O jornalista Giannino Sossai, 76 anos, foi o primeiro diretor de jornalismo da TV Norte Fluminense, primeira emissora do interior do Rio de Janeiro, inaugurada em 16 de julho de 1981. Nestes 40 anos da televisão em Campos dos Goytacazes, ele é um dos nomes mais expressivos da história do veículo, destacado na reportagem “Quarenta anos da TV em Campos – da extinta TV Norte Fluminense à 3ª VIA TV, veículo se reinventa na era digital” (clique aqui). Coube ao jornalista narrar ao vivo a inauguração da extinta emissora que foi afiliada à Rede Globo por 15 anos. Nesta entrevista, Giannino Sossai recupera algumas memórias sobre a televisão e sua evolução em Campos.
Como foi participar do processo de inauguração da televisão em Campos há 40 anos?
Dois meses e meio antes da inauguração da TV Norte Fluminense fui contratado pelo deputado Alair Ferreira, para familiarizar-me com os equipamentos e com os técnicos. Não sabia para qual cargo no telejornalismo iria. Poucos dias antes é que fui informado que seria diretor de telejornalismo. Nunca tinha visto uma emissora de TV por dentro.
A inauguração contou com as presenças do presidente João Figueiredo, e do presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho. Você cobriu tudo ao vivo. Como foi a experiência?
Na véspera do evento, procurei saber todos os dados técnicos da emissora. Combinei com o pessoal que faria a narração ao vivo, até porque não tínhamos contratado nenhum apresentador. Confesso que senti como se estivesse num voo cego, o mesmo que acontece com qualquer apresentador nos minutos iniciais no ar. A ficha só caiu depois de terminada a narração.
Por quanto tempo atuou na extinta TV Norte Fluminense e o que levou sua extinção?
Permaneci na emissora até o dia que em que houve a transferência do sinal para TV Record. Antes, a TVNF passou a transmitir a programação da Rede Bandeirantes, cujo sinal foi transferido sem nenhum aviso. Isto acabou gerando muitas reclamações, principalmente dos novelistas que deixaram de ver a Globo. Os motivos foram vários: diminuição da participação da TVNF do apurado nos espaços comerciais, divisão do território de cobertura para as Regiões Serrana e Lagos, e, pouca intimidade do então proprietário. Alar Ferreira Filho com a área da Comunicação Social.
O que destacaria sobre o pioneirismo da televisão em Campos e o que sucedeu 40 anos após?
O pioneirismo da TVNF deu lugar às demais emissoras que surgiram em Campos, inclusive a mais recente Terceira Via, com excelente cobertura jornalística e equipamentos mais modernos. Este não era o caso da TVNF no início. Mesmo assim, estreamos nosso telejornalismo com um pequeno espaço na programação, por volta das 22h. O primeiro apresentador foi o saudoso José Luís Sodré e o único repórter era Antônio Claudio Perrout, hoje atuando no Rio de Janeiro.
Como analisa a evolução da televisão na era digital?
Com a disseminação no mundo da Internet, naturalmente houve certa divisão na audiência das TVs, mas nada, acredito, que possa alterar seu espaço conquistado. Por sua vez, as redes sociais trouxeram aos usuários um campo vasto de notícias e informações que não encontravam espaço na mídia convencional. Apesar das fake news. Mas a internet, além de não ser um fato divisor, acrescentou às mídias um aparato técnico muito bem aproveitado por todos os veículos de comunicação, encurtando espaços entra qualquer parte do mundo, instantaneamente. A lamentar a politização de fatos. Hoje, opina-se mais do que apresenta-se notícias.
Você se adaptou?
Sou da geração analógica com pouca intimidade com digital, com inteligência artificial. Tenho dificuldade no uso dessas novas ferramentas. O espaço entre uma e outra provocou uma revolução na maneira das pessoas se comunicarem. Costumo dizer que a Internet é uma cobra de duas cabeças. Não se sabe a direção que tomará.
Você acompanhou muitas transformações no jornalismo. O que destacaria?
Tive a oportunidade de passar por esses períodos de transformação, desde o rádio, a TV e Jornal. O fato de ter participado dos primeiros momentos de vida da TVNF, deixa um sentimento de satisfação profissional que a vida proporcionou. Espero ter de caminhar muito mais daqui pra frente, apesar do peso da idade, que, no entanto, traz muito mais entendimento do que se pensa, deixando de lado o peso dos anos.