Da segunda geração de sua família na indústria da cerâmica em Campos, Mateus de Azevedo Henriques, 39 anos, assumiu o Sindicato dos Ceramistas que reúne todas as cerâmicas e olarias da Baixa Campista, formando um segmento forte da economia do município. Bem mais jovem que os que o antecederam, Mateus acumulou experiências desde cedo e hoje é sócio proprietário da Cerâmica Santa Edwiges de Campos Ltda, onde introduziu um estilo de gestão obtendo bons resultadas.
Nesta entrevista ele fala da importância do Parque Cerâmico para a economia regional. Ao todo são 114 indústrias que geram um expressivo punhado de empregos, que produzem tijolos, telhas e blocos de vedação para o mercado da construção civil, interno e também para a região metropolitana, o chamado Grande Rio. Mateus disse que os ceramistas já estão fazendo parte de uma pauta conjunto do segmento produtivo da economia regional, alinhando propostas com outras entidades como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Firjan, Sindicato Rural. Entre outros.
Você assumiu no final do ano passado o Sindicato dos Ceramistas, que é um segmento forte da economia do município. O parque fabril, hoje, da Baixada Campista, conta com quantas unidades?
No final do último ano, assumimos a liderança do Sindicato dos Ceramistas, uma organização que representa um dos segmentos mais relevantes para a economia da Baixada Campista. Este setor possui atualmente um parque fabril com 114 unidades em plena operação, abrangendo uma variedade de produtos cerâmicos, essenciais para a construção civil. Entre esses produtos, destacam-se blocos de vedação, lajes, blocos maciços, telhas, e elementos vazados, popularmente conhecidos como cobogós. A diversidade e especialização dessas unidades fabris refletem a importância da cerâmica para o desenvolvimento local e regional, contribuindo significativamente para a economia e gerando empregos diretos e indiretos. A capacidade produtiva do setor não apenas supre a demanda interna do município, mas, também desempenha um papel crucial na oferta de materiais para outras regiões, especialmente a área metropolitana do Estado.
Dá para fazer uma estimativa de geração de empregos diretos e indiretos que o setor gera?
Atualmente, o setor ceramista na Baixada Campista é responsável pela geração de aproximadamente 2.500 empregos diretos, um número expressivo que demonstra a importância econômica e social desse segmento para a região. Além dos empregos diretos, é fundamental considerar o impacto significativo que esse setor exerce sobre a cadeia produtiva e de serviços, o que resulta em um elevado número de empregos indiretos. Estes empregos indiretos são gerados em diversos setores complementares, como o transporte, o comércio de insumos, a manutenção de equipamentos e serviços terceirizados, ampliando o alcance econômico do setor. A cerâmica, portanto, não apenas sustenta milhares de famílias na Baixada Campista, como também fortalece a economia local.
Você é da segunda geração de ceramistas de sua família e pode analisar bem o ambiente de negócios. O momento é bom para o setor?
Como representante da segunda geração de ceramistas em minha família, estou bem posicionado para avaliar o atual ambiente de negócios do setor. Infelizmente, o momento não é favorável para a cerâmica, devido à instabilidade que assola o setor da construção civil no Brasil. Essa incerteza reflete diretamente na demanda por produtos cerâmicos, resultando em um ritmo de obras mais lento e em um número reduzido de novos lançamentos imobiliários. Esse cenário desafia as indústrias ceramistas, que enfrentam dificuldades para manter níveis de produção constantes e garantir a sustentabilidade econômica de suas operações. Além disso, a volatilidade do mercado aumenta o risco para investimentos no setor, o que dificulta a expansão e a modernização das fábricas. Apesar dessas adversidades, as empresas ceramistas da Baixada Campista continuam operando, mas com um olhar cauteloso para as tendências do mercado. A recuperação do setor dependerá de uma retomada mais consistente da construção civil, que poderia reverter essa situação, trazendo um cenário mais estável e promissor para os ceramistas. Por ora, a indústria se mantém resiliente, mas atenta às mudanças que possam indicar uma melhora no ambiente de negócios.
A construção civil depois de um marasmo apresenta indicativos de uma retomada. Isso é fato?
