Rodrigo Lira – Doutor em política, professor e pesquisador do programa de doutorado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Candido Mendes – Em tempos de agendas lotadas e produtividade a qualquer custo, é comum ver pessoas e empresas planejando obsessivamente metas, resultados e crescimento. Mas um aspecto essencial da vida — e também dos negócios — tem ficado em segundo plano: a qualidade das relações humanas.
Uma das pesquisas mais longevas do mundo, o Estudo sobre o Desenvolvimento Adulto realizado na universidade de Harvard, indica que o principal fator de felicidade e bem-estar não está no saldo bancário nem nos títulos profissionais, mas na profundidade das conexões que cultivamos. Relações saudáveis com família, amigos, colegas de trabalho e comunidade são determinantes para a saúde física e emocional. A solidão, ao contrário, tem efeito devastador — comparável ao de vícios como o alcoolismo ou o tabagismo.
No ambiente empresarial, isso também se reflete. Equipes com vínculos de respeito e confiança têm mais engajamento, entregam melhores resultados e lidam com mais resiliência frente aos desafios. Uma empresa pode até crescer em faturamento, mas, se internamente estiver desconectada, com profissionais desmotivados e líderes ausentes, o colapso é questão de tempo.
A grande provocação é: o que estamos priorizando? Pode parecer eficiente fechar contratos, alcançar metas e manter o fluxo financeiro em dia, mas se isso custa o distanciamento de quem amamos ou o esvaziamento das relações dentro da empresa, talvez seja hora de rever a rota.
Estratégia, nesse contexto, precisa ir além de planilhas e projeções. Planejar com propósito é tomar decisões conscientes sobre onde investir tempo, energia e afeto. É compreender que resultados duradouros são sustentados por vínculos sólidos e verdadeiros — com clientes, com equipes e com as pessoas que compõem nossa história.
Ao final da vida, poucos lembrarão de relatórios ou metas batidas. O que permanece são as histórias que vivemos com quem importava de verdade. Talvez o maior ato estratégico seja viver de forma a ser lembrado, não pelas conquistas materiais, mas pelas conexões que cultivamos ao longo do caminho.
*Artigo elaborado com base na palestra de mesmo nome proferida pelo professor Rodrigo Lira no Start Now – Encontro de Empresários.
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