Uma novela sem fim. Uma integração que não se concretiza de fato. É o panorama atual da Ponte Integração Deputado João Peixoto. Isso mais de seis meses após a abertura e liberação para o tráfego de veículos. Hoje, quem percorre a BR-356 e acessa a Ponte da Integração pelo distrito de Caetá, no município de São João da Barra, fica com a impressão de que o sonho da região foi realizado e a espera de mais de 40 anos acabou. Base da Polícia Militar na cabeceira a asfalto novo, assim como em toda a extensão da ponte. Mas basta percorrer os 1.344 metros de extensão e chegar à cabeceira oposta, na ligação com Campos e São Francisco de Itabapoana, que o cenário muda completamente.
Quem acessa a ponte por São João da Barra se surpreende com um cenário diferente do outro lado. A partir da cabeceira para acessar São Francisco, o que se vê são obras para todos os lados, estrada de chão e muita poeira. A equipe de reportagem do J3News visitou o local na última semana. As intervenções nos acessos de SJB para São Francisco e de São Francisco para Campos seguem a todo vapor. Em uma conjuntura bem distante do asfalto novo de Caetá (SJB) até o fim da extensão da ponte. Os trabalhadores no local atuam apenas com a informação de que a entrega deve ser feita no próximo ano, mas sem acesso a um planejamento claro.
Em nota, o DER-RJ informou que as obras de drenagem, pavimentação, acostamento e sinalização em um trecho de 18 quilômetros da RJ-194 (Campos-Gargaú) acontecem com previsão para julho de 2026 e têm investimentos de R$78,6 milhões. Um valor que até então ainda não havia sido citado pelo órgão estadual neste processo. O DER afirmou ainda que, neste sentido, há equipes técnicas trabalhando no processo de terraplanagem de parte da via para a pavimentação.
O órgão acrescentou que a RJ-196, em São Francisco, também recebe obras de implantação de 18 quilômetros de rodovia, incluindo drenagem, pavimentação, acostamento e sinalização. Nesta fase, são R$77,1 milhões investidos em serviços para melhoria na mobilidade. Existe ainda um terceiro estágio de obras neste lado da integração. “As equipes atuam nas fases de terraplanagem e pavimentação, nas obras das três alças de acessos à ponte, e a conclusão está prevista para o primeiro semestre de 2026”, revelou o DER-RJ.
Somando os R$78,6 milhões citados agora pela primeira vez aos R$77,1 milhões que já haviam sido projetados desde o ano passado, são R$ 155,7 milhões em obras de acesso à ponte, com entrega prevista para o primeiro semestre de 2026. Anteriormente, os valores investidos segundo o DER-RJ totalizavam R$ 136 milhões, sendo R$ 105 milhões na ponte e R$ 21 milhões no acesso. Agora, só com acesso são mais de R$ 155 milhões em obras acontecendo, mesmo após a liberação.
Estrutura
A ponte possui 1.344 metros de extensão por 16,2 de largura. Um acostamento de três metros em cada sentido e um passeio de dois metros para pedestres e ciclistas. O tamanho da espera também é longo. Esta ponte, batizada de Deputado João Peixoto, começou a ser construída em 2014, há 11 anos pelo então governador Luiz Fernando Pezão. Uma primeira ponte começou a ser construída em 1981, quando o país era governado pelo presidente João Figueiredo. Pilares jamais receberam tabuleiros. A estrutura foi deteriorada e acabou descartada décadas depois. Novela, portanto, que se estende há 44 anos. E terá pelo menos 45, se os últimos prazos do DER forem cumpridos e as obras terminarem em 2026.
Cobrança de entidades
Em nota, a Firjan Norte Fluminense destacou que vê urgência na realização de melhorias na RJ-194. “A federação avalia como urgente a realização de melhorias na RJ-194, especialmente no trecho que liga Campos dos Goytacazes à Ponte da Integração. Com atenção à necessidade de ligação com o Distrito Industrial, urgente e essencial para a infraestrutura da região. A plena utilização da ponte será um marco na melhoria da mobilidade regional, ampliando a integração entre os municípios e fortalecendo a logística para os setores produtivos”, enfatiza.
