

O debate em torno do comissariamento dos Arautos do Evangelho voltou a ganhar força com a publicação do livro “O Comissariado dos Arautos do Evangelho: Crônica dos fatos 2017-2025, punidos sem diálogo, sem provas, sem defesa”, escrito por Manuel Jiménez Aleixandre e Juliane Vasconcelos Almeida Campos.


A obra, lançada este mês e repercutida pelo vaticanista Andrea Gagliarducci, reúne documentos oficiais e reconstrói passo a passo o processo iniciado há quase 10 anos, ainda em 2017, quando a instituição foi submetida a uma visita apostólica que, segundo o livro, resultou em parecer favorável, mas que, mesmo assim, acabou seguida pelo comissariamento decretado em 2019.
Em entrevista ao J3News, padre João Carlos Barroso, dos Arautos do Evangelho em Campos, afirma que o objetivo da publicação é permitir que as pessoas confrontem fatos e documentos. “Ao conferir os fatos narrados de forma objetiva com os documentos apresentados, qualquer pessoa séria, isenta de ânimo, poderá ver que ‘contra provas não há argumentos’. Conforme diz o livro, cada uma das afirmações nele contida estão rigorosamente documentadas”, completou o padre.
Obra não pode aceitar novos membros nem ordenar novos padres
A intervenção do Dicastério (órgãos administrativos que compõem a Cúria Romana) se arrasta há oito anos e envolve acusações de abusos psicológicos e físicos. Contudo, diz o livro e reforça Gagliarducci, que mais de 30 processos ofram concluídos de forma favorável aos Arautos. Hoje, o caso segue judicializado tanto no âmbito eclesiástico quanto em ações nas Justiças estadual e federal, abertas pela instituição para contestar decisões e pedir reparação por danos morais e materiais acumulados ao longo do período. Atualmente, grande parte desses processos ainda tramita sem decisão definitiva.
Apesar disso, a obra segue impedida de receber novos membros e de ordenar diáconos e sacerdotes desde 2019. O padre explica que a instituição possui dezenas de diáconos prontos para a ordenação e sete turmas de seminaristas com estudos concluídos.
“É um prejuízo gravíssimo para a instituição, pela boa fama lesada e muitos outros prejuízos que tem como um dos mais graves essa falta de novos sacerdotes. Enfim, é um bem enorme que é negado a toda a Igreja, pois são quase trinta diáconos que esperam sua ordenação, sem contar sete turmas de seminaristas com o estudos concluídos que também não puderam receber o diaconado. Numa situação normal, atualmente teríamos em torno de mais cem sacerdotes disponíveis para o ministério”, afirma.
Para o padre, a expressão “punidos sem diálogo, sem provas, sem defesa”, usada no título, resume o que ele considera o centro do problema. “Nunca fomos chamados para correção fraterna a respeito dos ‘terríveis crimes’ que teríamos cometido, nunca nos foram apresentadas de forma oficial quais seriam as denúncias recebidas para essa intervenção. E sem defesa, porque nunca houve contraditório, o que, aliás, seria impossível se não conhecemos as acusações. Portanto, era necessário que o público conhecesse a verdade, a fim de ser preservada a honra da Igreja e dos Arautos e aguardarmos por justiça”, completa.