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Desafios do novo trabalho na era da IA

Incertezas do mercado de trabalho diante das IAs entram na pauta do 1º de Maio

Especial J3
Por Leonardo Pedrosa
27 de abril de 2025 - 0h01
Revolução|Enquanto algumas profissões ganham reforço da IA, outras estão sendo substituídas por assistentes virtuais (Foto: Silvana Rust)

O trabalho está passando por mais uma revolução, agora movida por códigos e aprendizado de máquina. A inteligência artificial (IA), capaz de simular o raciocínio humano, impacta profissões, cria novas carreiras e levanta dúvidas éticas e jurídicas.

A IA permite que máquinas realizem tarefas que, tradicionalmente, exigem o uso da inteligência humana. A IA pode aprender, resolver problemas e reconhecer padrões. Exemplos são os assistentes virtuais como a Alexa, ferramentas como o ChatGPT e DeepSeek, que vão de simples resumos de texto a diagnósticos médicos.

A Inteligência Artificial está presente em diversas áreas do cotidiano atual: nos corretores ortográficos, nos apps de entrega, nas linhas de montagem de carros e até em sites que imitam o trabalho de designers. Essa tecnologia molda setores, trazendo uma revolução silenciosa, mas impactante.

Assim, a IA causa mudanças no mercado de trabalho. Algumas pesquisas, como as realizadas pela consultoria Accenture, sugerem que a IA pode criar mais empregos do que destruir. A empresa estima que a IA poderá aumentar a produtividade em até 40% e contribuir com um crescimento de US$ 14 trilhões no PIB mundial até 2035.

Esse potencial de crescimento traz uma transformação radical em diversos setores. Porém, profissões como motoristas de transporte, com os carros autônomos, e atendentes de telemarketing, que estão sendo substituídos por assistentes virtuais, sentem efeitos contrários desta mudança. No setor financeiro, funções de analistas e operadores estão sendo automatizadas com o uso de tecnologia.

O futuro do trabalho em tempos de IA
Com o 1º de Maio, Dia do Trabalhador, se aproximando, a pergunta que paira no ar é: como ficará o mercado de trabalho com o crescimento das IAs? É um fato que, enquanto algumas profissões podem sofrer uma transformação, muitas outras estão sendo criadas para atender à demanda por novas habilidades.

Henrique da Hora

Como ressalta o engenheiro Henrique da Hora, presidente da TEC Incubadora, “a Inteligência Artificial, bem como qualquer outra ferramenta que surgiu na história da humanidade, sempre vem para transformar o trabalhador”, diz o engenheiro, que completa:“Sou relutante ao achar que tecnologias vão substituir o trabalhador, porque ao longo da nossa história esse debate sempre foi [presente]. Conseguimos nos tornar mais fortes e mais produtivos com os maquinários da primeira, segunda, terceira e agora, quiçá, a quarta Revolução Industrial. A IA pode fazer um tipo de trabalho, mas a criatividade humana é insubstituível”.

Joelma Alves

A IA está transformando a forma como se ensina e se cria nas áreas do design e do jornalismo, por exemplo. Joelma Alves, professora de design e coordenadora do curso no Instituto Federal Fluminense (IFF-Centro), reconhece o potencial da tecnologia, mas alerta para os riscos da superficialidade e da perda de identidade visual nos projetos.

“A inteligência artificial tem, sem dúvida, impactado profundamente a maneira como projetamos, criamos e ensinamos. É inegável o potencial da IA na democratização das ferramentas de design. Hoje, estudantes e profissionais têm acesso a recursos que antes exigiam horas de trabalho técnico, como: geração de imagens, testes de usabilidade e prototipagem rápida. Tudo isso agora pode ser feito em poucos cliques. Por outro lado, essa facilidade também traz desafios. O risco da repetição, da superficialidade e da perda de identidade nos projetos é real. Acredito que este é um momento propício para repensarmos o design de forma mais ampla, levando em conta questões éticas, de inclusão e impacto social”, afirma. Ela acredita que é crucial formar designers capazes de usar a tecnologia de maneira ética e com um propósito maior.

Marcos Curvello

Já Marcos Curvello, jornalista e professor do curso na UNIFLU, em Campos, vê a IA como uma ferramenta útil, mas não substitutiva do trabalho jornalístico. Ele ressalta que a IA pode auxiliar em atividades específicas, como análise de grandes volumes de dados e transcrição de gravações, mas não pode substituir a apuração e a redação jornalística. “A IA, como é hoje, não pode prescindir nem substituir o jornalismo. Ela é treinada a partir de conteúdo jornalístico, mas permanece incapaz de apurar, entrevistar e dar tratamento final ao texto jornalístico conforme a linha editorial de um veículo e as boas práticas da profissão. No jornalismo, penso que a IA deve ser empregada como uma espécie de assistente. Seu conteúdo sempre deve ser revisado por profissionais para garantir que a informação dada é correta e está de acordo com a apuração feita”, opinou.

Ambos os professores concordam que a adaptação aos novos sistemas é inevitável, mas deve ser feita com bom senso. Joelma enfatiza que a adaptação à IA no design deve ser crítica e contextualizada, enquanto Curvello acredita que, no jornalismo, a regulação e o uso consciente da IA são fundamentais para preservar a qualidade do trabalho e a ética da profissão.

As respostas dos dois educadores mostram um panorama comum: a IA tem grande potencial, mas seu uso precisa ser equilibrado, como ferramenta, e não como forma de substituir a criatividade humana.

Luiza Coutinho

Quem responde pela inteligência artificial?
À medida que a IA avança, surge a necessidade de um debate sobre os riscos legais e as implicações dessa tecnologia nas diversas profissões. A advogada e especialista em direito digital Luiza Coutinho, autora do livro “Riscos em sistemas de Inteligência Artificial: definição, tipologia, correlações, principiologia, responsabilidade civil e regulação” destaca que a IA traz desafios no campo jurídico.

“As principais matrizes de riscos apresentados por sistemas de Inteligência Artificial envolvem os danos, reais e potenciais, aos direitos humanos. A responsabilidade pelo uso indevido da IA é um tema ainda em aberto, com especialistas debatendo se o responsável será o desenvolvedor, o usuário ou o fabricante. Além disso, questões como autoria de obras criadas por IA e a violação de direitos autorais também geram discussões. A regulação deve ser baseada nos riscos dos diferentes tipos de IA, com foco na proteção dos grupos mais vulneráveis”, afirma.

Nesse contexto, a advogada acredita que a ascensão da IA não é uma questão de retroceder, mas de se adaptar a um novo cenário: “Um relatório do Fórum Econômico Mundial, divulgado no mês de janeiro de 2025, trouxe uma estimativa de que 41% das organizações globais reduzirão suas forças de trabalho até 2030. Apesar disso, não acredito que seja adequado falarmos em proteção contra a IA, mas sim em compreensão de que os pedidos de moratória de desenvolvimento dessas tecnologias são falaciosos e de que não existe como retrocedermos tecnologicamente”, explicou.

Diante de tantas transformações, profissionais alertam para a necessidade de ampliar o debate sobre o tema. Especialistas concordam que o desafio está em encontrar o equilíbrio: permitir que a inteligência artificial seja uma aliada. Afinal, a reformulação do trabalho não é apenas sobre tecnologia, mas sobretudo de escolhas humanas.

“A IA nos força a pensar sobre o que é essencialmente humano no trabalho. Não se trata apenas de substituir tarefas, mas de reavaliar o valor do pensamento crítico, da empatia e da criatividade”, disse Curvello.