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Retratos da decadência do Hipódromo de Campos

O fotógrafo César Ferreira registra a situação do Linneo de Paula Machado, abandonado há quase uma década por dívidas e batalha judicial

Campos
Por Ocinei Trindade
27 de julho de 2018 - 17h33

Cavalos abandonados circulam pelo espaço em decadência (Fotos: César Ferreira)

O Hipódromo Linneo de Paula Machado, em Campos dos Goytacazes, foi considerado o terceiro mais importante do Brasil, atrás dos de São Paulo e Rio de Janeiro. Por conta de dívidas previdenciárias e trabalhistas, o “Jockey Club” entrou em declínio. Em 2011, foi leiloado pela Justiça por R$4,5 milhões, pagos por uma construtora. Sócios discordaram do valor e entraram com uma ação judicial. Patrimônio histórico tombado, a Prefeitura de Campos também interferiu à época, embargando a obra de um condomínio. O cenário de abandono foi registrado pelo fotógrafo César Ferreira. Ele e seu pai foram frequentadores assíduos.

Desde os anos 1950 até 2010, o lugar foi cenário de competições renomadas do turfe brasileiro. As corridas de cavalo atraíam pessoas de vários lugares, inclusive da capital. O fotógrafo César Ferreira, ainda adolescente, ia semanalmente ao Hipódromo para acompanhar o seu pai, um apostador apaixonado por corridas. Voltar ao lugar que faz parte de suas lembranças e ver tanto abandono e destruição causa-lhe tristeza. O profissional, que atua também como fotojornalista, publicou uma sequência de imagens do atual estado do Jockey Club em sua rede social nesta sexta-feira (27). As fotografias causam espanto.

“Meu pai, João de Sousa, conhecido como João Duro, vinha muito com Lord Broa e Genilson Sampaio, amantes do turfe. Lembro que o Jockey Club vivia lotado de gente. Havia transmissão local por um rádio e os resultados de outros hipódromos do país vinham por telefone.  A menina que fazia aposta ficava aguardando a ligação do Rio ou São Paulo para anunciar o resultado correto. O que levava uns dez minutos. Depois instalaram antenas parabólicas. A modernidade chegou e a decadência também”, comenta César Ferreira.

Foto premiada de César Ferreira em Mostra Competitiva de Brasília, no ano de 1999

O fascínio de César Ferreira pelo Hipódromo Linneo de Paula Machado é antigo. Ele ganhou um prêmio em uma Mostra Fotográfica, em Brasília, com foto de uma reportagem que fez, em 1999, com a jornalista Clarissa Laurence. “Olhar todo esse patrimônio ser destruído, parte o coração da gente. Muitas pessoas trabalharam aqui e dependiam do funcionamento do Jockey Club de Campos para se manterem. A memória está sendo destruída literalmente”, considera.

Em 30 de junho de 2010, foi realizada a última programação com 11 páreos disputados. Em 2011, foi anunciado a arrematação em leilão federal do Jockey Club de Campos. A área de 170 mil metros quadrados inclui o Hipódromo Linneo de Paula Machado e a sede social do clube. Sete investidores adquiriram o imóvel em leilão por R$4,5 milhões.  O leilão federal foi por dívidas e contribuições à Previdência Social.

Após o resultado do leilão, sócios do Jockey Club entraram com embargos na Justiça para desfazer o negócio, por discordarem do valor alcançado. Uma batalha judicial foi iniciada. A Prefeitura de Campos também interrompeu a obra de um condomínio que começou a ser feito no local, em 2013. O Hipódromo e sua sede são tombados pelo Patrimônio Histórico municipal. O empresário Henrique Oliveira, que fez parte da última diretoria do Jockey de Campos, em 2010, disse que se afastou dessa discussão. “Os sócios do Rio de Janeiro que se dispuseram a brigar na Justiça, mas não quero me envolver. Isto é passado”, comentou.

A história do Jockey Club de Campos pode estar caminhando para o fim. Os registros realizados pelo fotógrafo César Ferreira dão conta de um passado glamouroso que não condiz com a realidade no presente. No futuro, tudo leva a crer que, cedo ou tarde, a especulação imobiliária pavimentará parte dessa memória. As fotografias podem ajudar a manter esse legado.

O fotógrafo César Ferreira cataloga imagens do Hipódromo de Campos até a atualidade