Marcos da Silva Gonçalves. Escrito assim, parece o nome de uma pessoa comum. Mas, quando se escreve Doutor Maninho, a história muda. Formado pela Faculdade de Medicina de Campos, na turma de 1994, ele foi peça importante na engrenagem que colocou a Saúde de Campos nos trilhos, embora reconheça que ainda há muito que avançar.
Se fosse para adivinhar a especialidade médica de Doutor Maninho, a maioria iria dizer cardiologista, porque faz seu trabalho com coração. Mas ele é ortopedista e parece adequado para quem enfrentou um setor que estava por motivos diversos com uma fratura quase exposta.
Todo esse trabalho fez brotar em sua vida, aos 50+, uma especialidade que desconhecia: a de político. Disputou sua primeira eleição para vereador e obteve 3.884 votos, a mais expressiva votação na chamada “pedra”. Nesta entrevista, ele faz reflexões sobre saúde e política.
Vamos começar falando de sua primeira disputa eleitoral. O senhor pode fazer uma reflexão sobre isso?
No último dia 6 de outubro, vivi uma experiência que marcou profundamente minha trajetória. Pela primeira vez, coloquei meu nome à disposição dos eleitores, um passo que até então nunca havia cogitado. Sempre estive focado em contribuir nos bastidores, atuando em cargos técnicos e burocráticos, longe da exposição pública, em funções nas quais os holofotes não estavam sobre mim. Na verdade, comecei a direcionar intencionalmente meu posicionamento para as eleições a partir de abril deste ano, devido ao tempo que levou para ser definido se seria de fato o meu nome que viria como candidato do grupo. A partir daí, tracei uma estratégia de candidatura em um cenário político no qual havia tantos candidatos e tantos partidos diferentes. E, convenhamos, é uma janela de tempo insignificante.
Mas o resultado foi gratificante. O mais votado da chamada “pedra”, como se diz na política. Como viu isso?
Para minha total surpresa e profunda gratidão, fui recebido com uma votação expressiva de 3.884 votos. Esse número revela o quanto minha proposta foi acolhida e o quanto tantas pessoas depositaram em mim sua confiança. Além de me honrar imensamente, essa votação reflete uma demanda que muitas vezes passa despercebida: a de eleitores que buscam um perfil de representatividade focado no serviço público e na dedicação técnica e ética. Acredito que minha candidatura tenha catalisado essa lacuna, mostrando que há muitos eleitores que querem alguém com minha experiência e valores na Câmara.
Então seu perfil foi bem avaliado?
Apesar de o sistema partidário e a alta legenda terem impedido minha eleição direta, esse apoio não deixa de ser um sinal muito claro para mim de que nossa comunidade valoriza esse perfil de liderança e de que há espaço para essa representação. Recebo esses votos como mais que um número, uma manifestação de expectativas e de desejo de ver na política alguém que traga experiência e trabalho prévio em sua bagagem.
Mas existe uma clara chance de você assumir a cadeira de vereador. Como avalia isso?
Independentemente de uma cadeira formal na Câmara, sigo comprometido com minha missão de servir, sabendo que o futuro reserva oportunidades para dar continuidade a esse trabalho. Cada voto confiado a mim será um lembrete constante do quanto a participação cidadã é essencial e do quanto a nossa cidade precisa de representantes prontos para ouvir, entender e agir de fato, sem enrolação, sem promessas vazias, sem egos inflados. Esse resultado me diz que não estava errado em meu propósito desde o início e que este é o caminho de todo homem comprometido com o bem público. O trabalho sério que é um fim em si próprio para além dos resultados. Então, agradeço ao povo de Campos… agradeço ao prefeito Wladimir Garotinho e, principalmente, agradeço a Deus.
Uma alteração no organograma da próxima gestão e uma cadeira da Câmara é sua. Preparado?
Sou o primeiro suplente da maior bancada. Então, qualquer movimento que o prefeito Wladimir faça, a partir de uma reforma administrativa, por exemplo, no ano que vem, vai passar por mim. Meu nome está, como sempre esteve, à disposição de Wladimir para cumprir qualquer tipo de missão, seja em qualquer lugar, onde possa ser útil. Faço parte de um grupo político que tem diretrizes e plano de governo.
