Ulli Marques, Priscilla Alves, Aloysio Balbi e Ocinei Trindade
Viver em Campos é barato. Ao menos essa é a informação que consta no site colaborativo Custo de Vida (http://www.custodevida.com.br/), com base nos dados enviados pelos próprios campistas e por eventuais visitantes. No ranking das cidades brasileiras, o município ocupa o 43º lugar, atrás de cidades próximas, como Macaé e Cabo Frio, e também da capital do estado, Rio de Janeiro (veja o infográfico abaixo), mas a frente de municípios como Nova Friburgo e Cachoeiro de Itapemirim. Contudo, essa opinião não é uma unanimidade. O Jornal Terceira Via propôs uma enquete nas redes sociais e o resultado obtido foi controverso: enquanto alguns leitores concordaram que o custo de vida em Campos é baixo, outros declararam que essa afirmação deve considerar os pontos de vista dos representantes de cada uma das diversas camadas sociais que aqui residem. Afinal, viver em Campos é barato para quem?
Para especular se o custo de vida em determinado município é alto ou baixo, o site utiliza múltiplos dados referentes ao valor dos serviços e mercadorias ofertadas aos moradores e turistas nesse lugar. Até hoje, 34.628 pessoas de 2.720 cidades já colaboraram e o ranking atual abarca 108 municípios que tiveram colaboração nos últimos 18 meses, sendo Balneário Camboriú, em Santa Catarina, o mais caro, e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, o mais barato.
Esses dados informados são distribuídos por nichos: na seção “bar e restaurante”, o colaborador deve informar o custo médio do almoço em um restaurante considerado barato e também naqueles mais caros; informa-se também o preço da cerveja, do chopp, do refrigerante, e da entrada em uma boate. Já na seção “supermercado”, deve-se indicar o valor do litro de leite, do pão francês e também de itens básicos, como arroz, feijão e açúcar. Há ainda o nicho “transporte”, em que os colaboradores devem anunciar o preço das passagens de ônibus, o valor da gasolina e do etanol, do estacionamento e da tarifa de táxi. Questiona-se também quanto ao preço da internet, da diária de faxineira, do ingresso de cinema, das mensalidades escolares e de cursos superiores, do aluguel de quitinetes e apartamentos e das diárias em hotéis econômicos e de luxo.
Com base nessas variáveis — da alimentação ao transporte e do lazer à educação — o site conclui, por exemplo, que viver em Campos é 49% mais “barato” que no Rio de Janeiro e 30% que em Macaé. Essa é também a opinião do Valmir Souza e da Renata Marques; de acordo com eles, comparada a essas duas cidades, Campos tem, de fato, um custo de vida baixo. Já para Joseli Caldas Terra, para Jean Souza e para Marília Almeida, alguns fatores dificultam essa afirmação, como o desemprego e a crise econômica que “só atinge quem nunca teve poder de compra”, disse a primeira. Ainda assim, esses avaliaram que, em geral, os preços cobrados no município — tanto nos estabelecimentos comerciais, quanto no transporte e serviços — estão de conformidade com a realidade financeira média da população campista.
No entanto, a professora e engenheira Rose Mazinho Ribeiro apresentou uma opinião diferente. Segundo ela, o custo de vida em Campos é “muito alto”, porém “a qualidade de vida é baixa”. “Pagamos muito pelo transporte público, mas a qualidade dos ônibus é ruim. Pagamos muitos impostos e, mesmo assim, se quisermos educação e saúde, temos de pagar altas mensalidades escolares e planos de saúde, já que os governos no âmbito municipal, estadual e federal não suprem estas necessidades adequadamente. A cidade não tem boa empregabilidade, pois não possui empresas que diversifiquem a economia. A agricultura é pouco tecnificada e atrasada e não possui incentivo governamental. O município é totalmente dependente da Bacia de Campos. Qualquer crise no setor petroleiro deixa grande parte da população desempregada. A cidade é rica economicamente, mas muito cara para se viver, tanto que a maior parte da população vive abaixo da linha da pobreza”, declarou.
Essa é também a concepção do servidor público, Gustavo Santos. Na enquete, ele reiterou que não é possível comentar sobre o custo de vida em Campos desconhecendo as condições financeiras de cada um dos indivíduos, dado as injustiças sociais. “O que é barato para um, pode ser extremamente caro para outro, porque a inflação para o pobre, não é mesma para o rico”, afirmou.
Corretor avalia valor de imóveis de Campos como elevados
Se os dados apontam para um custo de vida barato em Campos (o que inclui também o valor mais em conta de moradia), há quem discorde. É o caso do corretor de imóveis, Diego Almeida, que trabalha na área e analisa o valor dos terrenos e casas da cidade como valorizados acima da média. Segundo ele, entre os anos de 2013 e 2016, houve um grande crescimento do mercado imobiliário em Campos e que, mesmo com a crise nacional, este continua sendo um mercado em expansão na cidade.
“O valor do metro quadrado aqui em Campos varia de acordo com a região. A Pelinca é a área mais valorizada onde um apartamento na Rua Voluntários da Pátria custa R$ 5 mil o m², por exemplo. Ou seja, um apartamento de três quartos vale, em média, R$ 480 mil. O Flamboyant é outro bairro bem valorizado também”, explicou.
