No cenário empreendedor, um grupo se destaca não apenas pelo empreendedorismo em si, mas também pela dupla jornada que enfrenta, estamos falando das mães. Neste artigo exploro a predominância das mães entre as mulheres empreendedoras no Brasil, os desafios que enfrentam e as oportunidades que buscam aproveitar.
Nos últimos anos, temos observado um aumento significativo no número de mulheres que decidem empreender no Brasil, e entre elas, as mães representam uma parcela significativa. De acordo com dados do Sebrae, as mães empreendedoras representam cerca de 52% das mulheres que têm negócios próprios no país, de um total de 10,1 milhões de negócios que são comandados por mulheres. Esse fenômeno reflete uma série de fatores, incluindo a busca por flexibilidade no trabalho para cuidar da família (segundo a Rede Mulher empreendedora, este é o principal motivador para 87% das mulheres empreenderem), a necessidade de complementar a renda familiar e a busca por realização profissional e pessoal.
Já um outro dado da rede Mulher empreendedora, através do estudo Empreendedoras e seus Negócios, diz que em 68% dos casos de mulheres que se tornam mães, também se tornam empreendedoras. Ou seja, 7 em casa 10 mulheres que se tornam mães, encontram na maternidade um gatilho para abrirem suas próprias micro e pequenas empresas como saída para conciliar o trabalho e família, além de não deixar de lado a realização profissional. Mas conforme dados do estudo, isso não significa que as mães trabalham menos e sim que conseguem ter horários mais flexíveis, já que 27% das empreendedoras trabalham de 7 a 8 horas por dia, 25% de 4 a 6 horas e 23% de 9 a 10 horas. Os outros 25% da amostra trabalham abaixo ou acima dessas faixas.
Embora o empreendedorismo ofereça oportunidades de autonomia e realização, as mães empreendedoras enfrentam uma série de desafios únicos. Um dos principais desafios é conciliar as demandas do negócio com as responsabilidades familiares. Muitas vezes, essas mulheres têm que equilibrar o cuidado dos filhos com as tarefas diárias de administrar um negócio.
Além disso, as mães empreendedoras muitas vezes enfrentam dificuldades em acessar recursos financeiros e suporte empresarial, devido a barreiras estruturais e culturais. A falta de creches acessíveis e de políticas de licença-maternidade flexíveis são apenas alguns exemplos das lacunas que precisam ser abordadas para apoiar plenamente o empreendedorismo materno.
Segundo a Rede Mulher Empreendedora em um estudo realizado em 2022, 55% das mulheres empreendedoras enfrentaram dificuldades de obter crédito para financiar o seu negócio, enquanto apenas 33% dos homens enfrentaram a mesma dificuldade. Mas projetos de Lei como o 4360/21 da Câmara Federal, 904/23 e 1098/23 do Senado Federal visam facilitar o acesso ao microcrédito com linhas de crédito específicas através de bancos públicos, agências e instituições de fomento.
Apesar dos desafios, o empreendedorismo materno também oferece uma série de oportunidades e tem impactos positivos significativos para as famílias e a economia como um todo. Por um lado, o empreendedorismo permite que as mães criem horários flexíveis e tenham mais controle sobre seu tempo, o que facilita o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Além disso, as mães empreendedoras trazem perspectivas únicas para seus negócios, aproveitando suas experiências como mães para identificar necessidades não atendidas, gerenciar crises e prioridades, identificar e coordenar demandas, criar metas, acompanhar o desenvolvimento do negócio e as falhas, corrigir e propor melhorias no mercado, além de desenvolver soluções inovadoras. Esse aspecto leva a uma maior diversidade de produtos e serviços, bem como a uma maior inclusão de grupos marginalizados no mercado.
Segundo um estudo do Boston Consulting Group, a redução da diferença de gênero no mundo empresarial pode aumentar o PIB global em até US$ 5 trilhões, uma explicação para esse interessante incremento ao PIB global, é que homens têm de 4% a 6% mais chances de iniciar seus empreendimentos. O empreendedorismo feminino pode ajudar a mudar o mundo, onde os benefícios vão muito além de impulsionar o PIB global, com mais empreendimentos serão lançadas novas ideias, serviços e produtos no mercado mundial.
Para maximizar o potencial do empreendedorismo materno, é fundamental que as mães empreendedoras tenham acesso a recursos e suporte adequados. Isso inclui o acesso a financiamento acessível, programas de capacitação empresarial adaptados às suas necessidades e políticas de apoio à família que facilitem a conciliação entre trabalho e vida pessoal.
É sempre importante promover uma cultura empresarial que valorize e apoie o empreendedorismo materno, reconhecendo as contribuições únicas que as mães empreendedoras trazem para o mercado. Isso pode incluir a criação de redes de apoio entre mães empreendedoras, campanhas de conscientização sobre os desafios que enfrentam e políticas governamentais que incentivem o empreendedorismo feminino.
As mães empreendedoras desempenham um papel vital no cenário empresarial brasileiro, trazendo não apenas habilidades empresariais e inovação, mas também uma perspectiva única baseada em suas experiências como mães. Apoiar e capacitar essas mulheres não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia eficaz para promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável.
Por meio de políticas e iniciativas que reconheçam e valorizem o empreendedorismo materno, podemos criar um ambiente empresarial mais inclusivo e igualitário, onde todas as mães tenham a oportunidade de prosperar e contribuir plenamente para o desenvolvimento econômico e social do país.
