O aleitamento materno vai muito além de uma prática nutricional. Para os bebês prematuros, ele representa proteção, vínculo e um componente vital no desenvolvimento neurológico e imunológico. No Centro Nicola Albano, equipes de médicos, enfermeiros e consultores de amamentação trabalham junto às mães para garantir que cada gesto de cuidado seja parte de um processo de saúde e afeto, promovendo segurança e confiança em meio à delicadeza do ambiente hospitalar. Esta prática se destaca na campanha Agosto Dourado.
Para a enfermeira Synara Miller, o leite materno é prioridade absoluta e faz parte do programa “Meu Leitinho”, desenvolvido pela instituição. “Temos uma sala de ordenha onde as mães retiram o leite conforme horários agendados. Se elas não conseguem vir em todos os horários, ajustamos a retirada. O leite materno é identificado, armazenado por até 12 horas ou ofertado imediatamente. É a melhor forma de alimentação para o bebê”, explica. Quando o aleitamento materno não é suficiente, a equipe recorre a leite fórmula de empresas certificadas, como a Nutrimed, conforme a necessidade clínica do bebê.
Além do cuidado nutricional, o Centro Nicola Albano adota o protocolo de colostroterapia para bebês com menos de 36 semanas, prevenindo infecções intestinais graves, como a enterocolite necrosante. “Seis horas após o parto, uma enfermeira capacitada visita a mãe e orienta sobre a retirada do colostro, que é administrado na boca do bebê, 1 ml em cada bochecha. Esse procedimento fortalece imunologicamente os prematuros e aproxima mãe e filho”, detalha Synara.
A médica neonatologista Danielle Baptista Reis ressalta a importância da presença materna. “Na UTI, o leite da mãe reduz complicações intestinais e diminui o risco de infecções recorrentes. O vínculo mãe-bebê é fundamental. Utilizamos o método Canguru, com contato pele a pele, que estimula a descida do leite, favorece o desenvolvimento neurológico e traz efeito psicológico positivo tanto para o bebê quanto para a mãe.”
Desafios para mães e equipe
Para as mães, cada etapa do processo representa resistência, coragem e esperança. Isabella Assumpção, mãe de três meninos, compartilha sua experiência com os gêmeos Lucas e Miguel, que nasceram prematuros e precisaram de internação prolongada na UTI. “Quando meu bebê Lucas ficou na UTI, eu me senti impotente. Amamentar, mesmo por sonda, foi meu jeito de participar, de estar presente. O ato de dar meu leite me manteve firme e conectada com ele. O leite é emocional, ligado à nossa cabeça. Às vezes meu leite caiu, mas os profissionais diziam: ‘Tudo bem, amanhã recomeçamos’. Isso me ajudou a continuar.”
Quem garante apoio diário às mães é Gisele Pita, técnica de enfermagem e consultora de amamentação. “Quando levamos informação e carinho, as mães se sentem seguras e se entregam mais. É um trabalho conjunto: nós fornecemos cuidados médicos e a mãe complementa com o leite materno, garantindo um resultado eficaz para o bebê. Não importa se a mãe tira 10 ml ou 200 ml, ela está oferecendo o melhor que pode”, afirma. Gisele reforça ainda: “É essencial que as mães não se cobrem em excesso. O leite é resultado de amor, dedicação e presença diária. Estar presente e acompanhar o filho é o gesto mais importante.”
O Agosto Dourado envolve acolhimento, atenção às necessidades emocionais das mães e a construção de um vínculo sólido entre mãe e bebê. Com informação, apoio, técnica e acolhimento, cada mãe encontra forças para superar os desafios da maternidade. Isabella resume a experiência de muitas mães: “Amamentar, mesmo em situações desafiadoras, me deu força, segurança e sensação de fazer parte do tratamento do meu filho. É um ato de amor e resistência.”