O transporte público em Campos dos Goytacazes continua um grave problema para o governo municipal, permissionários de ônibus e vans, e, principalmente, para os usuários. Desde a decisão judicial em dezembro passado, que favoreceu a empresa Rogil, autora da ação que pediu o fim da circulação de vans em linhas exclusivas de ônibus, ainda existem indefinições e dúvidas. Algumas vans deixaram de circular por alguns dias e isso afetou a população. O Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) conseguiu um acordo com os consórcios de ônibus. Está previsto um novo sistema de integração com vans, além de reajuste de tarifas, como parte da solução no prazo de 90 dias.
Inicialmente, foi sugerida a construção de terminais de integração de ônibus e vans nos distritos de Goitacazes e Travessão, além da localidade de Ururaí. Entretanto, não houve entendimento entre os donos de ônibus. Os permissionários de vans rejeitaram os locais cogitados. O IMTT definiu então que, até a montagem dos terminais de embarque e desembarque de passageiros, as vans farão paradas em locais específicos da cidade.
“O Setor A (Baixada Campista) terá a estação em uma área que está sendo verificada; o Setor B (limite com São João da Barra) irá direto para o Centro; o Setor C (Região Norte) terá estação próximo à empresa Morumbi; o Setor D (Sapucaia e Três Vendas) irá direto para o Centro; e o Setor E (Lagoa de Cima, Santa Cruz, Rio Preto, Deserto, Itereré) também irá direto para o Centro. O Setor F (Região Sul do município) foi o único que, infelizmente, não teve acordo com o consórcio Rogil, que ganhou na Justiça a exclusividade de toda a área. O IMTT segue intermediando e buscando diálogo para que ambos tenham bom senso para solucionar a questão”, informou Nelson Godá, presidente do IMTT.
Para Bruno Santana, presidente da Campos Cootran, cooperativa que reúne 72 vans, “a única forma de vans trabalharem no sistema exclusivo das empresas de ônibus foi por imposição dos empresários com a volta dos terminais”. Segundo ele, os terminais sugeridos em Travessão, Ururaí e Goytacazes, encerrariam a atuação de 85 permissionários nessas regiões. “Por isso, houve as manifestações para que a gente pudesse debater, para que o prefeito Wladimir entrasse no circuito e fizesse um acordo com os empresários para modificar os locais dessas estações”, afirma.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros (Setranspas), Gilson Menezes, também proprietário da Viação Rogil, foi procurado para que comentasse a ação judicial e a falta de acordo com o IMTT, mas não houve resposta. O empresário José Maria Matias, responsável pelo Consórcio Planície, aprova o funcionamento dos terminais de integração entre ônibus e vans. Segundo ele, a iniciativa durante a gestão do ex-prefeito Rafael Diniz possibilitou que as empresas de ônibus aumentassem a arrecadação:
“O terminal de integração é uma saída, mas que depende de ajustes. Quero acreditar que em até 90 dias a Prefeitura consiga montar a estrutura. Para mim, é uma montagem simples em tempo rápido, com material metálico para acomodar o usuário”, considera.
O IMTT foi questionado sobre detalhes e valores das futuras estações de embarque e desembarque de passageiros. Segundo Nelson Godá, um estudo para a instalação dos modelos das estações já está em andamento. “De certo que não será o mesmo que fracassou no governo passado. O retorno da integração foi uma solicitação feita pelos empresários de ônibus e pelos permissionários”, disse.
Passagem mais cara e bilhete eletrônico
Neste período, há previsão de aumentar o valor da passagem de R$2,75 para R$3. Para permissionários de ônibus e vans, a nova tarifa não atende quanto ao custo operacional da frota. O setor calcula que o preço adequado seria de R$4,50.
“O valor da passagem a R$2,75 está congelado há anos. O aumento do preço do óleo diesel ultrapassou 100% em um ano, pois atualmente vale em torno de R$5,50. O setor vai continuar reivindicando o reajuste adequado do bilhete de, no mínimo, R$4,50. Uma forma de não sobrecarregar o usuário seria o poder público custear parte da passagem como já foi realizado na gestão de Rosinha Garotinho”, cogita o empresário José Maria Matias.
De acordo com Bruno Santana, da Cootran, o reajuste de 25 centavos não é o ideal. “A passagem não tem aumento há 10 anos. Campos tem uma das passagens mais baratas do Rio de Janeiro. Todo prestador de serviço precisa ter lucro e renda para conseguir pagar o custo operacional e se manter. Sem isso, não podemos oferecer serviço de qualidade”, diz.
O IMTT informou que uma das exigências dos empresários de ônibus para o acordo foi o aumento da tarifa, de R$2,75 para R$3. “Esse novo valor somente será cobrado dentro dos 90 dias com a implantação do novo sistema de integração. No entanto, os empresários reivindicaram uma tarifa maior, mas chegamos ao valor de R$3, levando em conta o aumento dos insumos, além de não impactar no bolso da população, maior preocupação do governo. Quanto à bilhetagem eletrônica, ela será licitada após os 90 dias para ter melhor fiscalização, controle e gerenciamento do IMTT”, disse Nelson Godá.
Expectativas e mudanças
Ainda não se sabe exatamente como irão funcionar as estações de integração no prazo de 90 dias. Alguns usuários do transporte público desaprovam a proposta. “Sou contra o terminal para fazer conexão com ônibus. O antigo terminal no bairro Ceasa, em Guarus, era inseguro e muito ruim”, diz a vendedora Edimara Cabral, moradora de Morro do Coco.
A comerciária Raynara Borges, mora no distrito de Conselheiro Josino. Ela diz que há poucos horários de ônibus e depende das vans. “É difícil ficar sem as vans. Se for para melhorar o transporte, não me importo em pagar R$3. Mais que isso, fica difícil”, avalia.
A moradora de Beira do Taí, área rural de Campos, Angélica Souza, diz que é contra a criação do terminal de integração. “A gente que mora no interior já não tem quase horário de van. Embarcar e desembarcar para vir ao Centro vai ser complicado. Estou desempregada há muito tempo e pagar mais caro pela passagem afeta a mim e minha família”, conta.
Incertezas
Para o motorista de van, Ailton Freitas, um dos antigos terminais de integração, no final da Avenida 28 de Março, deveria ser reativado. Ele faz o trajeto Beira do Taí-Centro várias vezes por dia. “A integração com ônibus em Goitacazes não seria apropriada”, opina.
O motorista do Setor C, Morro do Coco-Centro, Edilmar Silva, não acredita que em 90 dias os terminais sejam montados pela Prefeitura de Campos. “Um terminal tem que ter boa estrutura para todos os usuários e trabalhadores”, considera.
A motorista Verônica Rangel atua na linha que liga Murundu ao Centro. “O terminal de conexão foi uma boa ideia na gestão passada, mas não oferecia estrutura nem conforto a ninguém. Se vão montar novos terminais, têm que atender bem à população”, opina.
Bruno Santana considera o transporte público um dos eixos da economia local. “Todo município que investe em mobilidade urbana, investe em qualidade de vida. Automaticamente, isso volta para o município. É preciso mais investimento do poder público”, conclui.