

A Polícia Federal prendeu, nesta terça-feira (16), no Rio de Janeiro, o desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, do TRF-2, na segunda fase da Operação Unha e Carne, que apura o vazamento de informações da Operação Zargun (leia aqui). A ação cumpre um mandado de prisão e dez de busca e apreensão, autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, e tem entre os alvos o deputado estadual licenciado Rodrigo Bacellar (União Brasil).
Desde 3 de dezembro, dia da prisão preventiva de Rodrigo Bacellar, o J3News analisa com especialistas as repercussões e os possíveis desdobramentos de ações que envolvem figuras da política fluminense. Este assunto foi destaque na reportagem “RJ acumula prisões de líderes políticos e expõe falhas no poder”. A cientista social e analista de política, Simone Pedro, faz observações sobre o que tem afetado o Rio de Janeiro, e como isso pode refletir em 2026.
Desde a prisão preventiva do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, como observa o panorama político no Rio de Janeiro?
A prisão de Rodrigo Bacellar aprofunda a crise política no Rio de Janeiro, não só por reacender o debate sobre a influência do crime organizado nas esferas de poder, mas também por influenciar diretamente o contexto das eleições para o Governo do Estado em 2026. Esse episódio pode, por um lado, abrir caminhos para uma candidatura mais sólida do atual governador à reeleição e, por outro, redesenhar a configuração das alianças políticas no estado.


O Rio de Janeiro tem histórico de ex-governadores e parlamentares presos em diferentes circunstâncias. Qual a sua análise sobre esses momentos?
Quando observamos o histórico de prisões de governadores e de presidentes da Assembleia Legislativa do Rio, fica evidente que esse problema não é pontual. Ele revela um cenário antigo, quase endêmico, de corrupção e de fragilidade das instituições de controle no Estado. Ao longo dos anos, vemos redes políticas que se repetem, se reorganizam e mantêm influência, muitas vezes ligadas a interesses que passam longe do bem público.
Em vários casos, essas práticas acabam se conectando a grupos que não têm qualquer compromisso com a sociedade — como facções criminosas. Quando esse tipo de relação se estabelece, o papel institucional fica profundamente comprometido. Em vez de funcionar para proteger a população, fiscalizar contratos e garantir políticas públicas, parte do Estado passa a atuar de maneira vulnerável, abrindo espaço para que interesses privados ou ilegais ditem prioridades.
De que maneira o Rio de Janeiro pode ser afetado com os fatos mais recentes na política fluminense?
Isso afeta diretamente o desenvolvimento do Rio de Janeiro: desorganiza serviços, afasta investimentos e impede um planejamento consistente de longo prazo. Mas o maior prejuízo é na confiança da população. Ver autoridades sendo presas repetidas vezes enfraquece a crença na ética, na transparência e no funcionamento das instituições democráticas.
Ou seja, mais do que casos individuais, esse ciclo mostra o quanto ainda precisamos fortalecer o controle público, recuperar a função das instituições e reafirmar que o Estado deve servir à sociedade — e não a redes paralelas de poder.
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