O senhor tinha essa vocação política?
Na verdade, eu descobri um lado político meu que até então não conhecia. Eu sempre trabalhei muito em política de bastidor, eu acho que na verdade a política está entranhada em tudo… até no seu próprio grupo de amigos de esporte, você tem uma representatividade política. A política é o relacionamento interpessoal. Eu sempre, nesse sentido, fui político. Mas não me imaginei, num curto período de tempo, ter me lançado a candidato, ter participado desse evento político partidário da maneira como eu entrei. Ser bem votado na pedra, na verdade, eu fui o mais votado na pedra, para mim, um motivo de honra muito grande.
O senhor se formou em medicina em Campos, fez residência na Universidade do Estado do Rio (Uerj). Como o senhor avalia a Saúde em Campos e o que precisamos para avançar?
Essa é minha vocação, como médico e como político. A Saúde em Campos é bem avaliada e está pavimentada para avançar. Esse foi um dos motivos pelos quais eu me lancei candidato e também aceitei, no início da gestão do nosso prefeito, encarar essa missão de vir também como gestor da Saúde, uma missão que eu acho que entendo como muito importante. É uma missão muito difícil, porque ser gestor na Saúde é complicado, principalmente em uma cidade como Campos, que tem uma extensão territorial gigante. Nós assumimos sabidamente uma gestão, um governo vindo de uma gestão bastante complicada. Então, foi um desafio muito grande, mas por acreditar que Campos merece uma medicina de boa qualidade, eu aceitei.
E a Saúde aqui atende muitos municípios, como se fosse uma capital. É um grau de grande dificuldade?
Muito complicado, porque tem uma localização estratégica, e principalmente nos últimos anos, na nossa gestão, os moradores das cidades ao redor, cada vez mais, vêm transferindo o cartão SUS deles para Campos. Nós temos mais de mil cartões SUS de pacientes que são de municípios vizinhos aqui em Campos. Em nosso município, temos a responsabilidade contratual de atender pela rede de urgência/emergência São Fidélis, São Francisco e São João da Barra. Mas, quando se trata dos procedimentos eletivos, essas cidades têm a responsabilidade de resolver o problema dos seus munícipes. Temos visto cada vez mais um número muito grande de munícipes dessas regiões transferindo cartão do SUS para serem atendidos pela nossa rede de saúde.
O senhor pode fazer uma avaliação da rede de Saúde como um todo?
Campos tem uma rede de saúde como poucas cidades no Brasil têm, inclusive grandes cidades do interior do Estado de São Paulo, a título de comparação. Campos tem uma rede própria do município, com dois grandes hospitais e agora com um terceiro, que é o São José, na Baixada. O Hospital Ferreira Machado, que tem um perfil de urgência vermelho, e o Hospital São José, que tem um perfil de urgência clínica, com várias UBSs, com as UPHs, além do Hospital Geral de Guarus, e ainda temos quatro grandes hospitais contratualizados, que são hospitais que prestam serviços para a rede Campos de Saúde Pública: a Beneficência Portuguesa, a Santa Casa, o Álvaro Alvim e o Plantadores de Cana. E ainda destaco o Grupo IMNE, através das unidades do Beda. Todos prestam serviços também de excelência para a população campista em atendimento.
Falam em um hospital infantil. Já existe algo pensado?
Teremos um Hospital da Criança de pequeno porte. Hoje já temos a Clínica da Criança, que foi um projeto que nós implementamos, com perfil assistencial infantil, com cinco pediatras que fazem esse atendimento de emergência por dia. Essa unidade vai se transformar no Hospital da Criança de pequeno porte, onde nós vamos ter também internação, atendimento clínico, alguns procedimentos cirúrgicos A internação será de curta permanência. Quando for necessária uma internação hospitalar, em uma unidade de terapia intensiva, essas crianças serão transferidas para outros hospitais. E isso já é um grande avanço.