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Monique Marques: uma mulher na direção de duas auto-escolas

Mãe atípica, ela diz que as mulheres conduzem melhor o trânsito da vida

Entrevista
Por Aloysio Balbi
12 de maio de 2025 - 0h01
Foto: Silvana Rust

Até bem pouco tempo era comum ouvir a piada que dizia que “mulher ao volante era um perigo constante”. Piada velha e sem graça para qualquer mulher, principalmente quando quem está na direção é uma mulher como a empresária Monique Marques. Ela dirige não só seu próprio carro como duas autoescolas. Proprietária da Autoescola União, líder do mercado em Campos, com duas unidades, Monique Marques dá uma aula nesta entrevista sobre como conduzir o processo de formação de motoristas em todos os níveis e de motociclistas.

Mãe de três filhos — Maria Alice, de 15; Miguel, 12; e Antonela, 2 anos –, Monique é uma mãe atípica, e foca essa experiência no seu negócio: “Desenvolvemos um treinamento de habilitação especial para mães atípicas, que precisam da CNH para se locomover. Nossa visão em se tratando de trânsito é bem mais ampla, indo além do convencional, olhando sempre para o futuro e vendo o passado pelo retrovisor”, disse.

Quanto tempo na direção da Autoescola União e quantos motoristas você acha que já formou nesse período?
A União fará 15 anos em 2026 e já habilitamos mais de 15 mil motoristas, no mínimo. Nas duas unidades temos alunos que vão ser habilitados em motoristas de todas as categorias e motociclistas. São muitos os casos para incluir novas categorias com essa mudança de perfil de mercado.

Existe mercado para crescer mais?
Existe sempre mercado para crescer e eu não olho muito para o lado. Eu foco em crescer. Tenho a minha empresa com o foco de crescimento independente do ambiente, do mercado e dos concorrentes. A minha empresa é líder no mercado, independente de quem está do meu lado. Então, eu acho que, para mim, vai ter sempre mercado.

A autoescola segue o padrão de última geração no treinamento. Pode falar sobre isso?
A Autoescola União é completamente tecnológica. Nós hoje estamos com as aulas teóricas todas on-line, uma forma fácil de estar sempre à vida do aluno e trazer conforto para quem tira habilitação, porque quando você tira uma habilitação, muitas vezes já sabe dirigir, infelizmente já vem desse vício, né? Então, a pessoa sempre vai adiar porque ela não quer se desgastar. Então, nós trazemos esse conforto. As aulas práticas são extremamente dinâmicas, com uma metodologia única, que é de ensinar o trânsito real às pessoas. Então, a pessoa, quando ela chega à Autoescola União, não sabe nada, ela vai sair conhecendo o trânsito. Ela precisa saber como dirigir, como ultrapassar um carro, como reagir se uma bicicleta que atravessa na frente dela.

O trânsito de Campos é complicado?
Olha, o trânsito de Campos faz com que você viva frequentemente tenso, porque, do nada, pode atravessar uma criança… do nada pode atravessar um pedestre, uma bicicleta que não respeita a sinalização. Ocorreram avanços como as ciclofaixas para tentar reduzir o número de acidentes, mas a gente vê que, infelizmente, o número ainda não foi reduzido. Então, o problema muitas vezes não é o trânsito, são os pedestres, os ciclistas e até motoristas e a falta de conhecimento e informação. Se a informação fosse colocada dentro das escolas, mostrando a realidade do acidente, isso seria o ideal. Os adolescentes precisam ter noções de trânsito. Conhecimento sobre a consequência de um ato no trânsito, porque em fração de segundos a pessoa pode se provar, ser vítima ou se envolver em um acidente, podendo até morrer.

E a questão das motocicletas. O número de motociclistas cresce e muitos não estão habilitados. Pode falar sobre isso também?
Tem muita gente sem habilitação. É um universo que eu tenho tentado muito alcançar. Temos um foco voltado muito para motociclistas, justamente para que esses trabalhadores parem de perder suas motos em vistorias, em blitz. Para que eles tenham o básico do conhecimento e entendam qual é a função deles no trânsito. É ser mais ágil, não mais rápido, não correr. Então, a gente tenta colocar uma direção defensiva na cabeça desses motociclistas e tudo começa pela habilitação.

