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Renato Gomes: empresa campista que faz diferença

Engenheiro com alma de artista, Renato Gomes transforma materiais simples em ricas experiências

Entrevista
Por Aloysio Balbi
28 de julho de 2025 - 0h01
(Foto: Silvana Rust)

Renato Gomes, fundador e proprietário da Otimitek, fez engenharia elétrica e de segurança do trabalho, mas vem de berço sua paixão pela arte da carpintaria. Filho de carpinteiro, ele observava pequeno a grandeza do trabalho do pai.

O empresário, com marcas na construção civil, principalmente na área elétrica, foi o responsável pela confecção e instalação de toda a estrutura temática do Arraiá Solidário do J3News, no dia 19 de julho, na Casa de Cultura Villa Maria.

Os imensos milhos e motivos juninos espalhados pela área externa da Villa Maria encantaram pela beleza e segurança. Renato reúne em seu currículo todos os conhecimentos elétricos e de segurança, essenciais para tudo sair perfeito.

Admite que fazer com madeira e luz projetos temáticos passou a ser um negócio que leva bastante a sério. Nesta entrevista, ele revelou que sua empresa de engenharia elétrica fez a recente iluminação da passarela do samba mais famosa do país: a Marquês de Sapucaí.

Você, que é engenheiro do ramo de eletricidade e de segurança, fez parte de toda a arquitetura gigante da festa junina temática e solidária do J3News na Villa Maria. Quando despertou essa arte em você?
A minha mãe era vendedora de roupas e ela sempre buscava um caminho para fazer dinheiro. E chegava ao fim de ano, ela desenvolvia velas de natal. Antigamente esses produtos importados, que a gente vê agora, não existiam. Então ela pegava, por exemplo, tubo de tecido, envelopava aquilo e transformava em vela, colocava os arranjos, e comercializava. Quando chegava a Páscoa, o processo se repetia. Então, desde criança eu presencio aquela criação da minha mãe. Meu pai era marceneiro, proprietário de marcenaria, mas o papai não era um empresário e um grande artista. Se nós pegarmos aqui a geração, na idade, na faixa de 50 anos, em 1975, mais ou menos, dificilmente uma casa dessas de Campos não tenha o móvel do meu pai. É muito interessante que no final da vida de papai, eu o vi sendo chamado para desmontar móveis de casas de pais, para re-instalar na casa dos filhos, no apartamento. Então toda essa cultura me acompanha desde sempre.  É arte sim, aproveitar o feito e fazer ainda mais bem feito com total qualidade. Sou muito crítico na entrega de um bom produto e trago isso de berço. Essa exigência ficou mais acentuada quando me tornei engenheiro.

Perfeição e qualidade?
Sim! É assim na grande engenharia da vida, ou na grande arquitetura da vida. É o que a gente vê e o que a gente escuta. A roda já está pronta e ninguém precisa reinventá-la, mas a gente pode sempre agregar. Você bota mais peso, mais capacidade de carga, mas a roda gira. Então, eu trabalhei 34 anos na iniciativa privada, inicialmente. Por 20 anos em uma multinacional do grupo Wayne Dresen, e outros seis anos numa empresa nacional, que hoje é FMC Technip, que hoje é uma francesa. Assim, criei uma bagagem de qualidade. Fui instrutor de qualidade total… fazer um bom produto, de ótimo custo-benefício. Em 2002, eu decidi montar a empresa em Campos. Essa coisa dos elementos temáticos tem muita relação com o público, proporcionalidade, dimensão e segurança. Lembro agora o fato que aconteceu na árvore de natal de Maricá, que a árvore tombou e um momento de felicidade quase vira uma catástrofe. Quando decidi fazer isso, aumentei o sarrafo da estrutura e da segurança.

Mas você é engenheiro no campo da eletricidade e da segurança. É a combinação perfeita?
Para esse trabalho, sim, além de uma pitada de arte. Quando você vai desenvolver um elemento temático, você tem essa proporcionalidade, segurança e o desenvolvimento do tema. E, na verdade, o caipira visto lá na festa não foi uma criação minha, eu melhorei. Eu passei em São João da Barra, vim no Trevo lá, uma peça que depois eu fui saber que foi algo aproveitado de uma escola de samba, que trouxeram para São João da Barra e depois virou aquela imagem. Eu procurei os artistas locais e encontrei um grupo de pessoas para entender essa coisa de cultura. O caipira hoje é diferente de antigamente. Não é mais maltrapilho e maltratado. Você tem exemplos de Campina Grande, na Paraíba e Caruaru em Pernambuco, com festas juninas de altíssimo padrão. Isso veio com o desenvolvimento econômico e cultural monstruoso. Veja, por exemplo, o que acontece em Parintins, no Amazonas.  É tudo grandioso e gigante e quando você se propõe fazer isso, tem que ter toda a engenharia da segurança.

