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Arte e moda afro-brasileiras como transformação social

O ativista cultural e ator Rossini Reis aborda a moda afrocentrada e o combate ao racismo

Moda
Por Ocinei Trindade
29 de novembro de 2024 - 12h37

Rossini Reis é ativista cultural e ator de teatro, além de estilista de moda afrocentrada (Acervo Pessoal)

O ator, diretor de teatro e ativista cultural Rossini Reis acredita na arte como ferramenta de mudança social, em Campos dos Goytacazes. Participa ativamente do projeto de moda afrocentrada, que nasceu para fortalecer a identidade negra na cidade. Segundo ele, a proposta surgiu na ITEP (Instituto de Tecnologia e Educação Popular) com o objetivo de combater preconceitos e promover o orgulho de ser negro em uma sociedade onde essa maioria populacional ainda sofre discriminação e invisibilidade.

“Essa ideia da moda nasceu da necessidade de desenvolvimento da identidade negra. Muitas pessoas não se identificam como negras, e nossas raízes culturais são vistas de forma pejorativa. A moda se tornou uma mola mestra para impulsionar o reconhecimento e o orgulho de ser negro sem medo de julgamentos”, explica Rossini.

Moda Afrocentrada (Divulgação)

Rossini relata que o projeto, que já está na segunda turma, busca estruturar-se como uma iniciativa de economia solidária. A intenção é criar oportunidades de renda por meio da confecção de roupas, participação em feiras e a valorização de uma estética própria que foge dos padrões eurocentrados.

“Se houver maior investimento, a moda afrocentrada pode gerar um impacto significativo na economia local. O interesse tem crescido, com pessoas buscando peças e cursos para se aprofundar nesse segmento. É uma chance de desenvolver a identidade e movimentar o mercado de maneira inovadora”, afirma.

Consciência Negra e Educação

Rossini Reis é formado em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia de Campos, bacharel em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira, pós-graduado em Neuropsicopedagogia, e atualmente cursa pós-graduação em História e Cultura dos Povos Indígenas e Africanos no Brasil. Formou-se em design de moda afrocentrada pela Uenf. Atuou como pedagogo no Museu Histórico de Campos, foi coordenador artístico do Teatro de Bolso Procópio Ferreira e ministra palestras sobre temas antirracistas, além de dar aulas em curso livre de teatro.

Sobre a importância da Consciência Negra, Rossini destaca que ainda é necessário trazer à tona as desigualdades raciais no Brasil. Ele acredita que essa data simboliza a luta por direitos que foram negados desde o período escravocrata e continuam sendo ignorados.

“Não podemos falar em igualdade racial porque ela ainda não existe no Brasil. O 20 de Novembro é uma oportunidade para mostrar que não estamos em pé de igualdade. Precisamos de conscientização o ano inteiro, mas essa data marca um momento de reflexão, especialmente para aqueles que insistem em negar o racismo estrutural”, declara.

Estilo e preconeito

A moda desempenha um papel essencial na transformação da sociedade e na construção da consciência negra, segundo Rossini Reis. Ele compartilha a própria experiência de superação de inseguranças em relação às cores e estilos que usa, ressaltando que a maneira de se vestir pode ser uma afirmação cultural e política. Para ele, o potencial transformador da moda vai além do mercado. Ele acredita que essa expressão cultural pode estimular o respeito e o interesse pela história e identidade negra, promovendo uma sociedade mais justa e consciente.

Projeto de moda na Uenf (Divulgação)

“Durante minha adolescência, evitava certas cores por achar que não combinariam comigo. Hoje, visto o que quero, sem me importar com a opinião alheia. A moda comunica muito do que pensamos e acreditamos. É um meio de expressar nossa cultura e idéias. Há desafios enfrentados por marcas de moda afrocentrada no Brasil. Há  preconceito velado que valoriza produtos de marcas estrangeiras, mas questiona os preços de itens produzidos por empreendedores negros. Ainda somos desrespeitados enquanto raiz cultural. Consumimos marcas americanas e europeias, mas hesitamos em valorizar as nacionais, especialmente as criadas por negros. Isso precisa mudar. Precisamos reconhecer e exaltar nossas raízes africanas”, conclui.