Ainda segundo o corretor, em bairros considerados como ‘intermediários’ o valor do metro quadrado de uma casa chega a R$ 3,5 mil. Como exemplo de bairros assim há o Alphaville, em que uma casa de 100 m² custa em média R$ 350 mil.
Sobre o valor do aluguel em Campos, há uma variação grande que não depende só da localização, mas também de fatores como as condições do imóvel. Em um prédio na Pelinca o valor pode ser em torno de R$ 2.500 com o condomínio incluso. Já nos bairros intermediários a locação pode custar R$ 1.400. Em bairros mais afastados ou com menos infraestrutura, os valores podem chegar a menos que um salário mínimo, de acordo com o tamanho do imóvel também.
Para estrangeira, município é caro
Em julho passado, a professora Silvana Bizarri chegou a Campos para morar. Deixou seu país de origem, a Venezuela, que vive profunda crise política e econômica. Silvana passou a dar aulas de espanhol no Sesc. Ela considera a cidade maravilhosa. “Falar de Campos é falar de gente acolhedora, humana e carinhosa. Esta atitude me faz sentir em casa. O atendimento médico é muito bom. Aqui se consegue vacinas gratuitas que em outros países são muito caras. O custo de vida na cidade não é barato diante do salário mínimo pago aqui”, destaca.
Para Silvana, se a economia não está bem, é preciso esforço para melhorar. “Se compararmos ao salário mínimo brasileiro para comprar alimentos, neste aspecto é caro. Tive a oportunidade de estar na Europa. Com o salário mínimo de lá, o percentual de gastos domésticos é menor que aqui. Nos Estados Unidos, o trabalhador com salário mínimo dá para comer, pagar habitação, lazer.
Em Campos e no Brasil, alimentação, roupa, aluguel, produtos de limpeza são caros. Outra coisa que me espanta é o preço do combustível, sendo o Brasil produtor de petróleo. Na Venezuela, a gasolina é mais barata que
um litro de água”, avalia.
Pelo olhar de Silvana Bizarri, Campos precisa melhorar o serviço público e utilizar mais a tecnologia. “O
transporte público é ruim e demorado. Consertar as ruas e os buracos é urgente, pois Campos é uma cidade
petrolífera”, considera.
Custo x Qualidade
O economista Alexandre Delvaux disse que não é possível fazer uma análise consistente sem uma pesquisa que utiliza metodologias, acrescentando que essa amostragem participativa pode servir como indicativo, e não
deve ser destacada. Ele frisou que uma cidade com o custo de vida mais barato não é sinônimo de morar bem, ou que seja uma cidade boa para morar, deixando claro que não se referia diretamente a Campos.
“O que aconteceu com Campos é que ela viveu um longo período de um boom econômico e recentemente o dinheiro ficou escasso. É possível que o custo de vida tenha ficado mais baratos e isso é nítido em algumas áreas como a de aluguéis de imóveis. A queda nos preços se estiver havendo é uma coisa espontânea para sobrevivência de alguns segmentos da economia, como os serviços, por exemplo”, disse o economista.
Preços recuaram
O empresário Joilson Barcelos, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Campos (CDL) acha que realmente
os preços recuaram em Campos em segmentos distintos, mas que ao mesmo tempo a renda caiu e o desemprego aumentou.
” As empresas e os prestadores de serviço são realmente obrigados a reduzir seus lucros para sobreviver, mas isso não significa um ambiente economicamente saudável. Interessante é quando a renda aumenta e os preços diminuem, e não é isso que está acontecendo”, disse Joilson Barcelos.
Para ele, a amostragem participativa tem que se levar em conta, mas é bastante genérica. Por outro lado, com sua experiência empresarial, ele concorda que em outras cidades do estado do Rio de Janeiro, como por exemplo Macaé, o custo de vida está bem mais caro do que em Campos.
Site Custo de Vida
A página na internet foi criada em 2011, pelo então estudante de Belo Horizonte, Lucas Franco, que estava curioso para saber a diferença do custo de vida nas cidades brasileiras. Para responder essa questão, ele contou com a ajuda dos internautas, que enviam as informações para o site por meio de um questionário com 29 itens divididos em seis categorias: bar e restaurante, supermercado, transporte, utilidades, esporte e lazer e moradia. Para selecionar esses itens, Lucas procurou saber como o custo de vida é calculado formalmente no brasil e o que é levado em consideração.
Para colaborar, o usuário deve entrar no site, selecionar sua cidade e preencher os valores em cada item, sem a necessidade de cadastro. “Os preços em cada item são a média das contribuições enviadas pelos usuários. Quando o valor postado sai muito da média, vai para moderação. Depois, eu aprovo ou desaprovo manualmente”, explicou Lucas. Pelo site, também é possível comparar o custo de vida de uma cidade com outra. Com base nas colaborações, o site também atribui um índice de zero a dez para o custo de vida nas cidades, sendo as que recebem nota dez as mais caras.
Embora esses dados não sejam oficiais, as informações podem ajudar aqueles que pensam em mudar de uma cidade para outra ou abrir um negócio em outra região.