POR THIAGO GOMES E ULLI MARQUES
Safra deve ser menor este ano se comparada com 2016 (Foto: Silvana Rust)
Apesar de a expectativa para esta safra não ser das melhores, o setor sucroalcooleiro de Campos ainda não perdeu as esperanças de recuperar o lugar de destaque historicamente ocupado na produção nacional de açúcar e álcool. A intimidade de Campos com a cana de açúcar data de meados do Século XVII, mas o município, que já teve mais de 200 engenhos, veio perdendo forças ao longo dos anos e atualmente conta com apenas três usinas em operação — Coagro, Paraíso e Canabrava. Se na safra 2015/2016 foram processadas 1,4 milhão de toneladas de cana nas três unidades, a redução esperada para este ano é de aproximadamente 15%. O motivo para a queda é a escassez de chuvas, que nos últimos três anos ocasionou redução da matéria-prima para as usinas. No entanto, os proprietários dessas indústrias são unânimes ao afirmar que consideram 2017 “um ano promissor”.
Para se ter uma ideia de como o setor sucroalcooleiro foi marcante na economia e na história de Campos até bem pouco tempo, basta observar os números: no final da década de 1980, o município tinha cerca de 10 mil produtores e produzia mais de 10 milhões de toneladas de cana por safra. Hoje, são 3.500 produtores, que produzem menos de 2 milhões de toneladas, de acordo com a Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan).
Coagro espera produzir 1,2 milhão de sacas de açúcar e 18 milhões de litros de álcool (Foto: Silvana Rust)
buy dopoxetine Culto e bodas de ouro
Na Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), um culto ecumênico realizado na terça-feira (18) marcou o início da safra 2017/2018. A moagem da cana começou dois dias depois. O presidente da cooperativa, Frederico Paes, explica que, embora a Coagro processe cerca de 30% a mais que na safra passada, a queda do setor na região deve ser de 15%. Com acréscimo, devem ser moídos no parque industrial da cooperativa 750 mil toneladas de cana, suficientes para produzir 1,2 milhão de sacas de açúcar e 18 milhões de litros de álcool.
Para Frederico, esta pode ser a retomada do setor sucroenergético da região. Na Coagro, devem ser gerados 3 mil empregos diretos e indiretos com a antecipação da moagem. “Tivemos uma safra bastante comprometida em 2014/2015 por causa da seca, mas estamos vivendo a retomada. Antecipamos a safra em um mês, e isso garante empregabilidade mais cedo, gerando receita no campo e na indústria”, comentou Paes.
Na Usina Paraíso, a moagem deve começar na primeira semana do mês de maio. Após dois anos produzindo apenas etanol, em 2017 a indústria deve voltar a produzir açúcar. Embora o quantitativo de cana ainda seja inferior ao esperado, esse retorno da produção açucareira anima os proprietários da usina. Segundo um deles, Maurício Coutinho, a expectativa é de moer de 500 mil a 600 mil toneladas de cana. “Este ano comemoramos as ‘bodas de ouro’, já que a minha família completa 50 anos à frente da usina. Talvez por isso, estamos esperançosos de que este será um ano promissor e especial. Até recentemente, a Paraíso estava em recuperação judicial. Hoje, posso afirmar que estamos em ordem. O momento é de recuperação da safra e de retomar a produção de açúcar, tornando a Paraíso uma usina completa novamente”, afirmou Maurício.
Quanto à geração de empregos, a expectativa também é positiva. Enquanto na entressafra são necessários aproximadamente 350 funcionários diretos na Usina Paraíso, durante a safra este número aumenta para até 1.800 profissionais, o que contribui para a economia do município. Com a retomada da produção de açúcar, este número ainda deve crescer de 30 a 40%, tanto na área agrícola quanto na área industrial. “Isso sem contar com os empregos indiretos, que correspondem até ao dobro deste número”, declarou o proprietário da usina.
A equipe de reportagem do Jornal Terceira Via entrou em contato com a Usina Canabrava para saber qual a expectativa para esta safra; no entanto, por telefone, a equipe foi informada de que a gerência da usina não estava presente e que não havia previsão para o retorno dos responsáveis.
