×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

A Economia do Cuidado e o trabalho Invisível da mulher: o lado invisível da economia

.

Economia
Por Sandro Figueredo
26 de abril de 2024 - 13h12

No panorama econômico global, existe um setor vital cujo valor muitas vezes é subestimado e até mesmo negligenciado, a economia do cuidado. Este setor abrange um vasto conjunto de atividades relacionadas ao cuidado de pessoas, famílias e comunidades, incluindo tarefas domésticas, cuidados com crianças, idosos, doentes e outras formas de apoio emocional e prático. Embora essas atividades sejam essenciais para o bem-estar humano e o funcionamento da sociedade, são frequentemente realizadas de forma não remunerada e, em grande parte, invisível. E, em muitos casos, é a mulher que desempenha um papel central neste trabalho.

O trabalho de cuidado desempenhado pelas mulheres é uma pedra angular da economia global, sustentando não apenas o funcionamento das famílias, mas também impulsionando outros setores econômicos. No entanto, sua contribuição não é devidamente reconhecida nos indicadores tradicionais de desempenho econômico, como o Produto Interno Bruto (PIB).

Se considerarmos a imensa variedade de tarefas que compõem o trabalho de cuidado, desde preparar refeições e cuidar das crianças até acompanhar idosos e pessoas doentes às consultas médicas,  fica claro que esse é um trabalho fundamental que sustenta o tecido social e econômico de uma nação.

Historicamente, o trabalho de cuidado tem sido atribuído predominantemente às mulheres. Essa distribuição desigual de responsabilidades é profundamente enraizada em normas sociais e culturais, que muitas vezes perpetuam a ideia de que o cuidado é uma obrigação natural das mulheres, enquanto os homens são mais valorizados por seu trabalho remunerado no mercado de trabalho.

O trabalho de cuidado não remunerado realizado pelas mulheres é invisível nos registros econômicos, embora desempenhe um papel crucial na sustentação da economia. Se esse trabalho fosse reconhecido e remunerado adequadamente, teríamos uma visão muito mais precisa e completa do verdadeiro valor econômico gerado pelas mulheres.

Estimar o valor econômico do trabalho de cuidado não remunerado é um desafio, mas várias organizações internacionais têm feito esforços nesse sentido. De acordo com dados do Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU (Organização das Nações Unidas), se todo o trabalho de cuidado não remunerado fosse convertido em uma forma remunerada ao preço mínimo, representaria cerca de 9% do PIB global. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 76% do trabalho de cuidado não remunerado é realizado por mulheres. Segundo o Comitê de Oxford para o Alívio da Fome (Oxfam), mulheres e meninas dedicam 12,5 bilhões de horas ao trabalho do cuidado não remunerado, o que representaria uma contribuição anual ao PIB Mundial em pelo menos 10,8 trilhões de dólares.

No Brasil, as mulheres desempenham um papel significativo no trabalho de cuidado não remunerado, com impacto potencial no PIB. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estimou que, se o trabalho doméstico fosse remunerado, poderia representar 11% do PIB brasileiro, cerca de 1,2 trilhões de reais.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), de 2016 a 2022, mulheres dedicam em média 21,3 horas por semana às tarefas domésticas, quase o dobro do tempo dedicado por homens, que foi de 11,1 horas. Segundo o IBGE, 86% das mulheres com idades entre 14 e 24 anos cuidam de afazeres da casa, enquanto homens da mesma idade, só 69%.

Esses números destacam não apenas a magnitude do trabalho de cuidado realizado pelas mulheres, mas também o potencial impacto positivo que o reconhecimento e a valorização desse trabalho poderiam ter na economia como um todo.

Reconhecer e valorizar o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres é fundamental não apenas do ponto de vista econômico, mas também do ponto de vista da justiça social e dos direitos humanos. Isso implica políticas e práticas que promovam uma distribuição mais equitativa das responsabilidades de cuidado entre homens e mulheres, bem como medidas que garantam o acesso universal a serviços de cuidado de qualidade, como creches e assistência médica.

Além disso, é essencial repensar nossos sistemas econômicos e métricas de sucesso para que incorporem adequadamente o valor do trabalho de cuidado e reconheçam as contribuições das mulheres para a economia.

A economia do cuidado e o trabalho invisível da mulher são aspectos fundamentais que merecem ser reconhecidos, valorizados e integrados de forma mais completa em nossos sistemas econômicos e sociais.Somente assim poderemos construir uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável para todos.Costuma-se dizer que mulheres exercem essa função por amor, mas prefiro me referir como um trabalho não remunerado e que é imprescindível para a economia.