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Branco – rei do caranguejo – há 55 anos no ramo, chega a vender 1.500 crustáceos num final de semana

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
10 de fevereiro de 2022 - 9h48

Aqui por essas ‘bandas’, particularmente nas praias sanjoanenses e de São Francisco de Itabapoana, quem procurar por Gelson de Souza Costa para comprar caranguejo vai ficar a ver navios. Mas se o interessado falar o nome “Branco”, aí todo mundo sabe quem é: o maior apanhador e vendedor do apreciado crustáceo da região, no ramo há 55 anos, quando começou a ‘catar’ caranguejo nos manguezais de Gargaú, hoje distrito de São Francisco. 

Atualmente, Branco vende os caranguejos numa banca defronte à Igreja de Nossa Senhora da Penha, em Atafona, ao lado das peixarias. Atende o ano inteiro, de sexta a domingo, e num bom fim de semana chega a vender de 1.000 a 1.500 caranguejos. Mas conta que antes, no antigo Pontal, inúmeras vezes chegava a vender 2 mil num único dia.  

“Trabalhei lá, quando o antigo Pontal tinha 3 ou 4 ruas, por mais de 40 anos. Naquele tempo, de 2ª a 6ª pescava camarão no mar e nos finais de semana apanhava caranguejo. Havia dias – muitos dias – de vender 2 mil.” 

Início, rotina e zelo  

Gelson Jane de Souza Costa começou muito cedo. Pelas mãos do pai, ‘seu’ Nilson, com apenas oito anos já estava no ramo do qual não saiu mais. Nascido em Gargaú – onde mora até hoje – criou os filhos com a venda de caranguejo.  

Aos 63 anos, Branco chega de barco a Atafona bem cedinho e retorna logo no início da tarde para Gargaú. Essa tem sido a rotina da última década e meia, desde que transferiu a banca para local onde hoje se encontra. Com uma clientela grande, muitas dúzias de caranguejos já chegam limpas para os fregueses que fizeram encomenda. 

Cuidadoso e consciente, Branco fala com orgulho da maneira como trabalha. Ele conta que antigamente o caranguejo saía [da toca] na lua cheia; hoje costuma ser na minguante.  Mas em épocas de cheias, é comum encontrar caranguejo miúdo na rua. “Eu pego e levo de volta para o mangue. A mesma coisa com a fêmea de barriga aberta [ovada]. A gente tem que ter consciência de que é o nosso sustento. Não pode apanhar uma fêmea que vai botar milhares de ovos”. 

Diferencial – Branco conta que não estoca caranguejo em sacos, para evitar que o crustáceo emagreça. Ele mantém um grande viveiro em Gargaú para armazenar os que são pegos durante a semana. “Mantenho o viveiro bem limpo e quando a água sobe vai tirando a lama deles. Enquanto estão lá, são alimentados com folha de goiaba. Não uso saco. Por isso meu caranguejo chega para o freguês quase sem lama”. 

Por recomendação médica, hoje não pesca mais. Tem seis apanhadores de caranguejo que trabalham para ele, a maioria mulheres: “Na minha opinião, elas são mais dedicadas no trabalho” – diz. 

Na mesa do brasileiro  

Muito apreciado na culinária brasileira, campista que não gosta de caranguejo, ou nunca comeu ou não quer ter trabalho. E o ‘bicho’ dá um trabalhinho…. Tanto para matar, quanto para comer. 

Na tradição local, o caranguejo é acompanhado de feijão, farinha e um pouco de arroz. Mas, claro, cada um tem sua preferência. Da mesma forma, no cozimento. O ‘padrão’ é água, sal e um pouco de alho. Mas, da mesma forma, gosto é gosto.  

Para Branco, colocar pimentão, tomate, salsinha, cebolinha e outros ingredientes tiram o sabor do caranguejo. “É tanta coisa que o gosto característico da carne desaparece” – bronqueia quem conhece.  

Para ele, deve ser colocado ainda vivo na panela, depois de limpo. Mas se já é difícil limpar o caranguejo morto, o que dizer dele, ‘invocado’, com aquelas puãs afiadas, prontas para o bote. Existem milhares de espécies de caranguejo. Em nossa região predomina o uçá, da espécie herbívora, que vive no manguezal e se alimenta de folhas.   

Predominante na Região Nordeste, está presente em toda costa brasileira, sendo muito apreciado, também, no Espírito Santo e Rio de Janeiro. 

Preparo – Depois de morto (retirando a aba abdominal, na parte inferior do crustáceo, e furando a cavidade) é preciso raspar ou escovar os pelos e lavar bastante em água corrente até remover toda a lama. Em seguida basta colocar na panela em fogo médio por 50 ou 60 minutos, até cozinhar a carne.