Em coletiva de imprensa, na manhã desta terça-feira (1º), na sede da 6ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), em Campos dos Goytacazes, a Polícia Civil confirmou que os assassinatos de Inaila de Oliveira Freitas, de 37 anos, Antônio Carlos Teixeira, de 45, foram planejados pelo filho mais velho do casal, de 14 anos, com a ajuda de sua namorada virtual, também uma adolescente, de 15 anos, natural do Mato Grosso. Ambos estão apreendidos. O assassinato do irmão de 3 anos, no entanto, teria sido uma decisão tomada de última hora.
Segundo o delegado Carlos Augusto Guimarães, titular da 143ª Delegacia de Polícia de Itaperuna, que participou da coletiva, o crime que chocou a região teve dois motivos: o fato de os pais terem proibido o adolescente de viajar para ver a namorada e também por ganância.
Ainda segundo o delegado, em depoimento, o jovem se referiu aos pais como “seres nojentos”. O adolescente afirmou também que não nutria qualquer tipo de afeto pelos pais, e que matá-los seria uma questão de tempo.
Polícia conclui investigação e aponta premeditação
A Polícia Civil de Itaperuna concluiu a investigação sobre o assassinato de um casal e de uma criança de sete anos, ocorrido no último dia 21. O principal suspeito, um adolescente de 14 anos, confessou o crime e está apreendido. Segundo o delegado Carlos Augusto Guimarães, titular da 143ª Delegacia, a investigação identificou que o triplo homicídio foi premeditado e teve o envolvimento direto da namorada virtual do adolescente, uma jovem de 15 anos, apreendida em Mato Grosso, na cidade de Água Boa.
“Em menos de uma semana, conseguimos definir as duas autorias e reunir materialidade robusta. Não estamos aqui para expor identidades, mas para prestar contas à sociedade e alertar pais sobre riscos como armas em casa, jogos e redes sociais violentas”, afirmou Guimarães.
A polícia destacou a colaboração da Polícia Civil do Mato Grosso, onde a jovem foi localizada. A mãe da adolescente permitiu acesso ao notebook utilizado pela filha, incluindo senhas e conteúdos que haviam sido apagados no celular do rapaz. O material analisado revelou mensagens que, segundo o delegado, indicam não só a participação da garota no planejamento e incentivo do crime, como também seu envolvimento na tentativa de acobertamento dos fatos.
“Foi um crime com motivação dupla: o descontentamento do adolescente com os pais por proibirem a viagem até o Mato Grosso, e a ganância. Ele falava em vender o carro por 60 mil reais e a casa da família por 300 mil”, explicou Guimarães.
Os adolescentes também teriam se influenciado por um jogo de terror psicológico que retrata irmãos incestuosos que matam os pais. Embora não tenham jogado, segundo a investigação, ambos acompanharam vídeos sobre o conteúdo nas redes sociais e demonstraram identificação com os personagens. O perfil usado pela adolescente no Instagram para se comunicar com o namorado era “John Wick”, nome do personagem fictício de filmes de ação e violência extrema.
Em conversas analisadas, o adolescente chamou os familiares de “seres nojentos”, disse não ter afeto por eles e afirmou que “matá-los era questão de tempo”. Havia planos para queimar ou esquartejar os corpos, e a cisterna da casa foi utilizada para ocultá-los. “Houve planejamento, atos preparatórios, execução e tentativa de cobertura para ocultar os crimes”, detalhou o delegado.
A adolescente teria exigido provas de que o crime estava em andamento e ameaçado romper o relacionamento caso o namorado não viajasse para encontrá-la. “Houve chantagem emocional clara. Ela o induziu, incentivou e cobrou ação direta”, afirmou Guimarães.
A delegada e coordenadora do 6º Departamento de Polícia de Área (DPA), Natália Patrão, que acompanhou a coletiva, fez um alerta sobre a influência do ambiente virtual em crianças e adolescentes. “Jogos, redes sociais e bolhas digitais normalizam a violência. O cérebro adolescente ainda está em formação e a exposição contínua pode insensibilizar a mente para o sofrimento humano. Muitos pais não monitoram o conteúdo que seus filhos consomem ou com quem conversam”, disse.
Natália lembrou ainda que há conteúdos incentivando mutilação, suicídio e violência extrema circulando livremente em plataformas como Instagram, TikTok e Discord. “Temos um caso de extermínio familiar que começou com um relacionamento virtual de seis anos sem supervisão. Isso precisa nos levar à reflexão sobre o papel do adulto na mediação da vida digital dos filhos.”
A delegada também citou como exemplo a aprovação de uma lei na Austrália, em 2024, que proibiu o uso de redes sociais por menores de 16 anos. “Hoje, no Brasil, a única barreira é a autodeclaração de idade”, ressaltou.
Ao ser questionado sobre a legislação vigente, Carlos Augusto Guimarães defendeu o aumento do tempo máximo de internação para adolescentes autores de crimes hediondos. “Hoje, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece até três anos. Não defendo redução da maioridade, mas que casos como este possam ter medidas compatíveis com a gravidade. A sociedade precisa discutir com seriedade essa questão”, disse.
A internação provisória dos dois adolescentes já foi determinada pela Justiça. A jovem, por residir em outro estado, cumprirá a medida em unidade próxima de sua cidade, enquanto o rapaz permanece em internação em local compatível com sua idade. Ambos respondem por ato infracional análogo a triplo homicídio e tripla ocultação de cadáver.
Apreensão de namorada do adolescente em Mato Grosso
A Polícia Civil apreendeu, nesta segunda-feira (30), na cidade de Água Boa, estado do Mato Grosso, a adolescente apontada como namorada virtual do jovem de 14 anos que assassinou os pais e o irmão mais novo em Itaperuna, no Noroeste Fluminense. O crime chocou a região no último dia 21. A jovem é suspeita de ter influenciado o autor a cometer os homicídios.
As vítimas foram identificadas como Inaila de Oliveira Freitas, de 37 anos, Antônio Carlos Teixeira, de 45, e Antônio Freitas Teixeira, de apenas 3 anos. As circunstâncias do crime seguem sob investigação.
Segundo o delegado Carlos Augusto Guimarães, a adolescente foi localizada e apreendida após o cumprimento de um mandado judicial. Durante o depoimento, ela teria admitido que trocava mensagens com o adolescente enquanto os assassinatos ocorriam.
A Polícia trabalha com duas linhas principais de investigação. A primeira é a de que o adolescente teria cometido os crimes em represália aos pais, que o haviam proibido de manter o relacionamento online. A segunda hipótese envolve uma possível motivação financeira: o interesse no saque do FGTS do pai, estimado em cerca de R$ 33 mil.
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