Tudo isso está muito na moda. A família Medina, criadora do Rock in Rio, agora está em São Paulo fazendo o The Tower, que agigantou algumas referências paulistanas. Tem tudo a ver, né?
O meu sonho é realmente ter peças minhas instaladas no Rock in Rio. Eu estou caminhando para isso. Então, o balão da Villa Maria, na festa do J3, por exemplo, é um balão luminoso, e nele tem a arte do artesão ligado à serralheria, à carpintaria e também à precisão da engenharia. Foi uma peça desenvolvida, por exemplo, em Tiradentes (MG), onde vi uma cadeira grande, eu olhei no formato perfeito de uma caixa de balão. Gostaria de fazer uma coisa parecida no Rock in Rio, e um dia isso pode acontecer.

O Carnaval habita no seu imaginário?

Sim. Já fizemos muita iluminação de Carnaval. A última reforma grande do Sambódromo do Rio, minha empresa foi responsável por toda a parte elétrica, se unindo ao time técnico de engenharia que fez para a Rio Luz. Instalamos 284 quadros de potência. Uma empresa de Campos fez isso no Rio. Temos muito orgulho dessa obra que permitiu a passarela de samba mais famosa do mundo ter uma iluminação maravilhosa. Foram sete meses de obras e nesse contexto a segurança é vital. Então, é uma coisa que realmente não tem como não se orgulhar, pois nossa logomarca está lá. Nesse período, convivi com a fábrica das escolas de samba, os ensaios técnicos, as filmagens da TV Globo. E passar todo esse tempo na região do Catete, Estácio, Lapa, Pequena África. Tudo isso são pontos de memória da nossa cultura. A gente aprende. Temos que obter essas ricas informações, essas experiências.

Então um Carnaval pode rolar?
Eu visitei a Cidade do Samba umas quatro vezes. Uma vez, a primeira vez, eu estava fazendo um trabalho para a Faetec, no Rio, e quem era o presidente da Portela era o Nilo, Nilo Pai, o Nilão. Conheci tudo com ele. Eu fiquei encantado porque eu conheci os bastidores, eu tive que transitar em todas as escolas. Ver a marcenaria rolando lá foi tudo. E essa oportunidade me fez pensar na questão da segurança. O Carnaval carioca tem elementos gigantescos e muitos acidentes já ocorreram. Eu acho possível evitá-los com um arco de cuidados e técnicas. Quem sabe um dia faço um Carnaval?


A palavra gambiarra não existe no seu dicionário, né?
Jamais. Como engenheiro desta área, já dei umas entrevistas e fiz palestras sobre segurança plena, medidas para evitar acidentes e alto consumo de energia. Gambiarra é comum ainda hoje em tomadas. É uma palavra engraçada, utilizada em vários contextos, mas é o antônimo daquela qualidade total que falei no início da entrevista.

Sua empresa também fez obras de engenharia civil. Pode falar sobre isso?
Eu lembro como hoje, uma das primeiras obras que eu fiz. Acho que foi em 2005, em Campos, de maior magnitude. Era um verão, e furtaram todo o cabeamento de iluminação da Avenida do Alberto Lamego. Então, a avenida ficou às escuras. E aí, era uma época de verão, me chamaram, pois o movimento para as praias era intenso e algo tinha que ser feito. Enfrentei cinco quilômetros de desafio de troca de rede elétrica. E ali foi quando eu comecei a botar a mão na massa, como minha empresa. Fomos depois comprando equipamentos e fazendo outras obras de infraestrutura civil como drenagem, pavimentação, etc.


Me diga um espaço em Campos, um prédio em Campos que você gostaria de fazer uma maquete gigante?
O Museu Olavo Cardoso é uma coisa interessante, porque você pode crescer em proporção sem ter que fazer nada absurdo, é muito legal. Outra coisa que me chama muito a atenção são esses gazebos, tipo o que tem a Praça do Liceu, tipo o que tem lá dentro da Vila Maria também. Transformar aquilo numa peça extremamente iluminada, estruturada em aço-carbono, mas o contorno todo iluminado, seriam dois lugares bastante interessantes a fazer. A Catedral do Santíssimo Salvador, a primeira vez que ela foi iluminada, em azul e dourado, eu trabalhei no projeto.

Você nasceu em berço de madeira feito pelo pai. Você deixa berço de ouro para alguém?
Graças a Deus, como eu te falei, eu venho de uma família bem humilde. Pude estudar. Tenho orgulho do berço de madeira feito por maus pais, e não vou deixar berço de ouro. O outro é a Educação. Uma educação forte. Minha filha Ana, por quem tenho grande admiração, é advogada das boas e já me deu a neta de cinco anos, a Marina. Meu genro, o Mário Crespo, que é uma pessoa maravilhosa, é engenheiro também. Guilherme, que é o meu segundo filho, de 25 anos, é publicitário; e tenho o João Pedro, um temporão de seis anos. Acho que a gente tem que agradecer muito a Deus, tudo que ele nos proporciona, como saúde…  viver momentos como a gente viveu lá com toda a equipe J3News durante a montagem, e foi uma experiência muito prazerosa que jamais esquecerei.