A psicóloga Glória Abreu integra a equipe do Centro Nicola Albano UTI Neonatal e Pediatria e acompanha pais de bebês prematuros internados. A psicologia oferece um espaço seguro para que a família elabore medos, angústias e frustrações durante todo o processo. Glória destaca a importância do Setembro Amarelo nesses contextos delicados:
“A campanha contribui para a conscientização social, estimulando a discussão aberta sobre sofrimento emocional, tristeza profunda, ansiedade e depressão”, revela.
Glória Abreu analisa a necessidade de enfrentar tabus, buscar informação e ajuda profissional quando alguém apresenta comportamento depressivo e suicida. Durante todo o mês de setembro, profissionais de saúde alertam para o combate e prevenção ao problema.
Como o apoio psicológico dentro do ambiente hospitalar pode ajudar no enfrentamento das adversidades e na prevenção de comportamentos suicidas?
O acompanhamento psicológico no ambiente hospitalar tem um papel central no enfrentamento das adversidades e também na prevenção de comportamentos suicidas. O psicólogo oferece um espaço seguro para que a família possa elaborar seus medos, angústias e frustrações. Esse apoio reduz a ansiedade, facilita a comunicação entre paciente, família e equipe de saúde e ajuda os pais a fortalecer o vínculo com o bebê, adquirindo mais segurança e senso de pertencimento.
O trabalho psicológico auxilia na elaboração do luto simbólico, promove maior aceitação da realidade hospitalar e funciona como fator de proteção, prevenindo o agravamento para quadros depressivos severos e servindo como barreira contra pensamentos suicidas.
Qual a importância da rede de apoio no cuidado com a saúde mental desses pacientes ou pais de prematuros?
A rede de apoio — formada por familiares, amigos e equipe de saúde — é um fator essencial de proteção emocional. Ela atua como um verdadeiro “amparo psicológico” em meio à experiência de dor, incerteza e desgaste físico. A presença da rede de apoio compartilha a carga emocional, reduzindo a sensação de solidão e abandono. Além disso, o suporte prático — como ajudar em tarefas da casa ou cuidar de outros filhos — fortalece a família, que passa a se sentir mais amada, confiante e esperançosa quanto ao futuro.
De que forma o Setembro Amarelo contribui para conscientizar sobre a importância de falar sobre saúde mental nesses contextos tão delicados?
O Setembro Amarelo tem papel fundamental nesses contextos, pois atua na quebra de tabus e na promoção da saúde mental. A campanha estimula a conscientização social, incentiva o diálogo aberto sobre sofrimento emocional, tristeza, ansiedade e depressão, e combate o estigma de que falar da dor psíquica seria sinal de fraqueza. Pelo contrário, reforça que pedir ajuda é um ato de coragem.
Além disso, valoriza a escuta ativa, ajuda a reduzir o isolamento e orienta sobre a importância do acompanhamento psicológico, psiquiátrico e de outros profissionais de saúde.
Como os pacientes — ou os pais, no caso dos bebês prematuros — reagem emocionalmente quando recebem o diagnóstico ou se deparam com a realidade do tratamento prolongado?
A chegada de um bebê prematuro costuma ser marcada por sentimentos muito intensos e contraditórios. O impacto emocional nos pais varia conforme a gravidade do quadro, a rede de apoio disponível e os recursos psicológicos de cada família, mas existem padrões comuns de reação como o choque e a incredulidade. Muitos relatam surpresa e desorientação ao receber o diagnóstico de prematuridade, com a sensação de que o sonho da gestação perfeita foi interrompido de forma brusca.
A ansiedade e o medo são enormes, com muitas dúvidas e incertezas sobre o tempo de UTI e o que acontecerá dali em diante. É comum também o sentimento de culpa e fracasso, especialmente por parte da mãe, que se pergunta: “Onde eu errei? Por que comigo?”. Os pais vivenciam um luto simbólico, acompanhado de uma tristeza profunda. Esse processo é uma verdadeira montanha-russa emocional, alternando entre medo, esperança, frustração e gratidão. O suporte psicológico, o acolhimento da equipe de saúde e a inclusão ativa dos pais nos cuidados são fundamentais para reduzir o sofrimento e fortalecer o vínculo com o bebê.
Quais são os sinais mais comuns de sofrimento emocional que vocês observam nesses pacientes ou familiares durante o acompanhamento psicológico?
O acompanhamento psicológico de pais de bebês prematuros em UTI Neonatal ou em tratamento prolongado costuma revelar sinais clínicos claros de sofrimento emocional. Os mais comuns são: ansiedade, caracterizada por inquietação constante e preocupação excessiva; tristeza persistente, com choro frequente e desesperança; irritabilidade e impaciência; sentimento de culpa pela prematuridade ou por não poder estar presente o tempo todo; sensação de impotência diante da situação; dificuldades de concentração e memória prejudicada; além de pensamentos catastróficos, como “meu filho não vai resistir” ou “nunca vai melhorar”.
Também são frequentes preocupações obsessivas ligadas ao bebê, exames e procedimentos. Esse sofrimento se manifesta fisicamente em sintomas como insônia, perda de apetite, dores de cabeça e tensão muscular. A sobrecarga emocional decorre da exaustão pelo tempo prolongado de tratamento e pela necessidade de conciliar papéis familiares e profissionais. Esses sinais variam de intensidade e podem se alternar ao longo do processo. Muitas vezes não são verbalizados, mas se revelam em expressões corporais e comportamentais, que precisam ser observadas com atenção pelo psicólogo.
Que mensagem de acolhimento e incentivo você deixaria para quem está enfrentando tristeza, desânimo ou pensamentos de desistência nesse período de fragilidade emocional?
Pedir ajuda é um gesto de força. Existem profissionais, familiares e amigos dispostos a caminhar ao seu lado, dividir o peso e oferecer cuidado. Sua vida importa, seu sentir importa, e há esperança — mesmo quando ela parece distante.
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