A chuva quase incessante das últimas semanas tem provocado estragos em Campos dos Goytacazes e cidades vizinhas. Parte da população está apreensiva. Famílias ficaram desalojadas nos últimos dias em locais como Serrinha, Dores de Macabu, Imbé, Lagoa de Cima e Ururaí. Casas foram destruídas. A Prefeitura de Campos alega estar preparada para o período, com ações preventivas e combates a alagamentos. Moradores de diversos bairros, no entanto, se questionam se o Município está preparado para as chuvas intensas que podem ocorrer durante o fim da primavera e durante o verão. Setores da economia temem prejuízos. É o caso de parte dos agricultores. Por conta do solo encharcado, o plantio de cana-de-açúcar está atrasado há mais de um mês.
A secretaria municipal de Defesa Civil de Campos informou que tem realizado o trabalho preventivo de limpeza de valas e canais para permitir o escoamento da água.
“Temos feito o monitoramento hídrico para acompanhar a subida do nível dos rios e lagoas e, quando há alagamento por causa da intensidade da chuva, colocado as bombas de drenagem. Na área urbana, destaco a subida da ‘Ponte Rosinha’, a área do Posto Ilha e o bairro Julião Nogueira como pontos de atenção. Na área rural são: Serrinha, Conceição do Imbé, Dores de Macabu, Lagoa de Cima e Rio Preto. Todo o orçamento da Defesa Civil é destinado à proteção da população e enfrentamento de desastres naturais, com investimentos em manutenção dos equipamentos, maquinário moderno, capacitação dos agentes, sistemas de monitoramento, EPIs, entre outras ações”, explica o secretário Alcemir Pascoutto.
Na área urbana de Campos, um dos trechos que mais causa medo e transtorno com alagamentos fica na avenida José Alves de Azevedo, no entorno do Parque Alberto Sampaio. A vendedora Larissa Mendes trabalha na área destinada aos camelôs. Na última chuva mais forte, ela teve novo prejuízo no local. “Perdemos um frigobar que foi totalmente danificado. Esta não é a primeira vez que perdemos mercadorias ou produtos. A chuva forte nos apavora”, diz.
A comerciária Echiley Guedes mora na Penha e trabalha na rua João Pessoa, próximo ao Camelódromo. “É comum alagar. Não sei como vai ficar nos próximos dias. Com tanta chuva, isto me preocupa”, revela.
Leandro Silva é morador do Parque Santa Clara. Ele trabalha guardando motos no Parque Alberto Sampaio. “Nos últimos dias de chuva mais forte, o entorno do Alberto Sampaio voltou a alagar todo. A água chegou à altura do joelho. Pelo que estou vendo e pelas últimas chuvas, Campos não está preparada para enfrentar problemas de alagamentos. Há muitos lugares assim”.
Ações de governo
O subsecretário municipal de Planejamento Urbano, Mobilidade e Meio Ambiente, Sérgio Mansur, diz se empenhar para combater os problemas de alagamentos nos pontos mais críticos, como Alberto Sampaio e Pelinca:
“Estamos trabalhando firmemente para resolver esse problema. Na rua Alvarenga Filho, por exemplo, conseguimos solucionar. Fizemos ali uma obra e acabou o alagamento. Agora, estamos na região da Pelinca, onde há um alagamento constante. Detectamos dois pontos de obstrução na rede de águas pluviais e, na próxima semana, vamos abrir esses pontos para verificar o que está impedindo a passagem da água, para que chegue até a galeria da rua do Barão. No Parque Tamandaré, há equipe trabalhando em projetos para solucionar o problema no local”, diz.
Os alagamentos causados por chuvas constantes têm atingido boa parte do trânsito na área urbana de Campos. O Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) e a Guarda Civil Municipal (GCM) têm atuado no apoio às ações das outras secretarias para garantir a fluidez e segurança no tráfego. O vice-presidente do IMTT, Davi Alcântara, diz que um dos pontos de maior vulnerabilidade no período das chuvas é a avenida José Alves de Azevedo, próximo ao Mercado Municipal e ao Shopping Popular Michel Haddad:
“No local, onde já existiu uma lagoa, alaga em praticamente todas as chuvas fortes que ocorrem. Nós estudamos, assim que o camelódromo sair dali e retornar ao local original, fazer uma bacia de acumulação naquele local, um grande reservatório, onde a água possa ficar armazenada na hora da chuva forte e depois vá escoando”, cogita o vice-presidente do IMTT.
Bairros alagados
Se os problemas de alagamentos mais graves em Campos ocorrem atualmente nos distritos de Serrinha, Morangaba e Dores de Macabu, quem vive em bairros periféricos também se preocupa. A servidora pública Selma Vieira mora há 23 anos na rua Antônio Marins, bairro da Penha. Ela se queixa da falta de estrutura. “No governo Rosinha, a rua não entrou no projeto Bairro Legal. Aqui, qualquer chuva vira um rio e entra água dentro das casas. Na última semana, tive água dentro de casa por três vezes. Os móveis estão todos destruídos. Estamos com as galerias de esgoto entupidas”, revela.