Asflucan espera moagem de 1,4 milhão de toneladas de cana
A expectativa da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan) para esta safra é ainda mais otimista que a projeção dos usineiros. Os produtores acreditam que vão entregar para moagem 1,4 milhão de toneladas, o mesmo montante registrado na safra passada. Para isso, o presidente da Asflucan, Tito Inojosa, espera driblar os principais problemas de quem planta cana na região: dificuldade de acesso a financiamento, seca dos canais utilizados para irrigação e condições ruins das estradas usadas no escoamento da produção.
Segundo Inojosa, 80% dos produtores locais são de pequeno porte, que produzem, em média, de 200 a 300 toneladas por safra, em cultivo de cinco a seis hectares de canaviais. “Nas últimas safras, o custo de produção foi superior ao preço pago pela tonelada de cana e o produtor ficou no prejuízo, principalmente os pequenos. Mas ano passado foi diferente e houve lucro, o que deixou todo mundo animado para o plantio”, disse.
Ao contrário do que pensam a Asflucan e os usineiros, o produtor rural Valter Junior não acredita na recuperação imediata do setor. Ele produz em Campos e São Francisco de Itabapoana e acha que os estragos causados pela seca foram grandes. Em sua opinião, isto deve impactar negativamente na produção deste ano. “Eu consegui manter a mesma produção da safra passada, mas conheço muitos que não conseguiram”.
(Foto: Silvana Rust)
Preocupação com as questões climáticas
Para os proprietários das usinas e produtores rurais, o que falta para que o setor sucroalcooleiro volte a crescer em Campos é a matéria-prima, isto é, a cana de açúcar. Em 2014, o país sofreu uma das mais graves crises hídricas da história, e isso refletiu diretamente na produção do Norte Fluminense. A escassez de chuvas destruiu plantações e impediu que as usinas mantivessem o mercado ativo. Segundo a Asflucam, nesse ano, foram produzidos 940 toneladas de cana, número ínfimo se comparado ao que vinha sendo esperado pelo setor. Somente agora os empresários voltaram a ter esperanças, embora ainda considerem a questão climática como o principal desafio.
Em 2014, o ano mais crítico para os produtores, choveu 560 milímetros. Em 2015, o volume de chuva aumentou para 814 milímetros e em 2016 atingiu 900 milímetros. De acordo com o presidente da Coagro, Frederico Paes, no ano passado houve uma recuperação do índice pluviométrico e, diante desse volume crescente de chuva, áreas que estavam com cana de baixa qualidade começaram a ser replantadas pelos cooperados.
No entanto, contar com a chuva pode não ser a melhor saída para a recuperação do setor. O proprietário da Paraíso, Maurício Coutinho, garante que a solução é implantar um sistema de irrigação nas usinas da região. “O problema é que, além do volume de chuvas ainda ser baixo, é também mal distribuído. Mais 50% da água cai em novembro e dezembro, deixando janeiro, fevereiro e março, meses cruciais para a produção de cana, escassos de chuva”, explicou.
Mas a solução não é tão simples quanto parece. Implantar um sistema de irrigação custa caro e as usinas garantem não ter verba o suficiente para investir. “A irrigação não é barata, mas a verdade é que mais caro ainda é ficar sem matéria-prima. Nossa proposta é que haja uma união entre as usinas e os governos municipal e estadual, a fim de suprir esse déficit. O que sabemos é que o Sindicato já tem uma agenda com o prefeito de Campos, mas, por enquanto, não temos uma resposta definitiva. É importante frisar que nós não precisamos de muito… Só de um empurrãozinho para alçarmos voo”, concluiu Maurício
Atividade teve início na região em 1652
A atividade açucareira começou na metade do Século XVII (anuário de Campos, ano 2015, editado pela Prefeitura). “O surgimento em 1652 da agroindústria açucareira, com a instalação do primeiro engenho em Campos, dava início ao progresso da região”. Segundo registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a prosperidade de Campos no Século XIX, descrita pelo órgão como “grande riqueza”, pode ser creditada à expansão da produção açucareira, inicialmente apoiada nos engenhos a vapor, que mais tarde acabaram substituídos por usinas.
Ainda de acordo com dados do instituto, em 1875 a região contava com 245 engenhos de açúcar e, por volta do ano de 1879, foi construída a primeira usina, batizada como Usina Central do Limão. Entretanto, várias dessas antigas usinas fecharam ou foram absorvidas pelas maiores em anos recentes, concentrando-se a produção em menor número de estabelecimentos.