O motorista habilitado por sua autoescola anda na esquerda na 28 de março, devagar ou anda na direita?
Essa é uma das coisas que a gente fala sempre para os nossos alunos: devagar e sempre. Você vai sair da autoescola com prática, não com velocidade. Então, quem está na faixa da esquerda, quer passar. Deixe-o passar. Ande na faixa da direita devagar, porque 99% de chance de você não se envolver em um acidente ou causar um, porque quem anda devagar também causa um acidente.

Existe um novo fenômeno na praça. Pessoas com mais de 40 e 50 tirando a primeira habilitação. Como é isso?
Eu gosto muito das pessoas que vêm com o sonho da habilitação e que colocam como meta. E muitas das pessoas mais idosas, mais maduras têm metas. Elas não ficam sonhando. Não é um jovem sonhador. Eu falo que o erro do jovem é ser só sonhador, ele tem que ter meta. E a pessoa mais madura já vem como meta. Eu quero isso porque eu preciso ter um carro. E eu tenho uma equipe especializada nisso, e é uma das partes que eu mais gosto, ver essa meta sendo alcançada. A pessoa começou e ela terminou. E a dedicação que essas pessoas de mais idade colocam naquilo ali é surreal, porque muitas vezes o jovem é disperso, não tem foco, e uma pessoa mais madura tem foco, tem meta e ela tem determinação. Serão bons motoristas.

Existem em Campos vias urbanas que parecem estradas, como a 28 de Março e a Arthur Bernardes. Como é a questão da direção defensiva?
Tratamos esse assunto com a seriedade que merece. E, na parte prática, o principal é a gente colocar isso na cabeça dos nossos alunos. Não tenham ansiedade em chegar. Em Campos, eles usam, na verdade, a 28 de Março, Arthur Bernardes, como rodovias, mas elas são vias em que a velocidade máxima delas é 60km/h. Na 28 de Março, alguns trechos requerem velocidade máxima de 40km/h. Mas existem motoristas que andam a 100. Temos que ter conscientização. Mais placas, por exemplo, como tem nas BRs mostrando ao pai que seu filho está esperando em casa. Que a mãe não tenha pressa para chegar. São frases necessárias. Tratamos essa questão como prioridade máxima.

Você falou no início que há pessoas que adquirem vícios, que começam a dirigir cedo, sem formação, quase que de forma intuitiva. Como é tratada essa questão do álcool, principalmente entre os jovens?
Também como prioridade. Lá na nossa aula, o nosso foco é falar para os alunos sobre o que pode acontecer se eles tomaram álcool e pegaram a direção. Um aluno até uma vez questionou, falando: “mas eu já bebi uma cerveja e não acontece nada”. A gente já explicou, explica sempre, que o álcool não tira a sua percepção completa. Ele diminui a sua reação e o seu tempo de reação. Então, muitas vezes, uma cerveja pode ser fatal.


Você acaba com o mito de que mulher na direção é um problema. Como lida com isso?
As mulheres hoje estão buscando independência. A mulher já dominou o mercado de trabalho, né? Eu, como empreendedora, mulher, mãe, mãe atípica, observo a mulher não somente no trânsito, mas em trânsito. O local da mulher é onde ela quiser. Eu gosto muito mais da direção feminina do que da masculina, porque é uma direção mais consciente, pensando nos filhos. É o tempo todo pensando na segurança dos filhos… meu filho tem que estar na cadeirinha… se alguém bater no meu carro, vai machucar o meu filho. Então, mãe tem um instinto protetor que o homem muitas vezes não tem. Na minha opinião, a direção feminina é mais delicada e mais voltada para a direção defensiva e pensando sempre na proteção.
 

Para a gente fechar, você é a mãe atípica. Como que é lidar com isso tudo e ser a mãe atípica?
Eu vivo isso. Sei que mães como eu, exatamente hoje no seu dia maior, têm que estar ao volante de tudo. Ser mãe atípica é aprender todos os dias com o filho, estar dentro do carro com uma crise e tentar se concentrar apenas no trânsito. E quando você é mãe atípica, você se divide. Você precisa de muito socorro… você precisa de ajuda. E eu, na autoescola, tenho voltado a ajudar mães atípicas. Eu tenho disponibilizado a autoescola para ajudar mães atípicas. Porque eu sei que os pais precisam trabalhar, eles são os provedores. E as mães muitas vezes estão em casa e não levam o filho para um tratamento porque não têm como levar. Então, pelo transporte, por tudo, eu me disponibilizei. Por entender a real necessidade e situação das mães, ajudar todas as mães atípicas que me procuraram. Elas vão falar direto comigo, elas vão ter um tratamento especial em tudo.