Ela tem apenas 30 anos e acumula diversas graduações, entre elas Engenharia de Petróleo e Pedagogia. Desde o ano passado, assumiu a direção do Sest Senat de Campos, responsável pela preparação técnica, física e psicológica de motoristas em todos os níveis em 22 municípios das regiões Norte e Noroeste.
Fala com entusiasmo sobre os cursos e o super simulador de direção do sistema em Campos. Para se ter uma ideia de quem está no comando, ela é capaz de operar retroescavadeira, guindaste, tratores, ônibus e caminhões. Tudo isso sem nunca ter perdido um ponto na CNH.
O Sest Senat em Campos tem como um dos objetivos cuidar da saúde e da qualificação dos condutores. Ao mesmo tempo em que cuida da saúde física, cuida também da saúde mental. Como é isso?
Então, realmente, pensando nisso, o SEST SENAT nasceu há 31 anos de forma nacional para atender ao trabalhador do transporte. A gente diz que o sistema é a segunda casa desse trabalhador. Entendemos que, para um trânsito seguro, isso é necessário. O motorista no trânsito precisa estar bem, tanto na parte psicológica quanto na parte física. Pensando nisso, na área da saúde, temos psicólogos que podem atender tanto presencialmente quanto online. Temos dentistas, nutricionistas e fisioterapeutas. Essas são as quatro especialidades diretamente ligadas à saúde física e mental desse trabalhador. Mas, na área da saúde, a gente entende que é tudo multidisciplinar. Então, temos a parte de esporte e lazer.
O esporte e, principalmente, o lazer fazem parte desse processo. O espaço foi pensado também para isso?
Temos uma piscina semiolímpica, uma quadra poliesportiva, tudo com atividades que o trabalhador pode utilizar. Todos os serviços são 100% gratuitos para esses trabalhadores. Além disso, temos a área de lazer, com churrasqueira, campo de futebol, tudo que pode ser utilizado por eles também junto à família.
O atendimento é regional?
Atendemos todo o Norte e Noroeste Fluminense, sendo essa nossa área de abrangência. Após Campos, temos como unidade próxima a de São Gonçalo, na área metropolitana do Rio de Janeiro.
A demanda de trabalhadores desse segmento de transporte é sempre crescente?
Sempre. Temos muito orgulho de atender cada vez mais esses motoristas, seja do transporte de passageiros ou do transporte de cargas. Atendemos também ao transporte alternativo, aqui em Campos, com motoristas de vans, taxistas. Motoboys e mototaxis também poderão ser atendidos em breve. E nos orgulhamos muito de atender não só a esses trabalhadores, mas também às suas famílias. O que chamamos de dependentes — cônjuges ou filhos até 21 anos — também têm direito à nossa estrutura. Alguns serviços são 100% gratuitos para eles, e outros exigem o pagamento de uma taxa bem baixa, se comparada com o segmento particular.
Quando um profissional de transporte chega ao pico do estresse, existe algum procedimento clínico de reabilitação?
Isso é um pouco raro, porque muitas vezes ele procura primeiramente a empresa. A empresa precisa nos procurar para solicitar esse apoio. Mas já tivemos casos, sim, como motoristas com alcoolismo. E aí a gente trata, junto com nossos psicólogos, fazendo atividades não só individuais, mas também em grupo. Nossos psicólogos podem ir até a empresa para trabalhar esses pontos. Falo que é raro a gente chegar nesse pico de estresse para ter um atendimento, porque a prioridade é evitar, se antecipar ao problema.
Soube que, na linha de cursos, vocês contam até com simuladores. Como é isso?
Como falamos, focamos muito na área de qualificação. Entendemos que, para que o motorista consiga executar melhor o seu trabalho, ele precisa ter em mente o Código de Trânsito Brasileiro e todas as normas que envolvem esse segmento, dentre elas o simulador. Temos um simulador híbrido de direção, que é um equipamento grande. Ele fica realmente só na nossa unidade, pois a logística para levá-lo para outros locais não é recomendável. Esse equipamento simula a direção de caminhão, ônibus e van. Ele é capaz de simular diversas situações, como sonolência, alcoolemia e até falha mecânica no veículo. Ali é a hora realmente do motorista entender como está agindo no trânsito. O simulador aponta as infrações e o uso do combustível. Então, é uma ferramenta muito importante, tanto para o motorista quanto para a empresa contratante.
