

Campos dos Goytacazes voltou a reunir empresários, arquitetos, urbanistas, pesquisadores, autoridades e especialistas a fim de discutir a recuperação da degradada área central da cidade. O Fórum Requalificar o Centro – Diálogos para Transformação Urbana, promovido pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), na primeira semana do mês, contou com palestrantes ilustres. Eles apresentaram exemplos exitosos na recuperação do espaço urbano. O evento aconteceu um ano após o 1º Seminário de Revitalização de Centros Urbanos, também idealizado pela CDL-Campos, em parceria com várias instituições. A deterioração do Centro Histórico de Campos preocupa parte da população que depende de ações públicas.
O presidente da CDL, Fábio Paes, explicou a importância do Fórum:
“Ele é consequência do seminário que realizamos em 2024, no Centro de Convenções da Uenf, com urbanistas e pesquisadores do Brasil e do exterior. Este encontro é mais voltado para a discussão com especialistas em técnicas de revitalização de centros urbanos. Além de trazer a participação do governo para o processo de revitalização, trouxemos para Campos a inteligência do que está acontecendo em outros centros comerciais do Estado, do país e do mundo inteiro. É um ambiente de ideias, planejamento e aplicação. Reunimos formadores de opinião aqui, e isso reverbera na sociedade. A cidade consegue ter um clamor maior pela revitalização de uma área tão importante para o comércio e para a história de Campos”, diz.


Exemplos práticos
A manutenção de parte do Centro da cidade do Rio de Janeiro tem contado com propostas e ações de setores da iniciativa privada. É o caso do Grupo Aliança, que percorre uma área de 45 km², em 147 ruas da capital, toda semana, reportando aos sistemas da Prefeitura e do Governo do Estado todas as ocorrências de zeladoria, ordem urbana, segurança pública, iluminação e assim por diante. O CEO Marcelo Haddad, em sua palestra na CDL, exemplificou práticas que também podem ser aplicadas para requalificar o Centro de Campos:


“A primeira iniciativa passa por sermos capazes de gerar inteligência sobre os problemas que acontecem no território. A partir disso, cobrar ativamente a atuação do poder público. Temos um nível de granularidade sobre o que acontece no Centro maior do que a própria Prefeitura. Por isso, fomos convidados a ser a primeira entidade não governamental a integrar o Centro de Operações. O segundo elemento é o que chamamos de advocacy. Este é um espaço onde sociedade, comunidade local, autoridades e empresários refletem juntos sobre o que está acontecendo e o que pode vir a acontecer em determinada área.”
Haddad citou um modelo aplicado no mundo inteiro há mais de 40 anos, reconhecido como Business Improvement Districts (BIDs). “No Brasil, adaptamos para ‘Áreas de Revitalização Econômica’. São quatro pilares: limpeza adicional, segurança adicional, embelezamento e paisagismo, e promoção comercial daquele destino. O que fazemos é evidenciar problemas e orientar a ação pública; falar sobre o local e promover o destino; trazer uma proposta consolidada internacionalmente”, diz.
Planejamento e mobilidade
Especialista em planejamento urbano e conselheiro da Agência Reguladora de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, Vicente Loureiro também palestrou no Fórum da CDL. Ele falou sobre mudanças importantes no modo como as cidades e as pessoas se comportam. “Falo de transição demográfica. Campos, por exemplo, cresceu pouco — cerca de 4% entre 2000 e 2022 —, mas outros fatores não acompanharam essa estagnação. Houve um crescimento expressivo do estoque imobiliário e um aumento muito grande no uso do automóvel. Isso impacta diretamente a área central, ao mesmo tempo em que novas centralidades surgem e novas formas de uso da cidade se consolidam”, define.


