O mês de julho é marcado pela campanha Julho Verde, dedicada à prevenção e ao diagnóstico precoce dos cânceres que acometem a região da cabeça e pescoço. A iniciativa, que ganha cada vez mais visibilidade no Brasil, conta com a mobilização de equipes médicas, instituições de saúde e a participação da sociedade civil.
Em Campos dos Goytacazes, o Hospital Dr. Beda e o Grupo IMNE realizam uma série de atividades voltadas à conscientização, como palestras, eventos ao ar livre e ações educativas. O médico-cirurgião de cabeça e pescoço Raphael Sepulcri, integrante da equipe das instituições, falou com exclusividade sobre a campanha, fatores de risco, sinais de alerta e avanços nos tratamentos.
Qual é o principal objetivo da campanha Julho Verde 2025 promovida pelo Hospital Dr. Beda?
O principal objetivo é levar informação à população. Como se trata de um tipo de câncer que pode ser prevenido, é fundamental que as pessoas conheçam os principais fatores de risco.
Quais ações específicas foram desenvolvidas este ano para ampliar a conscientização sobre o câncer de cabeça e pescoço?
Neste ano, visitamos escolas de ensino médio para dar palestras aos jovens, realizamos uma palestra para os funcionários do hospital, divulgamos amplamente em nossas redes sociais, e a principal ação foi no dia 26, na Praça do Flamboyant. Estivemos lá com toda nossa equipe multidisciplinar, distribuindo material informativo e promovendo atividades voltadas à saúde e bem-estar, incluindo um treino coletivo com os professores do Studio Fabrício Bastos.
De que forma atividades como palestras, eventos esportivos e ações em praças públicas contribuem para a prevenção da doença?
As palestras são fundamentais para informar sobre os fatores de risco e a importância de buscar um especialista ao surgirem os primeiros sintomas. Os eventos esportivos promovem saúde, e sabemos que a prática regular de atividade física reduz o risco de diversos tipos de câncer. Já as ações em praças públicas nos permitem alcançar pessoas que, talvez, não teriam acesso a essas informações em outros contextos.
Quais são os tipos de câncer que se enquadram na categoria de cabeça e pescoço?
São os tumores que acometem a boca, laringe, orofaringe (garganta), glândulas tireoides e salivares, seios da face (região onde se manifesta a sinusite) e a pele dessa região.
Quais os principais fatores de risco para o desenvolvimento desses tumores? O HPV ainda é uma grande preocupação?
Os principais fatores de risco são o tabagismo e o consumo de álcool. Quando combinados, aumentam em até 100 vezes a chance de desenvolver câncer de cabeça e pescoço. Desde 2010, também observamos um crescimento nos casos relacionados à infecção pelo HPV, principalmente ligados ao câncer de orofaringe. Outros fatores, como má higiene bucal e exposição a agentes químicos, principalmente em ambientes industriais, também merecem atenção, mas os mais relevantes continuam sendo os três primeiros.
Existe uma faixa etária mais vulnerável ou o câncer de cabeça e pescoço pode afetar pessoas em qualquer idade?
Por exigir um longo período de exposição aos fatores de risco, essa doença é mais comum em homens com mais de 50 anos, especialmente os que fumaram e beberam durante muitos anos.
Quais os sinais de alerta que devem chamar atenção e motivar uma consulta médica?
Manchas vermelhas ou esbranquiçadas na boca ou garganta que persistem por mais de 15 dias, alterações na voz como rouquidão persistente, caroços no pescoço, feridas na pele, dificuldade ou dor para engolir são sinais importantes que merecem avaliação médica.
Como a detecção precoce pode influenciar nos resultados do tratamento?
Quando diagnosticado precocemente, o câncer de cabeça e pescoço pode ter chances de cura superiores a 90%. Já em estágios avançados, esse índice pode cair para menos de 50%.
Há exames preventivos ou check-ups recomendados para pessoas com maior risco?
Embora não exista um exame de rastreio padronizado como no caso do câncer de mama ou próstata, é recomendada uma avaliação regular com otorrinolaringologista ou cirurgião de cabeça e pescoço para pessoas com histórico de tabagismo, alcoolismo ou exposição a fatores de risco. A avaliação clínica e, se necessário, exames de imagem ou biópsias, podem ser fundamentais para um diagnóstico precoce.
Quais são os principais avanços no tratamento cirúrgico e clínico do câncer de cabeça e pescoço?
Na área cirúrgica, a cirurgia robótica tem se destacado, principalmente para tumores iniciais na base da língua. Também já realizamos esvaziamento cervical e cirurgias da laringe com o uso de robôs em nossa unidade. No tratamento clínico, imunoterapias e novos medicamentos têm proporcionado avanços significativos, especialmente para pacientes em estágios mais avançados da doença.
Como o apoio psicológico e multidisciplinar contribui no enfrentamento da doença?
O paciente com câncer de cabeça e pescoço costuma enfrentar impactos profundos, já que os órgãos afetados envolvem funções vitais como respiração, fala e deglutição. O suporte de nutricionistas, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais é indispensável. Muitos desses pacientes enfrentam mutilações visíveis e desafios sociais, como dependência de álcool e abandono familiar.
Quais os maiores desafios enfrentados pelos pacientes durante e após o tratamento, especialmente no que diz respeito à fala, alimentação e autoestima?
As sequelas são muitas vezes visíveis e afetam diretamente a qualidade de vida. Falar, respirar e se alimentar tornam-se desafios. Por isso, o trabalho de reabilitação com uma equipe multidisciplinar é crucial para reconstruir autoestima e funcionalidade.
O que é relevante destacar a respeito da doença, tratamentos, conscientização ou afins?
Gostaria de reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Esse tipo de câncer pode ser evitado com medidas simples, como evitar o tabaco e o álcool, além de manter a vacinação contra o HPV em dia. A informação salva vidas, e a conscientização é o primeiro passo.
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