A ligação da RJ-194 com o Distrito Industrial, em Guarus, também foi uma preocupação demonstrada pela Prefeitura de Campos. “De acordo com o subsecretário de Mobilidade Urbana, Sérgio Mansur, a preocupação inicial com relação ao trânsito, nas vias urbanas permanece. O DER respondeu que o traçado alternativo, para interligar a RJ 194 até a Codin, estava em análise para posterior licitação”, disse o governo municipal também em nota.
O presidente do Consórcio Intermunicipal do Norte e Noroeste Fluminense (Cidennf), Léo Pelanca, foi mais enfático e frisou que o projeto perde força sem a sua conclusão. “Sabemos da importância estratégica da Ponte da Integração para todo o Norte Fluminense. Essa ligação direta com a BR-101 Norte tem potencial para impulsionar o escoamento da produção, desafogar o trânsito dentro de Campos e fortalecer o acesso ao Porto do Açu. Mas é fundamental deixar claro: sem a pavimentação da margem esquerda do Rio Paraíba, esse projeto perde força. A ponte pronta, sem as RJs devidamente asfaltadas, não cumpre seu papel de integração. Por isso, reforçamos a necessidade de conclusão urgente dessas obras de pavimentação. O desenvolvimento da região depende disso”, comentou.
Expectativa pela finalização das obras
A reportagem consultou as prefeituras de São Francisco de Itabapoana e São João da Barra, para falar sobre o panorama atual de integração das cidades e as perspectivas futuras. Por meio de nota, o município de São Francisco afirmou que acompanha com expectativa a conclusão da obra, que vai facilitar o trânsito, reduzindo o percurso e melhorando a mobilidade. “Agradecemos ao Governo pelo trabalho já realizado e reforçamos a importância da finalização, que trará mais conforto e segurança para a nossa população”, disse o governo de SFI.
A Prefeitura de São João da Barra elogiou a estrutura da Ponte no lado sanjoanense e também falou sobre a expectativa pela conclusão das obras. “Do lado de São João da Barra, o acesso encontra-se em perfeito estado, e a parceria com o Estado garante a segurança no local, com base da Polícia Militar e câmeras de vigilância. Estamos certos de que, com a finalização da obra, os benefícios serão consolidados, fortalecendo ainda mais a economia e a integração da região, resultado de um trabalho sério e comprometido do Governo do Estado em prol do desenvolvimento do Norte Fluminense”, pontuou.
Integração começa a mexer com a rotina da população
A equipe de reportagem do J3News ouviu em alguns pontos da integração entre os municípios – ainda por estrada de chão – histórias de pessoas que começam a ter a rotina influenciada pelo projeto. Seja positiva ou negativamente.
No distrito de Campo Novo, já em São Francisco, o cargueiro Eliberto Pontes revelou que seu trajeto para o trabalho já diminui em tempo e distância. “Venho de São Francisco para trabalhar em Sabonete (SJB). Agora, com a integração, esse caminho diminuiu de 79 km para 32 km. O que fazia em uma hora, faço em 40 minutos”, comentou.
Vanda Santos é moradora do Parque Prazeres e faz o percurso em estrada de chão pela RJ-194 até Gargaú uma vez por semana. Ela opina que a situação piorou. “O acesso piorou tanto nas condições da estrada quanto no tanto de poeira”, conta.
A poeira também é preocupação para quem mora nas proximidades das obras. Como a dona de casa Iracema Oliveira, na localidade de Muritiba (SFI). “Estamos respirando muita poeira. A casa não fica mais limpa e arejada. No fim do dia, às vezes sinto a cabeça ardendo, dores de cabeça. Tem gente sofrendo com problemas de alergia”, relata.