Muito se fala sobre o abuso psicológico em canais do YouTube, debates em podcasts e rodas de amigos, mas nem sempre é possível identificar quando a situação acontece dentro de um ambiente familiar. Muita gente conhece o mecanismo desse tipo de violência, que prende tantas pessoas ao sofrimento e até aponta maneiras de como sair da situação. Mas pouco se fala sobre uma questão igualmente importante: os danos causados à saúde emocional e física.
A psicóloga Dilma Dias explica que o abuso emocional acontece também dentro de relacionamentos familiares, nos quais existe o objetivo de causar sofrimento a uma das partes. Críticas maldosas, acusações, ofensas e xingamentos são formas de um relacionamento abusivo. Mas, ao contrário das doenças físicas, que provocam sintomas fáceis de reconhecer, os sinais da violência psicológica são mais difíceis de interpretar, aponta a especialista:
“Nós costumamos falar que um comportamento abusivo está muito relacionado a uma família disfuncional. O que seria uma família disfuncional? É aquela que tem dificuldade de comunicação ou que não é assertiva e, sim, agressiva. E essa agressão pode ser verbal ou física. Em relação aos comportamentos abusivos, a gente consegue identificar, dentro desse ambiente familiar, chantagens emocionais, que vão causar transtornos, seja em quem pratica ou de quem recebe”, explicou a psicóloga.
Dilma Dias detalha que, assim como os efeitos sobre quem é vítima de abuso psicológico podem ser diversos, as formas de atuação também variam bastante.
“A gente fala em relação abusiva entre casais, porque isso é o que mais aparece. Mas, nós temos essa relação acontecendo nas próprias famílias, entre pais e filhos, irmãos, avós. Então, essas relações estão nas famílias, independente de ser entre casais. E geralmente é muito difícil para as pessoas identificarem isso, principalmente quando é uma relação entre pai e filho. Porque é uma identificação de amor desde sempre, mas ela pode, sim, ser adoecida e tóxica”, disse.
Como identificar?
A psicóloga explica que a primeira identificação de um caso de abuso emocional é pelo sentimento de tristeza. “Você identifica pelo sofrimento. Em uma relação de pais e filhos, por exemplo, às vezes a fala de uma mãe contém um abuso psicológico sutil, sem a necessidade de ser algo agressivo. Então, essa fala pode mexer com o emocional e provocar um sentimento psíquico. E, se há sofrimento, é necessário investigar”, destacou.
Primeiro passo para quebrar o ciclo
Segundo a psicóloga, por mais que algumas pessoas acreditem que dão conta de lidar com esse tipo de violência sozinhas, as consequências das agressões psicológicas tendem a ser intensas para que o tratamento seja negligenciado. Ainda segundo Dilma, esse tipo de abuso pode desencadear não apenas sintomas psicológicos, como também físicos.
“O primeiro passo é procurar um psicólogo para auxiliar na identificação. Porque é muito doloroso descobrir que uma pessoa que você ama e quem deveria te amar, causa sofrimento e dor. A pessoa acaba se sentindo um nada, indigna de ser amada, como se estivesse errada e isso traz um sentimento de culpa muito grande”, falou.
E a psicóloga finaliza: “As pessoas estão lendo mais sobre esse assunto, vendo mais matérias voltadas para o abuso psicológico, obtendo mais informações. Porque, às vezes, a vítima vê uma postagem em uma rede social e fala: ‘ah, mas eu vivo essa situação’. Dessa forma, é importante um profissional para identificar o problema. Seja o abusador ou a vítima”.