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28, uma avenida cada vez mais perigosa

Segundo especialista, a maior parte dos acidentes é causada pela falta de educação

Especial J3
Por Yan Tavares
15 de setembro de 2024 - 0h00

Fotos : Silvana Rust | Josh | Arquivo Pessoal

Com sete quilômetros de extensão, a Avenida 28 de Março é uma das principais vias de Campos. Do cruzamento com a Av. Alberto Torres, onde é situada a antiga Estação da Rede Ferroviária Federal (atual sede da Secretaria de Educação), até o Trevo da Penha, trata-se de um percurso com intenso fluxo de veículos e inúmeros problemas ligados ao trânsito até os dias atuais. Constantemente, o J3News registra casos de acidentes na 28 de Março. Nos últimos meses não foi diferente: capotamentos, atropelamento de ciclista em ciclovia, acidente entre moto e caminhão, colisão de carro com poste, choque de carro com moto, veículo invadindo ciclovia e ficando pendurado em mureta. Situações que resultaram em pessoas feridas e transtornos no trânsito em diferentes pontos da avenida.

Relembre alguns casos
Na noite do último dia 4, um caso ganhou repercussão nas redes sociais: um carro se chocou contra a mureta da ciclovia Patesko, no cruzamento da Avenida 28 de Março e Rua Barão de Miracema, área central do município. O veículo ficou pendurado. O local registra frequentemente ultrapassagens indevidas, mesmo com o sinal fechado.

No fim de agosto, um motociclista ficou ferido após colidir com um caminhão, próximo à Rua Cardoso Moreira, no Parque Turf Club. No mesmo mês, um motorista perdeu o controle do veículo e capotou no cruzamento das avenidas 28 de Março e Arthur Bernardes. Em ambos os casos, as vítimas precisaram ser socorridas ao Hospital Ferreira Machado.

Já no fim do mês de julho, um episódio chamou atenção. Em menos de 24 horas, dois acidentes foram registrados na 28 de Março. Próximo à antiga Estação Ferroviária, um motorista perdeu o controle do carro e derrubou um poste da rede elétrica. O trânsito precisou ser interrompido. O caso aconteceu na manhã do domingo, dia 21. Já na noite anterior, um carro capotou em um dos cruzamentos da via, próximo à área central, e parou com as rodas para cima.

Ainda em julho, um carro colidiu com uma motocicleta, em um cruzamento da 28 de Março, próximo ao Parque Santo Amaro. Os dois homens que estavam na moto ficaram feridos.A via passou por ações de reestruturação nos últimos anos, tanto com a melhoria de sinalização, quanto reparos na ciclovia Patesko, além de implantação de ciclofaixa. Porém, os acidentes continuam sendo um problema constante. 

Luiz Cláudio Barbosa

Falta de educação no trânsito é destacada
Hoje trabalhando como caminhoneiro, Luiz Cláudio Barbosa já foi taxista e motorista de aplicativo na cidade. Ele aponta que o alto índice de acidentes na extensão da 28 de Março tem um fator que se destaca: a falta de educação no trânsito.

“Para mim, o maior problema está na imprudência dos condutores, falta de respeito e educação no trânsito. Se as pessoas respeitassem a sinalização e o limite da via, não teria esse alto índice de acidentes”, pontua. 

Daniel de Aguiar

É o que também enfatiza Daniel de Aguiar, taxista há 20 anos: “Penso que precisava ter uma forma de desafogar mais o trânsito na 28. Tem momentos em que o fluxo fica muito embolado. Mas o principal problema que vejo é a imprudência. Vejo muita atitude imprudente, especialmente de madrugada e aos fins de semana”, relata.

José Roberto Menezes


O montador de móveis José Roberto Menezes utiliza a via para se deslocar de casa ao trabalho de bicicleta e destaca que o trajeto ficou mais seguro após a ciclofaixa ser implantada. 

“Essa parte próxima à Estação era um trecho perigoso. Mas, depois da faixa, melhorou bastante para nós, ciclistas. O que vejo muito e não entendo é o fato de ainda ter tanto caso de carros subindo e invadindo a ciclovia, especialmente no percurso a partir da Beira-Valão (Avenida Josè Alves de Azevedo) no sentido do Trevo da Penha. Com a sinalização que tem hoje, não era para acontecer tanto”, comenta.

Thayane Riscado

Thayane Riscado trabalha como operadora de caixa em um supermercado na Avenida 28 de Março. Ela conta que utiliza a ciclovia em toda a extensão da via e aponta uma questão específica com maior necessidade de ser resolvida para evitar que mais acidentes aconteçam: “Na minha experiência de passar pela ciclovia de uma ponta à outra da 28 de Março, entendo que há vários locais em que precisam ser verificados os sinais, por exemplo. Ter uma atenção maior, para nossa segurança. Mas a área onde fica um shopping, necessita de uma atenção redobrada. Ali tem três sinais, dois deles são paralelos e por vezes geram confusão no cruzamento e os acidentes acabam acontecendo”, analisa.

Gerente de um posto de gasolina na mesma região, Romário Pereira relata que acidentes são comuns, exatamente no quarteirão entre a Prefeitura, o shopping e um hotel.

