A segunda edição do Faca Fest, realizada na Usina do Queimado, no dia 2 de agosto, foi além da simples exibição de lâminas para se firmar como fenômeno cultural em Campos dos Goytacazes. Idealizado por cinco cuteleiros locais – Felipe Paes (Facas Ironwood), Ricardo Lobo (Ricardo Lobo Facas Custom), Eduardo “Dudu” Linhares (Faca Bruta), Olympio Guimarães (Oly Knives) e Samuel da Matta (SMC Facas) –, o festival, que teve sua primeira edição em 2024, surgiu a partir da Associação Campista de Cutelaria (ACC), criada em 2020 para compartilhar conhecimento e paixão pela cutelaria artesanal.
“Decidimos fazer um festival integrando a exposição de facas custom e artesanais que vêm das feiras de cutelaria, shows com bandas ao vivo, experiências gastronômicas, área kids e o Universo Country”, explica Felipe Paes, destacando o propósito de criar uma experiência que unisse arte, cultura, musicalidade, gastronomia, esportes equitativos e família para a região.
Da forja ao festival
Chegando à sua segunda edição, o Faca Fest se tornou uma celebração multigeracional. Além da exposição de facas, o festival trouxe competições equestres, axe throwing (arremesso de machado), demonstrações de forjamento ao vivo e jogos nostálgicos como arremesso de dardos e disparo com estilingue. “Pessoas de 50, 60 anos se emocionaram porque relembraram a infância, quando isso era muito próprio aqui da região, ensinando aos filhos que nunca tinham usado, e principalmente aos netos”, destacou Dudu Linhares.
Felipe Paes destaca que o Faca Fest se iguala a feiras de cutelaria espalhadas por todo o país e apresenta a cultura para a região. “No Faca Fest, o público é convidado a explorar a evolução histórica e a diversidade estética das lâminas, compreendendo sua importância no cotidiano e sua transformação ao longo do tempo. É um convite para as pessoas apreciarem não apenas a funcionalidade dessas peças, mas também a beleza intrínseca que elas podem alcançar. Cada faca exposta é uma obra de arte única, resultado de um processo meticuloso de criação que transforma um objeto cotidiano em algo extraordinário”, afirma.
Dudu Linhares detalha a jornada evolutiva do evento. “Começamos com uma simples festa na fazenda do Olympio, quando cada um levou convidados. Nós bancamos tudo: cerveja, churrasco. Dali surgiu a ideia de fazer o primeiro Faca Fest. Foi um sucesso. Nós delegamos a poucas pessoas de fora alguns trabalhos. Pegamos a mão na massa e fomos correr atrás de patrocínio, convidando expositores, fazendo toda a parte gráfica. Enfim, montamos uma festa que foi sucesso absoluto”, explica.
Desmistificando a cutelaria
Os organizadores enfatizam a missão de trazer a cutelaria para mais perto. “A faca é ferramenta cotidiana – do pão ao churrasco – e sua cultura é muito forte nas regiões Sul e Nordeste do Brasil, mas queremos difundi-la na cidade, na Região Norte Fluminense e também no Estado do Rio”, destaca Ricardo Lobo.
Ainda sobre a cultura da cutelaria, Ricardo detalha que ela não se resume apenas a facas para cozinha. “Existem várias ramificações e nichos de cutelarias diferentes, como a artesanal, voltada para ferramentas; cutelaria custom, voltada para peças artísticas; cutelaria histórica, voltada para a reprodução de artefatos históricos de museu, como espadas, machados, adagas; e a cutelaria voltada para cozinha profissional, que são as facas chef, facas japonesas de sushi e tudo mais”, completa.
Raízes diversas, futuro promissor
Os fundadores da ACC tiveram caminhos distintos que os levaram à cutelaria. Dudu Linhares descobriu uma terapia transformadora após seis anos de aprendizado autodidata. “Eu não vejo a cutelaria como hobby, muito longe disso, e também não é um negócio. Para mim, é essencialmente uma terapia. Quando entro na minha caverna, coloco o cachorro deitado ao meu lado, boto minha música e pego uma faca para fazer ou uma bainha para costurar. Tiro da minha mente toda preocupação”, conta.
Samuel da Matta herdou a vocação de seu tio Rodrigo. “Quando comecei não entendia muito de cutelaria, com o passar do tempo vi que a gama de produtos e facas é imensa e que sempre teria um aficionado em lâminas querendo algo diferente para superar as expectativas”.
Olympio Guimarães iniciou na cutelaria pela função utilitária: “Minha relação começou na mais básica função da peça, a de ser uma ferramenta. Por isso, gosto muito das linhas de cozinha e como uma boa faca pode transformar toda a experiência que você está tendo ao manuseá-la”.
Tradição e futuro
Olympio Guimarães reflete sobre o legado cultural da cutelaria em Campos. “Acho que estamos em um bom caminho, expondo para o público esse universo vasto que é a confecção de facas, seja para uso ou para coleção”, diz. Olympio também comenta sobre o caminho de interessados pelo hobby de cutelaria. “A porta de entrada para esse mundo é muito vasta, mas, se possível, busquem cursos, workshops, ou, principalmente, alguém do meio, que já possua experiência e possa te auxiliar. O meu início foi assim e posso afirmar que todo o contato com os colegas da área sempre foi de muito aprendizado, todos nós começamos e sempre há alguém disposto a te ajudar e orientar”, conta.