×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Adolescência – Tiago Abud

.

Artigo
Por Redação
20 de abril de 2025 - 0h01
Foto: Reprodução/Netflix

Tiago Abud – Articulista e Defensor Público – Para nós, do sistema de justiça, ver meninos algemados e presos não é novidade. Sim, adolescentes, embora a lei eufemisticamente fale em medida socioeducativa, são privados de liberdade em instituições totais, como adultos. A diferença é o tempo da medida. É comum, portanto, vermos, em dias de audiência, meninos e meninas transitando nos corredores do Fórum, algemadas, para serem levados à presença do Estado-Juiz.

A série britânica “Adolescência” faz sucesso estrondoso na Netflix, contando a história de um adolescente, de apenas treze anos de idade, acusado de matar, a facadas, uma colega de escola. Mas o porquê desse retumbante sucesso?

A primeira resposta decorre dela tratar de um menino branco, comum, que podia ser nosso filho, estudante de uma escola de classe média, que aparentemente vive uma vida confortável proporcionada por sua família. Essa configuração familiar nos identifica e, logo, gera empatia. Podia ser um dos nossos. Diferente dos jovens normalmente algemados do Fórum.

Depois, o sucesso é fruto da abordagem do maior problema mundial para a educação de crianças e jovens de classe média e alta: o acesso às novas tecnologias e às redes sociais. Além do gap geracional entre pais e filhos, a série desnuda a completa ausência de controle dos pais em relação aos conteúdos que jovens acessam e o que fazem ou conversam nas redes sociais.

Nessa fase de desenvolvimento e crise de identidade, jovens são abraçados por comunidades de pessoas desconhecidas, mas que os acolhem sem saírem de casa, abordando pontos fracos da masculinidade, como o caso dos celibatários involuntários ou daqueles que sofrem bullying no ambiente escolar. A partir daí, uma vez recebidos e identificados com essas comunidades, se inserem no mundo do crime virtual e na vida real.

É um soco no estômago ver que, a despeito de alguma educação ministrada pela família, esses jovens acham que não estão errados. Subverte-se, assim, o limite do certo e do errado e inverte-se a lógica da recompensa. Matar animais, agredir grupos minoritários, violentar mulheres, atacar escolas, passa a ser um ato heroico. Os agressores viram a figura do “Sancto”, uma categoria nativa surgida nesses grupos, para endeusar esses violadores de regras.

No Brasil, nos últimos doze anos, cinquenta e seis crianças e jovens morreram por aceitarem participar de desafios surgidos das redes sociais. É urgente limitar o uso de telas por crianças e adolescentes e controlar o acesso deles aos conteúdos. É necessário e premente falar sobre e com os nossos adolescentes, sob pena de sermos a próxima família Miller.

“O conteúdo dos artigos é de responsabilidade exclusiva dos autores e não representa a opinião do J3News”.