“É um cruzamento muito perigoso mesmo. A gente presencia muita batida, engavetamento, diversos acidentes. Uma das causas que identificamos bastante durante o dia é a falta de atenção pelo uso do celular no trânsito. Tem ponto de ônibus ali próximo ao shopping. Acontece muito das pessoas se descuidarem no celular, bater na traseira do ônibus e provocar uma sequência de batidas. Outro ponto é a imprudência, no sentido, por exemplo, de não respeitar o sinal amarelo, que requer atenção e cuidado. As pessoas acabam passando de qualquer jeito, correndo risco dele fechar e causar graves acidentes. Vimos um motoqueiro ser arrastado por um caminhão no ano passado. As pessoas também respeitam pouco os ciclistas no trânsito. Deveria ter mais ações de educação para os condutores nesses sentidos”, comenta.

Proibição de veículos pesados
Motorista de aplicativo na cidade, Douglas Salomão opina que o trânsito melhorou nas últimas semanas na Avenida 28 de Março após a proibição da circulação de carretas, feita pela Prefeitura. Por outro lado, ele aponta para ineficiência dos semáforos inteligentes instalados nos últimos meses pelo governo municipal.

“Aparentemente, colocaram esses semáforos para solucionar, mas para mim eles são piores que os antigos. Não são sincronizados. A gente para em um sinal, quando ele abre para seguir o fluxo, a gente para logo à frente em outro. Não desafoga o trânsito. Não tem nada de inteligente nisso. Inclusive, tem o mesmo problema do outro: quando chove, para de funcionar. Quanto aos acidentes, vejo muita imprudência por parte dos condutores. A forma que andam em alta velocidade, por exemplo. Porque a pista é boa, não dá para reclamar do asfalto. O que estou percebendo é uma melhora nos últimos dias após a restrição de carretas pela cidade. Mas a 28 poderia melhorar muito em relação ao trânsito. E os semáforos pareciam uma saída. Porém, até agora não deram nenhuma diferença”, questiona. 

Semáforos inteligentes
Na última atualização, divulgada pela Prefeitura, em janeiro de 2024, o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) afirmou que já haviam sido instalados semáforos inteligentes em cerca de 40 cruzamentos pela cidade – o que corresponderia a 90% do projeto do novo parque semafórico. Boa parte deles está na Avenida 28 de Março. Além de ter no projeto a sincronização entre os sinais para facilitar o andamento do trânsito, os semáforos possuem câmeras para acompanhar o fluxo de veículos e identificar placas. O projeto teve custo de R$ 16 milhões. 

O J3News solicitou à Prefeitura um balanço dos efeitos do trânsito na 28 de Março após a implantação dos semáforos inteligentes, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. A reportagem também questionou sobre uma possível programação do IMTT para ações educativas no trânsito, mas o órgão não respondeu. A última iniciativa neste sentido aconteceu há quatro meses, motivada pelo Maio Amarelo, campanha nacional de conscientização no trânsito.

Especialista reforça imprudência como fator crítico
O especialista em trânsito Felipe Said, do Sest Senat, destaca que as ações imprudentes são hoje o principal fator para a causa de acidentes. Segundo ele, as estatísticas indicam que 90% dos acidentes são causados por falhas humanas.

“A gente tem desde 1997 a publicação do Código de Trânsito Brasileiro, que começou a vigorar no ano seguinte e permanece até os dias atuais. De lá para cá, temos dados estatísticos que apontam as imprudências entre os maiores causadores de acidentes de trânsito. Essas imprudências são cometidas tanto por motoristas, motociclistas, pedestres e ciclistas. O telefone celular, por exemplo, hoje é o principal vilão do trânsito. Nem todos que frequentam o trânsito ingerem bebida alcoólica, mas todos ou grande maioria tem celular. E infelizmente fazem uso enquanto utilizam vias públicas”, analisa. 

E acrescenta: “Além disso, a cidade ganhou ciclofaixa nas vias. Mas a gente vê motociclistas usam a ciclofaixa e vê ciclistas fora dela. São recorrentes também as cenas de pedestres atravessando fora da faixa indicada para eles, além de motoristas fazendo contornos proibidos. Tudo isso acontece com frequência na 28 de Março, até por ela ser uma via de grande circulação”, complementa. 

Felipe avalia a situação dos semáforos inteligentes implantados pelo município como algo que poderia melhorar o trânsito, mas volta a reforçar que esse está longe de ser o principal problema:

“Entendo, sim, que o trânsito poderia ganhar uma fluidez maior através da programação desses semáforos, com uma espécie de onda verde sendo criada nas vias principais. Mas, volto a frisar que a maior questão da cidade está na imprudência dos condutores. Trabalho como instrutor em outras cidades e posso afirmar que Campos é a que tem maior quantitativo de avanço de sinal vermelho. O que mostra que o maior problema está, de fato, na falta de educação no trânsito”, conclui Said.

Posicionamento da Prefeitura
Na última atualização, divulgada pela Prefeitura em janeiro de 2024, o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) afirmou que já haviam sido instalados semáforos inteligentes em cerca de 40 cruzamentos pela cidade – o que corresponderia a 90% do projeto do novo parque semafórico. Boa parte deles está na Avenida 28 de Março. Além de ter no projeto a sincronização entre os sinais para facilitar o andamento do trânsito, os semáforos possuem câmeras para acompanhar o fluxo de veículos e identificar placas. O projeto foi à rua com custo de R$ 16 milhões. 

O J3News solicitou à Prefeitura um balanço dos efeitos no trânsito na 28 de Março após a implantação dos semáforos inteligentes, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Por meio de nota, o IMTT afirmou que executa ações educativas ao longo do ano. Além, disso, o Instituto informa que está em execução o projeto de fiscalização eletrônica, com finalização de estudos para coibir as irregularidades cometidas no trânsito, finaliza a nota.