O mercado da construção civil, após um período prolongado de marasmo, tem mostrado alguns sinais de recuperação, mas ainda não podemos considerar isso como uma retomada consolidada. A percepção dos empresários do setor ceramista é de que o mercado permanece inconstante, com meses de alta demanda seguidos por períodos de baixa procura. Essa oscilação dificulta o planejamento a longo prazo e traz incertezas quanto à sustentabilidade do crescimento observado.
A produção em Campos já começou a atender a demanda interna, ou o foco mesmo continua sendo a área metropolitana?
A produção ceramista em Campos dos Goytacazes está plenamente capacitada para atender à demanda interna, desempenhando um papel crucial no abastecimento local. Além disso nosso mercado atende todo estado do Rio com destaque pra região metropolitana Sul fluminense e parte do vizinho estado do Espírito Santo. A capacidade produtiva das fábricas locais é suficientemente robusta para suprir as necessidades tanto de Campos quanto de outras regiões, com um volume de produção que se mantém elevado mesmo diante das oscilações do mercado. A área metropolitana, com sua concentração populacional e constante expansão urbana, demanda grandes quantidades de blocos, telhas e outros materiais cerâmicos, o que justifica o direcionamento da produção para essa região. Ao mesmo tempo, a capacidade de atender a ambos os mercados – interno e metropolitano – demonstra a versatilidade e a importância estratégica do parque fabril da Baixada Campista.
Qual o percentual de ociosidade no parque fabril? Estamos produzindo quanto e quanto poderíamos estar produzindo?
Atualmente, o parque fabril ceramista da Baixada Campista opera com uma capacidade instalada para produzir cerca de 90 milhões de peças cerâmicas do tipo 9x19x19 por mês. No entanto, o nível atual de produção está em torno de 55 milhões de peças mensais, o que representa uma ociosidade significativa de aproximadamente 39% em relação ao potencial total de produção.
Existe um movimento em Campos de unir as entidades representativas de classe: CDL, ACIC, Sindicato Rural, Firjan e outras. O Sindicato tem se aproximado deste núcleo?
Sim, o Sindicato dos Ceramistas têm se engajado de maneira significativa no movimento de unificação das entidades representativas de classe em Campos dos Goytacazes, como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), a Associação Comercial e Industrial de Campos (ACIC), o Sindicato Rural e a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), entre outras. A participação ativa nas reuniões e discussões com essas entidades reflete a importância de uma atuação conjunta e coordenada, uma vez que essas organizações representam diferentes setores vitais para a economia do município. A integração entre essas entidades é fundamental para fortalecer a representatividade e a capacidade de articulação junto ao poder público, promovendo ações que beneficiem o desenvolvimento econômico e social da região. Ao manter um diálogo constante e alinhado com essas entidades, o Sindicato dos Ceramistas busca contribuir com sua experiência e conhecimento da realidade local, propondo soluções e estratégias que possam impactar positivamente o setor e o município como um todo. Essa união de esforços permite que as entidades compartilhem informações, recursos e objetivos comuns, criando uma base sólida para a defesa dos interesses coletivos e para o avanço de iniciativas que impulsionam o crescimento sustentável da economia regional. Além disso, a participação do Sindicato neste núcleo de entidades é essencial para a construção de uma visão de longo prazo que considere as necessidades de todos os setores envolvidos, garantindo que as políticas públicas e as decisões estratégicas sejam tomadas de forma mais abrangente e inclusiva. Em suma, a aproximação entre o Sindicato dos Ceramistas e outras entidades de classe em Campos dos Goytacazes é uma iniciativa de grande relevância, que reforça o compromisso com o desenvolvimento integrado e a valorização do potencial econômico da região.
Qual a expectativa do setor para os próximos cinco anos?
As expectativas do setor ceramista para os próximos cinco anos estão fortemente condicionadas às dinâmicas de mercado e às políticas públicas voltadas para a construção civil. O setor deve se manter vigilante e adaptável às movimentações do mercado, de modo a não perder espaço para concorrentes, que também buscam consolidar sua presença. A vantagem competitiva do setor ceramista da Baixada Campista reside na alta qualidade de seus produtos, que combinam leveza, baixo impacto ambiental e uma tradição milenar comprovada ao longo dos anos. Essa combinação de fatores confere ao setor um diferencial importante, que o posiciona à frente de muitos concorrentes no mercado. No entanto, para que essas expectativas se concretizem, é fundamental que o governo amplie os investimentos em habitação, especialmente considerando o expressivo déficit habitacional que ainda persiste no Brasil.