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Câmeras multam e educam motoristas

Equipamentos instalados no semáforos de Campos já aplicaram 676 multas

Especial J3
Por Leonardo Pedrosa
6 de julho de 2025 - 0h01
Resultado|Segundo dados da Prefeitura, houve queda de 47% no número de multas deste ano em relação a 2024 (Fotos: Silvana Rust)

Campos completou dois anos de implantação dos semáforos inteligentes e seis meses de fiscalização de trânsito por videomonitoramento. O sistema tem provocado mudanças na mobilidade urbana e no comportamento dos motoristas, embora o caminho ainda exija ajustes e ampliação, segundo especialista.

Desde a instalação dos primeiros equipamentos, em maio de 2023, a tecnologia foi levada a mais de 50 cruzamentos, com sensores para contagem do fluxo de veículos e câmeras de alta definição que auxiliam na fiscalização e na organização do tráfego. Em agosto daquele mesmo ano, as câmeras começaram a registrar o volume de veículos. Já em janeiro de 2025, as multas passaram a ser aplicadas com base nas imagens captadas.

Multas|Fiscalização eletrônica nas ruas da cidade começou em janeiro de 2025

A fiscalização ocorre em conformidade com a Resolução do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito), de número 909, de 28 de março de 2022, que regulamenta a aplicação desta tecnologia para garantir segurança e eficácia na gestão do trânsito.

Dados da Guarda Civil Municipal (GCM) mostram que no primeiro semestre deste ano foram registradas 676 infrações por videomonitoramento. Em multas, somado à atuação da Guarda nas ruas, são 12,5 mil. Em comparação ao mesmo período do ano passado, houve um aumento de 6,8%, quando registrou 11,7 mil. Entre as infrações mais comuns estão o avanço de sinal, estacionamento irregular sobre calçadas, uso do celular ao volante, falta de cinto de segurança e pilotagem de motocicletas sem capacete. As imagens são analisadas em tempo real por meio do Centro de Controle Operacional (CCO).

Central|Centro de Controle Operacional recebe imagens em tempo real

Melhor gestão dos dados
A avaliação do município é positiva. Segundo a Secretaria de Segurança e Ordem Pública, os semáforos inteligentes contribuíram para reduzir avanço de sinal e melhorar o fluxo em horários de pico. De acordo com a Guarda Municipal, os resultados das câmeras nos semáforos vão além da aplicação de penalidades.

Em um dos exemplos mais recentes da atuação do videomonitoramento, um motociclista foi flagrado tampando a placa e avançando o sinal vermelho. Um agente que presenciou a cena fez contato com o CCO, que identificou o veículo e, posteriormente, conseguiu autuar o infrator.

Wellington Levino

“O CCO é uma ferramenta fundamental e alinhada às práticas modernas de segurança eletrônica, utilizada em diversas cidades do Brasil e do mundo. Aqui em Campos, ela tem permitido uma atuação mais eficiente, com agentes capacitados e resultados concretos na prevenção e resposta a ocorrências”, informou o comandante da Guarda, Wellington Levino.

“Nossa atuação deixou de ser apenas colaborativa e passou a ter papel de destaque. Isso valoriza o trabalho dos nossos profissionais e reforça o compromisso com a população campista, que agora conta com os olhos da segurança pública em diversos pontos da cidade, garantindo mais tranquilidade a todos”, acrescentou.

Álvaro Oliveira (Foto: Facebook)

O sistema também serve como ferramenta de gestão. Um exemplo citado pelo presidente do Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT), Álvaro Oliveira, é o cruzamento entre a Avenida 28 de Março e a José Alves de Azevedo, onde mais de 6,6 milhões de veículos foram registrados apenas em 2024, com picos de 24 mil passagens de veículos.

“As câmeras instaladas seguem em pleno funcionamento, e os dados gerados por elas têm subsidiado decisões estratégicas de gestão do tráfego urbano. Tivemos picos diários superiores a 24 mil veículos neste cruzamento. Esses números ajudam a compreender os horários de maior demanda e a planejar intervenções como a onda verde, otimizando os deslocamentos e reduzindo o tempo de espera nos semáforos”, destaca Álvaro.

