Rodrigo Lira – Doutor em política, professor e pesquisador do programa de doutorado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes – Dados recentes do IBGE, revelam que Campos dos Goytacazes está entre os municípios que mais perderam participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2023. O dado, por si só, já merece atenção. Mas, quando analisado à luz da tendência de redução das rendas do petróleo, ele ganha contornos mais preocupantes e aponta para um movimento estrutural que tende a se intensificar.
A diminuição da participação de Campos no PIB nacional não é fruto do acaso nem pode ser explicada apenas por oscilações conjunturais. Ela sinaliza os limites de um modelo econômico fortemente dependente das rendas petrolíferas, em um contexto de transição energética e de rearranjos na economia global. Trata-se da confirmação de algo que vem sendo alertado há anos: a urgência de diversificar a base econômica do município.
Esse cenário fica ainda mais evidente quando observamos o contexto regional. São João da Barra, embora também beneficiária das rendas do petróleo, conta com o Porto do Açu como importante vetor econômico. Macaé, por sua vez, mesmo mantendo forte vínculo com a indústria offshore, tem avançado na construção de alternativas de desenvolvimento, com iniciativas da gestão municipal voltadas à educação, ao turismo, à inovação social e à diversificação econômica, ampliando sua capacidade de adaptação.
E Campos, como fica nessa equação?
Campos segue sendo um município grande em população, orçamento e relevância histórica, mas cada vez mais exposto pela ausência de um projeto estruturado de desenvolvimento de longo prazo. A perda de participação no PIB nacional não é apenas um número: é o sintoma de um modelo que se esgota sem que outro tenha sido efetivamente construído.
Não se trata mais de promover eventos ou debates para reafirmar diagnósticos já conhecidos. O momento exige planejamento urgente, focado nas vocações reais da cidade, no fortalecimento do capital humano e na integração regional. A pergunta que se impõe é direta: Campos seguirá reagindo aos números ou finalmente decidirá planejar o próprio futuro?
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