E o treinamento desses profissionais em se tratando de relações humanas?
Sim. Dentro da resolução 789, que é do Contran, que seguimos para a qualificação dos motoristas profissionais, há cursos diferentes para cada tipo de condução: transporte de passageiros, transporte de produtos perigosos, transporte escolar, veículos de emergência. Sabemos que cada um lida com um tipo de público. Dentro de cada um desses cursos, existe a matéria de relacionamento interpessoal ou educação social, onde realmente é necessário que eles compreendam como lidar com um conflito, com uma situação adversa, que pode não ser só do veículo, mas também humana e psicológica. Tudo isso também é tratado dentro dos cursos.
E a questão dos motoristas de carros de aplicativos?
Está no nosso radar também. Temos cursos, entre eles o de primeiros socorros, entre outros. Primeiros socorros, porque nunca se sabe o que pode acontecer no trânsito, qualidade no atendimento ao cliente, porque, a partir do momento que alguém acessa o veículo deles, é um cliente. Outro exemplo é o curso de direção defensiva.
Campos tinha um trânsito um pouco estressado, por mil motivos. Vocês são chamados para opinar no trânsito?
Estamos cada vez mais estreitando os laços com o INTT desde a gestão passada. Já realizamos muitas ações em conjunto, voltadas para a conscientização. Fazemos campanhas ao longo do ano, como no Maio Amarelo e na Semana Nacional do Trânsito, para conscientizar os motoristas sobre essa importância. Este ano, já estamos estreitando os laços com a nova gestão, para que possamos participar mais desse processo de análise do trânsito e de como podemos contribuir com nosso conhecimento. Tudo partindo do princípio de que é necessária a conscientização, é necessário trabalhar a educação, porque acreditamos muito que essa é a principal ferramenta para um trânsito melhor.
Vocês são ligados ao Sistema S. Explica isso?
Muitas pessoas pensam que somos colaboradores contratados, uma empresa pública. Mas nós administramos verbas que recebemos de contribuição compulsória das empresas que têm o KINAI da atividade principal no CNPJ de transporte. Então, na folha de pagamento dessas empresas já sai essa contribuição para o sistema. Administramos essas verbas, prestando contas ao Tribunal de Contas da União e aos órgãos reguladores, para que possamos realmente oferecer esse serviço de volta à população.
E o público feminino? Tem muita mulher se profissionalizando na arte de dirigir?
Sim. Temos um curso voltado para mecânica básica para mulheres. As mulheres que, às vezes, acabaram de adquirir o veículo e têm interesse em entender mais têm esse curso. Temos vários cursos. E quero deixar um exemplo: eu sou operadora de trator, operadora de guindaste, retroescavadeira. Acredito muito que a mulher realmente pode fazer qualquer curso.
Como são os cursos?
Além da área voltada para o profissional do transporte, temos cursos técnicos, como segurança do trabalho, logística e administração. Oferecemos cursos de marketing, produtividade, desenvolvimento de lideranças, português, matemática, tudo com uma equipe multidisciplinar para trabalhar esses pontos.
Por conta das duas BRs que cortam a cidade, Campos entrou na lista de alerta sobre a prostituição infantil nas estradas. Como lidar com isso?
Exatamente. São feitos estudos pela PRF junto à instituição chamada Childhood e, por causa disso, a PRF entrou nesse projeto, que é o chamado projeto Proteção, onde trabalhamos como unidade protetora no enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes. Nosso papel é conscientizar a população. Nosso contato é com os adultos para que eles entendam o que devem ou não fazer e, principalmente, sobre o canal de denúncias, que é o Disque 100. Estamos, principalmente desde o ano passado, trabalhando arduamente para conscientizar todos sobre os cuidados que precisam ter com as crianças e adolescentes.