A Historinha que descreve a Independência do Brasil é quase tão utópica quanto o quadro com que o artista Pedro Américo teatralizou ‘O Grito” às margens do Ypiranga.
Na verdade, nada ou quase nada da imponência retratada na pintura corresponde à realidade. D. Pedro I não trajava vestimenta majestosa – que sugeria um impecável uniforme militar – mas roupas surradas.
O belo alazão que salta da tela jamais existiu. Pedro viajava em mulas cansadas e cabisbaixas, próprias para longas viagens. O desembainhar da espada possivelmente também é uma peça de ficção projetada para dar um toque heroico e vigoroso consoante à narrativa política que se desejava difundir.
E foi assim que a independência ‘faz-de-conta’ não mudou em nada a vida do brasileiro, que depois de quase 300 anos como colônia de Portugal passou a ser súdito da monarquia de D. Pedro – nada menos que o príncipe herdeiro do país lusitano.
Curioso, não é mesmo? Na prática, o jugo apenas mudou de dono, continuando tão vassalo quanto no período de colônia.
E, pelos 67 anos seguintes – da independência de 1822 à Proclamação da República, em 1889 – sua peregrinação subalterna seguiu inalterada, tal qual inalterada permaneceria pelas próximas 3 décadas, serviçal dos mesmos senhores feudais que apenas trocaram de nome.
Neste 7 de Setembro, a independência não nos trouxe, sequer, o feriado.
Num contexto amplo, literal e verdadeiro, há de se reconhecer que independência mira, como pré-condição inafastável, não ser dependente em sentido algum, de nada. Acrescente-se, se este ou aquele país se proclama independente, necessário ir mais fundo e verificar se o povo – sim, o povo, o mesmo que desde sempre inspirou a frase “a elite de um país é seu povo” – é independente acerca de tudo, quaisquer que sejam as circunstâncias.
Será isso subjetivo? Ou, ao contrário, uma expressão usada no Brasil para confundir alhos com bugalhos e perpetuar com requintes de usurpação a dependência?
É independente um País cuja fatia substancial da população passa fome e a qual se nega acesso à saúde, educação, segurança, moradia, transportes e emprego?
Duro dizer, mas a realidade nos mostra um quadro em que somos dependentes do populismo, de políticos corruptos, do disparate entre a riqueza de alguns poucos em detrimento da pobreza de larga maioria.
Para não eternizarmos as indagações, a independência não deveria nos livrar do desconhecimento, da ignorância, do voto trocado pela bica d’água, da intolerância, do preconceito, da injustiça, do tráfico de influência, das narrativas estúpidas que se arvoram em verdade absoluta e das amarras que prendem ao fundo ao invés da mola que eleva ao alto?
No futuro, em algum momento, o grito de independência e liberdade há romper as margens do Ypiranga e alcançar a Nação brasileira.
Por ora, salve-salve: o Brasil é independente e soberano quanto ao tarifaço de Trump.