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), que servirá de norte para projetos futuros. Esse documento, produzido em parceria com especialistas, é uma ferramenta essencial para dar respaldo técnico às decisões de engenharia e políticas públicas. Ainda assim, apesar das evidências científicas, muito pouco foi feito na prática ao longo das décadas.

A comunidade científica, com destaque para a Universidade Federal Fluminense (UFF), tem sido aliada valiosa do SIS Atafona. Estudos e pesquisas reforçam que não se trata apenas de um problema ambiental isolado, mas de um alerta sobre a relação do homem com o mar e os limites de ocupação costeira. O caso de Atafona, portanto, é uma lição para o mundo.

Maria Lúcia, Sônia Ferreira e Camila Hissa (Foto: Silvana Rust)

Audiência pública
Segundo Sônia Ferreira, com a perspectiva de uma audiência pública da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, o tema ganha novo fôlego. “Será a oportunidade de cobrar compromissos concretos dos três níveis de governo: municipal, estadual e federal”, destaca.

Ela pontua que Atafona não pode ser lembrada apenas como a cidade que o mar levou. “A luta do SOS Atafona mostra que é possível resistir e buscar alternativas. Mais do que preservar casas ou ruas, trata-se de proteger uma identidade cultural, social e histórica. O que está em jogo é a continuidade de um modo de vida e a defesa da memória de gerações”.

Enquanto as ondas avançam, o SOS Atafona avança também, com coragem e perseverança. Se o mar insiste em tomar, a comunidade insiste em lutar. E é dessa tensão que pode nascer a chance de salvar um pedaço do litoral fluminense que já é, há muito tempo, parte do mapa mundial das urgências ambientais.