Muitas vezes tratada como se fosse uma doença do passado, a sífilis vem impondo um desafio à saúde pública do Brasil, com o aumento do número de casos nos últimos anos em todo o país. Trata-se de uma patologia infecto-contagiosa causada pela bactéria Treponema Pallidum, que faz parte do grupo das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). De acordo com especialistas, caso ocorra durante a gestação, a infecção oferece risco especial a mães e seus bebês, podendo acasionar abortos e partos prematuros.
A ocorrência de sífilis na gestação vem apresentando grande frequência e tem severas repercussões ao ambiente fetal. De acordo com a médica ginecologista e obstetra Isabela Nagime, as consequências incluem “abortos, partos prematuros, sequelas que podem acometer quase todos os órgãos e sistemas, e que poderão se manifestar até os 2 anos de vida, até óbitos fetais e neonatais”.
A médica afirma que a realização do pré-natal tem papel fundamental na prevenção, detecção e tratamento precoce desta e de outras patologias maternas e fetais, e é essencial para proporcionar uma gestação e partos saudáveis.
“Nas gestantes essa patologia é diagnosticada, tratada e acompanhada durante o pré-natal. São feitos rastreios realizados pelo menos no início da gestação, no início do terceiro trimestre e na admissão para o parto. Esse rastreio é feito através de exame de sangue: o teste rápido para sífilis e/ou o VDRL. A importância do diagnóstico e tratamento precoce tem como objetivo evitar repercussões mais graves”, diz.
Sintomas e diagnóstico
Isabela Nagime explica que a sífilis é transmitida pela via sexual desprotegida, pela via vertical (da mãe para o feto) e pelo contato com lesões ou sangue contaminados. Embora muitas vezes a gestante não apresente sintomas, a doença é de fácil diagnóstico e tratamento.
“Quando são sintomáticas, as lesões em fase primária, que são denominadas de ‘cancro duro’, podem passar despercebidas. É uma lesão tipo ‘caroço’ na região genital e que geralmente não causa dor. O diagnóstico de sífilis é realizado por um profissional da saúde, a partir da avaliação dos resultados dos testes sorológicos solicitados diante de uma suspeita diagnóstica, seja ela por sinais e sintomas apresentados pelo paciente ou por um histórico de exposição ao risco da sífilis”, explicou.
Segundo a especialista, medidas educacionais e fortalecimento das redes de atenção à saúde são primordiais para seu combate.
Tratamento
O tratamento para sífilis geralmente é feito com injeções de penicilina benzatina, também conhecida como Benzetacil, que devem ser indicadas pelo clínico geral, infectologista ou ginecologista-obstetra, no caso das gestantes diagnosticadas com sífilis. O tempo de tratamento, assim como o número de injeções podem variar de acordo com a fase de evolução da doença e sintomas apresentados.
“A penicilina benzatina (Benzetacil) é o único medicamento que evita a sífilis congênita, pois atravessa a barreira transplacentária e trata o feto intra útero. Está disponível em toda rede pública do SUS, sendo de fácil acesso a toda a população. É importante ressaltar que, para um tratamento adequado na gestação, se faz necessário utilizar Benzetacil como esquema terapêutico em dose adequada para fase da doença. O parceiro deve ser tratado concomitantemente e o tratamento materno, ter sido finalizado 30 dias antes do parto. A paciente, mesmo sendo tratada durante a gestação, pode se reinfectar caso o parceiro não faça o tratamento adequado, sendo necessário iniciar novamente o ciclo de medicações”, explica a médica.
Dados no Brasil
Isabela Nagime alerta para o aumento dos casos da doença entre gestantes no Brasil. “Mesmo a sífilis sendo uma velha conhecida, as taxas de detecção de gestantes com essa patologia têm se mantido em crescimento e apresentaram aumento de 16,7%, em 2021”, diz.
Dados do Boletim Epidemiológico de Sífilis 2022, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, apontam que, em 2021, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 167.523 casos de sífilis adquirida; 74.095 casos de sífilis em gestantes; 27.019 casos de sífilis congênita; e 192 óbitos por sífilis congênita, números estes que chamam atenção e que tem crescido.