Há mais de uma década é aguardada a conclusão das obras do Palácio da Cultura, em Campos dos Goytacazes. Ícone da arquitetura moderna e referência em educação, artes e cultura desde 1973, o espaço foi fechado no segundo mandato da ex-prefeita Rosinha Garotinho para reformas. Passou pelas gestões de Rafael Diniz e do atual prefeito, Wladimir Garotinho, mas continua sem conclusão. Em nota, o governo municipal afirma que as obras não foram paralisadas, estão adiantadas e que a entrega do prédio deve acontecer até o fim deste ano.
Segundo a Prefeitura de Campos, o Palácio da Cultura abrigará a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), o Centro Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Cetec), a Escola de Formação de Educadores Municipais (Efem), os programas Mais Ciência, Mais Ciência na Escola, Startup Campos, Economia Criativa, além da Biblioteca Pública Municipal.
“A proposta da Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia é fomentar o conhecimento e a difusão da cultura empreendedora e inovadora no município, criando, em um único lugar, um ambiente de estímulo ao desenvolvimento de ações e iniciativas. Será um local com infraestrutura para consolidar uma cultura favorável à ciência, à tecnologia, à inovação e ao empreendedorismo”, destacou a secretária de Educação, Tânia Alberto.
Ainda de acordo com a Prefeitura, o prédio contará com espaços voltados para o desenvolvimento do conhecimento, seja pela pesquisa básica ou aplicada. “A incubação e o crescimento de empresas, a capacitação e o treinamento de pessoas, o estímulo ao networking entre diversos agentes, além da orientação sobre captação de recursos e desenvolvimento de projetos e modelos de negócio farão parte desse ambiente. O espaço será destinado a empresários e empreendedores inovadores, profissionais liberais, estudantes do ensino superior, jovens do Ensino Fundamental e Médio em busca de capacitação tecnológica, gestores públicos municipais e entusiastas do ecossistema de inovação”, afirma o governo.
Longa espera
Apesar da previsão oficial de reabertura até o fim de 2025, as obras continuam sem data definida para conclusão. De acordo com a placa informativa instalada no local, o valor total da obra é de R$ 2.977.992,77, com prazo de execução de 12 meses. A empresa responsável é a PL Soluções Empresariais, sob a supervisão dos arquitetos e urbanistas Sergio Pires Ribeiro Júnior e Denize Alves de Souza Freitas.
Atualmente, materiais de construção continuam espalhados pelo pátio. A equipe de reportagem flagrou um operário atuando em um dos setores, preparando a instalação da fiação elétrica para aparelhos de ar-condicionado. A entrada no prédio não foi autorizada pela segurança, por falta de acompanhamento de um representante da construtora.
Durante mais de um mês, o operário Alessandro Ribeiro trabalhou na obra. “Creio que as obras poderiam ser concluídas em pouco tempo, se fossem aceleradas. Eu e mais dois colegas atuamos na parte da pavimentação, mexendo com o meio-fio. Do que vi lá dentro, acho que em três meses dá para terminar.” Morador de Custodópolis, Alessandro contou que nunca havia entrado no edifício até então: “A primeira vez que entrei foi a trabalho mesmo”.
O sentimento de frustração também é compartilhado por Marly Apolinário, moradora de Travessão. “O prédio ficou acabado. Dá pena ver o abandono. Quando vim aqui da última vez, há mais de dois anos, só uma parte estava aberta, onde funcionava um brechó”, contou. Ela relembra que o espaço já abrigou atividades culturais, cursos e exposições de artesanato. “Era muito bom. Aguardo o retorno com esperança.”
Luciana Delgado, dona de casa e moradora das proximidades, recorda com carinho os tempos em que frequentava a Biblioteca Nilo Peçanha como estudante. “A gente vinha fazer trabalhos de escola, pesquisar. Era muito bom. É ilógico pensar que um patrimônio desses está fechado há tanto tempo. Não é só culpa da gestão atual; já são duas gestões que se passaram. A biblioteca é um bem coletivo que precisa ser recuperado. Isso aqui é um tesouro. Espero, de coração, que isso se resolva logo, para que eu, meus filhos e meus netos possamos voltar a frequentar”, conclui.