A vendedora Karen Soares mora no Jóquei Clube. “Meu bairro fica bem alagado quando chove. No entorno da rua Ricardo Quitete e da rua Monsenhor Aquiles é frequente. Se a chuva insistir, a situação vai ficar bem crítica”, diz. No distrito de Travessão, a moradora Isabel Santos enfrenta alagamentos. “No bairro onde vivo é comum alagar. A água não tem para onde escoar. É uma rua declinada. Não acho que a cidade está preparada para enfrentar período de chuva prolongado”, cita.
O pastor Manoel Luiz, morador do Parque Canaã, pensa o mesmo. “Se São Paulo, a maior cidade do Brasil, não está preparada para muitos dias de chuva, imagine Campos? No bairro onde moro ainda não há estrutura de saneamento básico adequado. Há locais com esgoto a céu aberto, rios e canais poluídos com lixo. Isso tudo dificulta o enfrentamento em dias de chuva mais expressiva”, conta.
A subsecretaria municipal de Limpeza Pública diz que tem intensificado a limpeza de bueiros e bocas de lobo, a fim de evitar o entupimento dos mesmos. “Nos últimos meses, essa iniciativa tem acontecido em cerca de 600 pontos por mês. Durante a ação, os trabalhadores encontraram muitas sacolas, copos plásticos, roupas, restos de móveis e até pedaços de troncos de madeira. A pasta pede apoio da população para evitar o descarte de lixo nas ruas, já que esses materiais podem obstruir a entrada de água nas galerias, agravando os alagamentos em dias de chuva torrencial”, explica a subsecretária Simone Oliveira.
Em nota, a Prefeitura de Campos informou que “o atual governo tem investido em infra-estrutura. Com recursos próprios, o Parque Esplanada, Julião Nogueira e Cidade Luz estão sendo contemplados pelo programa Bairro Legal. No último dia 21 de novembro, foi publicado no Diário Oficial a abertura da licitação para o mesmo investimento nos Parques Tarcísio Miranda, Santa Edwiges e Real”, destaca.
Agricultura em risco
Agricultores em geral comemoram quando há chuvas e sol oportunos e bem alternados, que favorecem as lavouras. Entretanto, quando as precipitações se estendem, o sinal de alerta é acionado. Em Campos, o presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan), Tito Inojosa, diz estar atento ao que vem ocorrendo na região por conta das chuvas insistentes. Isto ocorreu durante todo o mês de novembro e neste início de dezembro. O plantio de mudas foi suspenso até o clima estabilizar.
Para o engenheiro agrônomo da Usina Canabarava, João Pedro Gonçalves, a chuva é positiva, mas isto depende sempre do volume obtido.
“O período de agora é preocupante, pois há culturas que não resistem em áreas alagadas, como soja e milho na Baixada Campista. No plantio de cana, estamos com maquinários parados desde novembro, quando seriam realizadas as primeiras plantações de mudas. Isto por conta da chuva insistente.
Enquanto não conseguimos plantar mudas, temos aplicado herbicidas e cuidado das plantas. Este momento chuvoso atrasou o plantio. Isto poderá repercutir lá na frente na hora da colheita. Ainda não dá para precisar o tempo de atraso da colheita. Vamos aguardar para ver o que acontece nas próximas semanas”, comenta.
Chuvas intensas
De acordo com o meteorologista Carlos Augusto Souto, neste final de primavera e no início do verão, durante todo o mês de dezembro, há riscos de chuvas em grande quantidade.
“Isto se deve, principalmente, à zona de convergência do Atlântico Sul, que está muito ativa neste ano. Em outras regiões do Brasil, o fenômeno provocou o aquecimento de áreas mais altas na atmosfera, o que gerou uma formação de nuvens de chuva intensa. Isto deve acontecer durante o verão, mas não necessariamente na região Norte Fluminense. Aqui, o trimestre mais chuvoso é outubro, novembro e dezembro. Há uma tendência de que isto reduza no verão. Entretanto, em outras regiões do estado do Rio de Janeiro e do Brasil, o risco continua. Aqui, falo mais especificamente da Região Serrana”.
Para Souto, as autoridades podem minimizar os danos por conta de chuvas intensas. “Em regiões que alagam muito, como algumas áreas de Campos, o certo é ter obras de galerias pluviais. Seria adequado também haver um sistema de alerta para avisar às pessoas que moram em áreas baixas que saiam de suas casas durante o período, para evitar algum tipo de risco. Em regiões onde pode haver deslizamentos, como aconteceu em Conceição de Macabu, por exemplo, mas, principalmente na Região Serrana, um sistema de alerta com sirenes. É preciso evitar que pessoas construam em áreas de risco. Isto requer um programa habitacional urbano bastante sério e bem planejado”, conclui.