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Votos dados em eleições são como rodas gigantes

Cada pleito é um pleito. Não se misturam

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
21 de outubro de 2024 - 15h39
Foto: Divulgação

Agora, duas semanas após as eleições, quando o frenético noticiário arrefeceu e as queixas, dúvidas e discussões foram solucionadas – ao menos em grande parte –, afigura-se oportuno sublinhar traço frequente e que neste pleito teve exemplos marcantes.

Antes, cabe destacar que nenhuma eleição é igual. Cada qual tem suas peculiaridades, em especial pelo tempo decorrido entre uma e outra: dois ou quatro anos.

Logo, comparar umas com outras, é exercício puramente especulativo, particularmente em se tratando de disputas para cargos distintos. Porém, como mera ilustração, impressiona quando um candidato recebe votação com diferença descomunal relativamente a outro momento.

Anthony Garotinho

À guisa de curiosidade, o ex-prefeito de Campos e ex-governador, Anthony Garotinho, na eleição de 2010 foi o deputado federal mais votado do Estado do Rio de Janeiro e o segundo do Brasil, alcançando 694.862 mil votos. Agora, concorrendo para vereador do Rio, somou apenas 8.753 votos. Ressalve-se, sua candidatura chegou a ser impugnada pela Justiça Eleitoral e somente liberada no dia da eleição, o que, naturalmente, prejudicou sobremaneira a votação.

De toda sorte, com 64 anos, ainda poderá trilhar um bom caminho pela frente com possibilidade de concorrer a vários pleitos eleitorais.

Disputa presidencial

Como registro, vale lembrar que em 2002, na eleição de Lula para presidente, Garotinho obteve 15,2 milhões de votos e teve chance de ir ao 2º turno, sendo batido por José Serra, que somou 19,7 milhões. Garotinho ficou na terceira posição, com 5 milhões de votos a mais que Ciro Gomes, que viria a disputar mais duas eleições para presidente. Ciro, hoje, está com 66 anos.

De 151 para 13 mil votos

Se há uma coisa que as eleições nos ensinam é que as urnas são tão soberanas quanto implacáveis e surpreendentes. Sobretudo em disputas para o executivo, via de regra, conquistar uma votação gigantesca, com vitória no 1º turno, pode, no futuro, assumir um gosto amargo.

Evidente que não é uma constatação absoluta – mas de certa frequência. Primeiro, porque a vitória esmagadora pode, como se costuma dizer, ‘subir à cabeça’, com ‘ajuda’ dos bajuladores de plantão. Segundo, enfraquece a oposição e o candidato vitorioso governa em ‘céu de brigadeiro’, sem ficar atento a possíveis turbulências.Na eleição municipal de 2016, Rafael Diniz trabalhou para disputar o 2º turno. Abertas as urnas, liquidou o pleito logo no 1º, com a extraordinária e surpreendente votação de 151 mil votos – quase o dobro do segundo colocado.

Sem qualquer juízo de valor (trata-se, aqui, apenas de números), 4 anos depois, na campanha de reeleição (2020), Rafael obteve 13.530 votos, o que correspondeu a menos da metade dos votos conferidos ao terceiro colocado.

Joice, cerca de 0,1%

Ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara, a então deputada federal Joice Hasselmnn conquistou o mandato em 2018 com expressivos 1.078.666 votos. Agora, no pleito de outubro, concorreu a uma vaga de vereadora por São Paulo e obteve 1.672 votos.

Quem não prestar muita atenção, pode parecer que Joice teve pouco mais de 1%. Mas não. Foi pouco mais de 0,1% – o que é algo inabitual.

Não menos inusitada foi a entrevista dada semana passada ao Estadão quando disse que a sensação foi “como se houvesse reconquistado o poder de escolher seu próprio caminho”. Contou, ainda, que ficou tão feliz com as perspectivas que se abrem que comemorou bebendo algumas garrafas de champanhe.  

Resta a reflexão que se a fragorosa derrota foi tão boa assim, não teria sido melhor nem concorrer?