A recente alta do dólar e as incertezas sobre a inflação e a economia global levaram o Banco Central (BC) a aumentar novamente os juros. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, fixando-a em 13,25% ao ano. A decisão, já esperada pelo mercado financeiro, havia sido antecipada pelo BC na reunião de dezembro.
Em comunicado, o Copom destacou que as incertezas externas, especialmente nos Estados Unidos, geram dúvidas sobre a postura do Federal Reserve (Fed). No cenário interno, o BC afirmou que a economia brasileira segue aquecida, com inflação acima da meta, incluindo os núcleos do índice que excluem itens voláteis como alimentos e energia. Além disso, preocupam as incertezas sobre os gastos públicos e seus impactos nos preços dos ativos.
“O comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas”, informou o texto oficial.
Para as próximas reuniões, o Copom confirmou que elevará a Selic em mais 1 ponto percentual na reunião de março. No entanto, não garantiu novas altas em maio, afirmando que avaliará o comportamento da inflação antes de definir os próximos passos.
Essa é a quarta alta consecutiva da Selic, que atinge agora o maior patamar desde setembro de 2023. A decisão do BC reforça o ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro do ano passado, com sucessivos aumentos da taxa de juros.
Inflação em foco
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para conter a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em dezembro, o IPCA registrou alta de 0,52%, pressionado pelo aumento dos preços de alimentos, como carnes e frutas, apesar da manutenção da bandeira verde nas contas de energia elétrica.
Com esse resultado, o acumulado da inflação em 2024 atingiu 4,83%, acima do teto da meta do ano anterior. Pelo novo sistema de metas contínuas, que entrou em vigor este ano, o BC deve perseguir um centro de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, situando o intervalo entre 1,5% e 4,5%.
O último Relatório de Inflação do Banco Central, publicado em dezembro, projetava que o IPCA terminaria 2025 em 4,5%. No entanto, as previsões do mercado financeiro são mais pessimistas. O Boletim Focus, que compila expectativas de analistas econômicos, aponta que a inflação pode fechar o ano em 5,5%, acima do teto da meta.
O Copom também atualizou suas próprias projeções, estimando que o IPCA chegará a 5,2% em 2025 e a 4% no acumulado de 12 meses até o terceiro trimestre de 2026. A previsão foi revista em relação à reunião de novembro, quando a inflação projetada era de 4,5% para 2025.
Impacto no crédito e na economia
O aumento da Selic afeta diretamente o crédito, tornando-o mais caro e reduzindo o consumo e a produção. Essa estratégia ajuda a conter a inflação, mas também dificulta o crescimento econômico. Apesar disso, o Banco Central elevou sua projeção de crescimento do PIB para 2,1% em 2025, enquanto o mercado financeiro estima um crescimento de 2,06%.
A Selic é a taxa de referência para negociações de títulos públicos e influencia as demais taxas de juros da economia. Quando elevada, encarece o crédito e incentiva a poupança, ajudando a reduzir a demanda e controlar os preços. Por outro lado, a redução da Selic estimula o consumo e o investimento, mas pode comprometer o controle da inflação. Assim, o BC precisa avaliar o cenário econômico com cautela antes de decidir por novos cortes ou aumentos nos juros.
Fonte: Agência Brasil