Hoje, a “onda verde” é adotada em vias como Tenente Coronel Cardoso, Conselheiro Otaviano, Alberto Torres e Saldanha Marinho. Neste ano, a tecnologia foi expandida para a Avenida Princesa Isabel e a rotatória da Uenf, na Alberto Lamego. Nos próximos dias, cruzamentos movimentados na Avenida Arthur Bernardes e na região do Jóquei também receberão o sistema, segundo o órgão.

Impacto na saúde
A Prefeitura afirma que os impactos da tecnologia são percebidos na saúde. De acordo com registros do Hospital Ferreira Machado (HFM), de janeiro a abril de 2024, foram mais de 2 mil atendimentos relacionados a acidentes de trânsito – número que caiu para cerca de 1,5 mil no mesmo período de 2025. Uma redução de quase 550 casos.

Em contrapartida, Campos registrou aumento de mortes no trânsito, com 36 óbitos de janeiro a abril, representando 69% das mortes na Região Norte Fluminense, e um aumento de 16% se comparado ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Estado.

Especialista 
A cidade ainda enfrenta desafios, como a conservação das vias e a necessidade de ampliar a cultura de respeito às leis de trânsito, de acordo com usuários e com o especialista Renato Siqueira. O arquiteto e urbanista observa que o sistema significa mais um ganho à mobilidade, embora ainda necessite da instalação de inibidores eletrônicos de velocidade e de avanço da sinalização viária.

“Por estas ausências e pela falta de educação no trânsito, ainda se observa altos índices de acidentes, principalmente com motociclistas. Registros que incluem capotamento são especialmente feitos na Avenida 28 de Março. Entendo que a instalação de dispositivos eletrônicos que inibam o avanço e a velocidade acima do permitido, nos semáforos, pode ser um forte aliado. Isso, complementado por campanhas educativas permanentes e de ampla divulgação, que podem estar no Diário Oficial e outras mídias da Prefeitura, além de entre conveniados e parceiros, como entidades do comércio local”, opina.

Vozes do dia a dia
Para muitos, o funcionamento das câmeras ainda gera dúvidas, e há quem questione a efetividade do sistema. A bibliotecária Cristiane Costa, de 59 anos, enxerga pontos positivos nas câmeras, principalmente como aliadas da segurança pública.

Cristiane Costa

“O trânsito de Campos, como em qualquer cidade em crescimento, é muito tumultuado. Tenho sentido que as vias estão mal conservadas, e isso também impacta. Os semáforos inteligentes, acho positivo de modo geral. As câmeras, quem respeita as regras vê vantagem. Em caso de assalto ou algo assim, essas imagens também ajudam, vão para a central. Já para quem comete infração, acha que repreende”, comenta.

O taxista Benedito Rangel, de 64 anos e 45 de profissão, é direto: “Não vejo muita inteligência nesse sinal”. Apesar da crítica ao nome, ele valoriza o papel da sinalização e da fiscalização.

“É obrigação nossa, como motorista, ter o respeito pela sinalização, e a Guarda faz o papel dela de autuar o infrator. O que precisa no trânsito de Campos é mais respeito. Seja em motoqueiro que não respeita a sinalização, do pedestre que não atravessa na faixa, e do ciclista que desce na contramão ou deixa de andar na faixa que foi feita para ele”, afirma.

Mesmo com a adesão popular ainda em construção, o presidente do IMTT afirma que Campos está alinhada com boas práticas de gestão adotadas por cidades como São Paulo e Curitiba, onde a tecnologia tem melhorado a mobilidade urbana. Diante dos bons resultados, a Prefeitura já estuda a ampliação do sistema para outras regiões da cidade.

“Os investimentos em tecnologia continuarão ao longo de 2025, com o objetivo de ampliar o sistema e tornar Campos uma referência em mobilidade urbana inteligente na região”, complementa Álvaro.