Para Loureiro, outro ponto importante é o crescimento da população idosa em médias e grandes cidades do país. “Esse envelhecimento exige novas formas de prestar serviços e oferecer comodidade nos espaços públicos. Reflito as transformações no modo de fazer e agir das pessoas na cidade, como isso repercute no Centro e como esse território precisa se ajustar aos novos tempos. Acredito que há um espaço importante para atrair o setor privado a participar da gestão de algumas funções públicas. Isso é possível, desde que existam condições que garantam a continuidade da operação — seja custeando parte dela, seja criando mecanismos mais sofisticados, como fundos garantidores.” O especialista complementa:
“O poder público não tem capacidade de arcar sozinho com todas essas mudanças e seus impactos. É preciso dividir tarefas e, sobretudo, investimentos”, diz.
Miguel Pereira
Durante oito anos, André Português foi prefeito de Miguel Pereira, no Sul Fluminense. Atualmente, preside a Miguel Pereira Tour. A pequena cidade, que tinha baixíssimo orçamento, passou a ser referência em turismo, lazer e gastronomia em menos de uma década. O parque temático sobre dinossauros atrai milhares de visitantes. Tudo começou com a requalificação e a revitalização da área central, parcerias público-privadas e empreendedorismo. Essas ações foram compartilhadas durante o Fórum da CDL.


“Não sou um gestor político, mas um gestor empreendedor. Trouxe muito do espírito privado para o público. Fiz um grande projeto inovador, no qual executei a padronização das fachadas de todas as lojas da cidade. Enviei um projeto de lei para a Câmara para que o empresário que executasse a reforma tivesse cinco anos de isenção de IPTU. Miguel Pereira tinha o mesmo problema das cidades do Brasil: cresceu sem nenhum tipo de planejamento. É preciso trazer uniformidade para a cidade. Com isso, as pessoas se sentem mais confortáveis, o que gera mais empregos, aquece a economia e atrai recursos novos.”
André Português comentou a relevância da iniciativa privada na revitalização de áreas centrais. “O Brasil precisa discutir menos política e mais projetos e planejamento. Não existe cidade decretada a não crescer; o que existe é cidade sem projeto e sem planejamento. Parcerias público-privadas são fundamentais. Enquanto políticos tratarem empresários como inimigos, o país não vai crescer. A saída é transformar a prefeitura numa empresa. E, como toda empresa privada dá lucro, a empresa pública precisa dar resultado para a população.”


Repercussão
Durante o Fórum Requalificar o Centro, alguns participantes puderam comentar e sugerir propostas para revitalizar e recuperar a área urbana da cidade. O coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal Fluminense (IFF), Luciano Falcão, moderou um debate com os palestrantes. “É muito positivo trazer conhecimento externo dos problemas que se repetem aqui. Claro que temos particularidades, questões locais. Reunimos agentes de várias tipologias, tanto do poder público quanto do poder privado, todos com o mesmo objetivo, e isso é muito importante.”


O subsecretário de Urbanismo de Campos, Cláudio Valadares, participou do evento. “É um momento muito importante, no qual se criou um debate que já vínhamos construindo há bastante tempo. Já temos um projeto, mas agora é preciso ampliar a sinergia de interesses, como foi dito aqui, somando as experiências de todos os envolvidos. É essencial manter esse tipo de diálogo para que as ações se transformem, de fato, em progresso. Acredito plenamente na recuperação das áreas centrais. Existem exemplos no Brasil e no mundo que mostram que é possível revitalizar.”
Outro representante da Prefeitura de Campos no encontro, o subsecretário de Turismo Edvar Júnior, defende a revitalização do Centro. “Achei as palestras sensacionais. Precisamos direcionar nossos pensamentos e projetos, com diálogo sempre aberto entre o empresariado e o poder público, para consolidar esse crescimento. Há projetos importantes de reocupação do Centro, inclusive na área do Rio Paraíba, pensando em moradia e equipamentos municipais”, comenta.
O presidente da CDL Campos, Fábio Paes, disse que é preciso avançar nas discussões de solução para o Centro. “As soluções existem e estão sendo aplicadas em outros municípios. O que queremos, a partir das ações que estamos desenvolvendo, é transformar essas ideias em um plano concreto. Queremos que as propostas sejam incorporadas de forma efetiva na agenda do poder público e que se tornem políticas contínuas, independentemente de gestão. Nosso objetivo é construir um caminho que permita iniciar um processo real de revitalização, com etapas claras, metas definidas e participação ativa da sociedade”, conclui.