Se você pensa que profissões como amolador de facas, sapateiro e costureira não existem mais ou estão em extinção, está enganado. Basta uma volta por algumas ruas da cidade para perceber que eles estão cada dia mais ativos no mercado de trabalho. Como são habilidades mais antigas, em alguns casos, é herdada de pai para filho, ou de tio para sobrinho.
É o caso de Salvador de Souza Barbosa. Ele é amolador de facas e aprendeu o ofício com o irmão e um tio. Ele conta que, por mês, chega a atender cerca de 100 clientes entre os fixos e os que conquista todos os dias, oferecendo seu serviço nos bairros. Salvador conta que em dias “bons” chega a atender cerca de 20 pessoas.
“Cobro R$ 5 para amolar facas, alicates ou tesouras e ainda vou até a casa dos clientes e isso facilita para eles. Graças ao meu ofício, pago todas as contas da casa”, disse Salvador. Com suas habilidades, o amolador construiu o carrinho que utiliza para afiar os objetos.
Mais clientes
Wyster Maris, de 40 anos, trabalha como alfaiate há 10 anos. Ele conta que começou a costurar por acaso e, hoje, tem um ateliê que atende tanto ao público masculino quanto feminino. Wyster diz que os homens têm procurado mais seus serviços, que tem crescido nos últimos anos, principalmente entre os jovens, porque as roupas estão mais slim, ou seja, ajustadas.
Ele acredita que o número de alfaiates e costureiras foi diminuindo nos últimos anos por causa das confecções industrializadas. “Eu não sei se existem outras pessoas que fazem alfaiataria no município. Converso com os comerciantes, e tinha alguns alfaiates que eram bem idosos, mas as últimas notícias que tive dão conta de que eles faleceram há alguns anos. Eu tenho clientes que fazem roupas comigo e que eram clientes desses alfaiates”, pontuou.
Para Wyster, essa nova geração já tem um pensamento bem diferente do consumo. “Uma série de situações mostram o rumo que a sociedade vem tomando, esse modelo social não vai atender mais à demanda dessa nova população que está surgindo. Nós estamos vivendo no meio de um processo de transformação social muito grande, onde valores estão sendo derrubados, e outros são construídos. Eu acho que o valor do consumo desenfreado está sendo repensado”, concluiu.
Menos consumismo
Em um mundo cada dia mais consumista e descartável, ainda há pessoas que preferem consertar bolsas e sapatos, em vez de jogá-los fora e comprar produtos novos. São esses clientes que mantêm vivo o ofício de profissionais como Antônio José de Abreu Filho, 82 anos. Ele tem uma pequena loja onde dá cara nova a bolsas, mochilas e sapatos. “Seu Abreu”, como é conhecido, é militar aposentado, e conta que ama o que faz.
“Eu aprendi a consertar bolsas sozinho, aos 12 anos. A primeira que consertei foi a da minha mãe, que estava com um problema na alça. A partir daí, não parei mais. Quando fui trabalhar na Polícia Militar, consertava e até fazia os coldres. Eu acho muito bonito pegar uma peça e devolver para o dono completamente restaurada, sem necessidade de comprar outra nova e gastar mais dinheiro”, explica “Seu Abreu”.
História
O amolador, que antigamente também era conhecido como o reparador de sombrinhas, era assim chamado um comerciante ambulante que se transportava em uma bicicleta oferecendo serviços para amolar facas, tesouras, e ainda vários outros tipos de instrumentos de corte. Com o passar do tempo, no século XX, os amoladores passaram a se estabelecer nos vários comércios existentes dentro de mercados e feiras.
A alfaiataria é tida como uma das profissões mais antigas da humanidade. No começo dos tempos, o homem vestia-se para cobrir e proteger o corpo, não se preocupava com a estética. Foi só depois do Renascimento, com uma preocupação maior em mostrar as formas do corpo, é que o homem passou a dar valor tanto ao corte de uma roupa quanto ao tecido usado em sua construção. A partir daí, não era mais qualquer um que conseguiria confeccionar a sua própria peça de roupa. Assim surgiu e ganhou destaque a figura do alfaiate.
O ofício de consertar bolsas teve origem em outra profissão antiga: o sapateiro. O trabalho de sapateiro nasceu, segundo historiadores, no momento em que o homem percebeu a necessidade de proteger seus pés.