A ilustração acima é apenas à guisa de registro. Não é notícia, visto que as condenações ocorreram na 5ª passada (11). E, pelos indícios, oficiosamente bem antes desta data – dois anos, no mínimo – tendo em conta que ninguém apostaria em resultado diferente.
Na edição de 26 de maio de 2025, a matéria principal desta página, com o título “Depoimento do ex-chefe da Aeronáutica ‘encaminha’ condenação de Bolsonaro”, já cabia receber do leitor o comentário: “Que novidade!”.
Agora, muito pouco há a analisar. Os fatos, as versões e as denúncias – o que há de falso, de exagero ou de verdade – cabe à sociedade refletir e fazer seu juízo.
De 2023 ao julgamento de semana passada – ou, melhor dizendo, desde antes de 2022 – a trama golpista (já não cabe mais a palavra ‘suposta’), a discussão sobre o resultado das eleições e o 8 de janeiro, foram exaustivamente noticiados pelos principais meios de comunicação do País. O que não falta, portanto, é informação.
É bem verdade que as condenações não são absolutamente inalteráveis, visto que ainda cabem recursos – embargos de declaração, infringentes e outros –, bem como questões como idade e saúde que podem alterar a dosimetria das penas.
De certo, as penas só serão definitivas após esgotado o leque recursal em todas as instâncias, ou seja: o trânsito em julgado. Mas, salvo um ponto aqui uma vírgula ali, nada de relevante deve mudar.
Quando se fala em “últimos capítulos”, nutre-se o desejo de que o Brasil dê um basta à tragédia política que o assola desde 2014, no confronto de Dilma X Aécio. O resultado apertado (3,28%, representando 3,4 milhões de votos) foi contestado pelo PSDB junto ao TSE que pediu “auditoria especial”. (Em 2022, Bolsonaro perdeu por 1,8% dos votos, o que significou 2,1 milhões de votos).
‘Tsunami’ – Daí por diante o País desandou: Crise econômica (quase depressão) sem precedentes; Petrolão; Dilma perde o controle do País; Lula nomeado para a Casa Civil é impedido de tomar posse; e impeachment. Breve ‘refresco com Temer’, e Bolsonaro assume falando asneiras, querendo comemorar o Golpe de 64 e nomear seu filho embaixador em Washington.
Descumprindo os protocolos da pandemia, disse não ser ‘coveiro’. Atacou o STF com ofensas diretas a Alexandre de Moraes e por aí foi… A campanha de 2020… a mais baixa da história. Bolsonaro deixou o Brasil dois dias antes de passar a faixa presidencial e depois admitiu ter “estudado possibilidades” para contestar as eleições. Ora, estava na cara, isso ‘cheira’ a quem planeja um golpe.
Agitação – De tudo por tudo, Bolsonaro cometeu um erro fatal: sendo presidente da República e com grandes chances de reeleição, agitou o País. Ora, quem está no topo, no comando, sentado na cadeira de presidente, não interessa agitação.
Agora, a conta chegou. O ex-presidente – salvo pelo imponderável – caiu. Metade do povo brasileiro chora. Paciência!
O enunciado diz “últimos capítulos” do drama político brasileiro. Mas isso não deve acontecer em 2026 – que com a economia descontrolada, ainda pode cavar mais alguns metros mesmo já estando no fundo do poço.
Não há dúvida de que o ministro Alexandre Moraes vem sendo visto como o protagonista da ação penal para punir a trama golpista e evitar que Bolsonaro permanecesse na Presidência mesmo após a derrota. A tentativa do ‘golpe’ sempre foi o entendimento do Supremo – não do ministro Moraes, isoladamente. Mas, foi Moraes quem ergueu a bandeira de que o País sofrera tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e os responsáveis – Bolsonaro, em particular – deveriam responder por aqueles atos.
Uma fatia de juristas aponta que Bolsonaro não poderia ser julgado no STF visto que, já não sendo presidente, não dispunha de foro especial. Deveria ir para a justiça comum. Outros, destacam que Moraes, como alvo de um plano para matá-lo, juntamente com Lula e Alckmin, também não deveria estar no julgamento. Outros, ainda, que o ministro atuou como acusador. Mas, isso agora é passado.
O extenso voto do ministro Luiz Fux, que absolveu o ex-presidente, abre uma porta para que no futuro a defesa busque anular o julgamento de Bolsonaro. Mas, há muita especulação. No âmbito político, Bolsonaro corre o risco de ser esquecido. Talvez sim, talvez não. Na política, como na vida, costuma funcionar o ditado “rei morto, rei posto”. Porém, em virtude da popularidade de Bolsonaro e do nível de desaprovação do presidente Lula da Silva, não se pode desconsiderar a influência do ex-presidente nas eleições de 2026.
Como adendo, cabe lamentar o papel do ajudante de ordens de Bolsonaro, tte. cel. Mauro Cid, que tendo participado de todo o conjunto que se definiu como golpe de Estado; sabedor da fatídica minuta e, talvez, até do planejamento para matar Moraes, tenha delatado tudo – entregue os antigos aliados – não por dever à Nação, à democracia ou ao Estado de Direito, mas, covardemente, apenas para salvar a própria pele. Cid é uma vergonha para o Exército Brasileiro do qual deveria ser expulso.